Cruzeiro

DA ARQUIBANCADA

Uma noite para ser mágica

Na sua preleção, Mano Menezes deixará de lado o processo de atleticanização tática pelo qual passamos, onde se joga por contra-ataques; comemora-se empates e se espera raça onde deveria haver futebol. O comandante pedirá alma de La Bestia Negra, do Rei de Copas temido e imbatível. Uma squadra azurra forjada em títulos.

postado em 26/07/2017 09:00 / atualizado em 22/12/2017 15:03

Jogos nas noites de meio de semana sempre tinham um ritual. Sair cedo de casa com a camisa do Cruzeiro debaixo do uniforme. Na mochila, a bandeira ia dobrada. O olhar atento ao relógio para não perder a carona marcada em algum ponto da procissão azul que tomava conta das avenidas de Belo Horizonte. 

Na década de 1990, era essa a rotina cruzeirense. Seja para disputar título, reverter mata-mata ou aplicar uma sonora goleada dignadas fabulosas manchetes do Diário da Tarde. 

Muitas destas noites tinham pela frente o poderoso Palmeiras. Assim como nós, nascido Palestra e forjado no futebol de classe. Inesquecíveis embates entre as duas academias do esporte bem jogado. Eram retas e finais de copas do Brasil e Libertadores. Vencíamos umas e perdíamos outras. Em todas elas, parávamos a maior parte de Minas Gerais. A outra, menor, mantinha-se fria, na Era do Gelo, à espera do próximo Campeonato Mineiro.

Mas hoje não é só dia de Copa do Brasil, de Cruzeiro versus Palmeiras, de Mineirão lotado ou de coração batendo de ansiedade dentro do manto azul. É o momento de voltar no tempo para reencontrar o rumo certo da história. A oportunidade ideal para esquecer a dificuldade da atual equipe de ser imbatível, como deve sempre ser o Cruzeiro.

Para isso, tudo precisa começar diferente e mágico. O roupeiro entregará camisas que cobrem postura de cada jogador. Quem receber a “2”, lerá “Nelinho”. Na “5”, Piazza. A “6”,manchada de sangue, “Sorin”. Na “10”, gravado um impávido “Dirceu Lopes”. Vão se desdobrar Fantonis, Tostões, Palhinhas, Nonatos, Didas e Marcelos. 

No caminho do estádio, jogadores silenciarão iphones e pagodes. Os bonés de abas largas irão sobre as pernas, em sinal de respeito à instituição. Ao se aproximarem do Mineirão, olharão pela janela do ônibus e mergulharão suas honras pessoais no mar azul de sinalizadores, vozes e cruzeirenses apaixonados que estarão lá para recebê-los. Irão se sentir responsáveis e motivados diante do significado da expressão “China Azul”.

Ao entrarem no vestiário e abrirem seus armários, irão se deparar com um provérbio vindo também do país dos bilhões, criado pelo filósofo chinês Confúcio: “respeita-te e os outros te respeitarão”.

Na sua preleção, Mano Menezes deixará de lado o processo de atleticanização tática pelo qual passamos, onde se joga por contra-ataques; comemora-se empates e se espera raça onde deveria haver futebol. O comandante pedirá alma de La Bestia Negra, do Rei de Copas temido e imbatível. Uma squadra azurra forjada em títulos.

Nas arquibancadas, nossos gritos serão guiados pelo ensinamento de Raul Plassmann: “a torcida que pede raça tem um time que não lhe oferece nada”. Nessa noite, voltaremos a pedir “mais um”. 

Não iremos celebrar uma história de um dia só. Daremos mais uma noite de alegria ao nosso Mineirão, estádio cujo qual nunca abandonamos. 

Se tudo isso ocorrer, se cada um fizer a sua parte nessa noite mágica, voltaremos a ser Cruzeiro, pois a história não mente.

Tags: Gustavo Nolasco mineirão cruzeiroec interiormg copadobrasil daarquibancada