Basquete

NBB

Fôlego e motivação de estreante

A caminho do 14º título, técnico do Uberlândia explica longevidade e motivos do sucesso

postado em 31/05/2013 09:02 / atualizado em 31/05/2013 09:11

Alexandre Guzanshe EM DA PRESS
Aos 73 anos, o incansável Hélio Rubens pode chegar amanhã à impressionante marca de 14 títulos brasileiros. Com mais de meio século de contribuição ao basquete – estreou nos profissionais do Franca em 1958, clube que jogou até 1982, quando assumiu a prancheta por mais 19 anos –, ele tem quatro troféus como jogador e nove como treinador, por Franca, Vasco e o próprio Uberlândia, time que comanda amanhã contra o Flamengo, às 10h, na Arena da Barra, no Rio, na decisão do Novo Basquete Brasil (NBB). Apesar do currículo invejável, o francano prefere olhar para frente. Com a disposição e vibração que tornaram marcas pessoais, ele explicou ao Estado de Minas, por telefone, o que o motiva a cada dia. “Se você viver intensamente o presente, você não para de crescer”. Adepto dos conceitos defensivos, Hélio também falou da cidade que o acolheu, criticou a decisão em jogo único, e evitou apontar um favorito na finalíssima. “Estamos tranquilos e motivados e vamos dificultar ao máximo a vida deles.”

O que ainda o motiva após mais de meio século de conquistas?

Não tem segredo. Minha motivação é viver intensamente o presente, o dia a dia dos treinos, dos jogos, para não parar de crescer. Fazendo isso, você aprende a avaliar melhor cada situação e a ter humildade de reconhecer os erros.

Você foi campeão como jogador e treinador. As emoções são diferentes?

É a mesma sensação, pois cada vitória pertence ao grupo. Sempre aconselhei meus jogadores sobre isso: um time precisa ter consciência coletiva, personalidade coletiva, todos têm responsabilidade pelas vitórias e derrotas.

E essa consciência coletiva reflete nas ações em quadra...

Exatamente. Esperamos que isso faça diferença na decisão. Todos os atletas são muito comprometidos, disciplinados e pensam no melhor para a equipe. Além disso, tem a motivação, a descontração, a alegria de jogar basquete.

Com duas passagens por Uberlândia, você já se tornou um pouco mineiro?

Me sinto em casa aqui. Tenho duas filhas que moram na cidade e não pensei duas vezes em aceitar o convite do Wellington (Salgado, presidente do clube), quando me chamou para voltar.

Apesar de treinar um time de forte arsenal ofensivo, você sempre foi um treinador de conceitos defensivos.
Os conceitos mais modernos no basquete, atualmente, são de defesa. Há 50 anos, eu tive um técnico que gritava na beira da quadra: ‘não deixa pensar’, e eu achava que ele era louco. Hoje, o que eu prego é ‘não deixa jogar’. Ou seja, ele estava certo.

E o basquete mudou muito da sua estreia (1958) até agora?

Antes não tinha linha de três pontos, relógio de 24 segundos. Hoje você tem que arremessar mais cedo, com mais chance de erro, e os placares são menores. Por isso, esse conceito de não deixar jogar, de provocar o improviso, tirar o adversário da condição favorável é fundamental, pois você recupera a bola e tem mais tranquilidade de atacar. Hoje, na hora de contratar, a maioria dos técnicos perguntam: ‘quais as características defensivas deste jogador?’ Eu sou um exemplo. Como eu, com esse corpo, cheguei à Seleção Brasileira com 14 anos? É porque eu marcava muito bem.

E é com essa consciência que o Uberlândia espera superar o Flamengo?

O conceito é dificultar ao máximo a vida deles. Nos 10 dias que tivemos de treinos, não fizemos mudanças no modo de jogar, no planejamento tático. Apenas treinamos algumas opções defensivas.

Tem favorito na decisão?

Ninguém é favorito por antecipação, tem que mostrar no jogo quem é melhor, senão, não ganha. Existe um equilíbrio entre as equipes e vai depender muito do desempenho individual, de como o time vai se portar na casa do adversário. Além do mais, a decisão é em jogo único, o que é inadmissível. Vamos ver se isso muda para os próximos anos... Mas temos que cumprir o regulamento e estamos preparados.
Marcos Ribeiro/Correio de Uberlândia


Tudo para ver o bicampeonato

Quinze horas de viagem, uma noite em claro e um sonho na bagagem: ver de perto o Uberlândia conquistar o bicampeonato brasileiro. Essa é a maratona de cerca de 150 torcedores que vão sair do Triângulo Mineiro hoje, às 17h, e percorrer os 980 quilômetros até o Rio, onde a equipe enfrenta o Flamengo amanhã, às 10h, na Arena da Barra. Eles estão distribuídos em dois ônibus e duas vans, além dos fãs avulsos que decidiram fazer a viagem de carro ou avião.

“Já viajamos quase dois dias para ver o Uberlândia conquistar o título sul-americano, em 2005, na Argentina. Estivemos em todos os títulos importantes da equipe e não poderíamos ficar de fora de mais uma final”, explicou Flaviano Rodrigues, de 36 anos, diretor da torcida Inferno Verde.

Fundada no início da década de 80, a Inferno Verde foi criada para apoiar o Uberlândia Esporte Clube, o Verdão dos gramados, mas passou a incentivar os outros esportes. Com a chegada do basquete, em fins dos anos 90, a torcida se tornou uma das mais presentes do basquetebol brasileiro. Para assistir à equipe em ação contra o rubro-negro, o clube cedeu um ônibus e os próximos torcedores fizeram vaquinha para quitar o outro.

Com direito a festa e gritos de apoio de dezenas de torcedores no aeroporto, o Uberlândia embarcou ontem à tarde para o Rio. Foram três horas de voo até a capital fluminense. Hoje, a equipe faz o treino de reconhecimento na Arena da Barra às 18h. Na partida do turno, as duas equipes se enfrentaram no ginásio do Tijuca Tênis Clube, com triunfo rubro-negro. Para a final são esperados cerca de 15 mil torcedores.

Antes da viagem, pela manhã, Hélio Rubens e o auxiliar técnico Rodrigo Carlos comandaram o último treino no Sabiazinho. O treinador reforçou as orientações defensivas.

LIBERADO
O Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) do basquete liberou, ontem à noite, o pivô Caio Torres, do Flamengo. Ele havia sido suspenso, segunda-feira, pelas confusões no quarto jogo contra o São José, na semifinal. Na decisão, ele vai formar o garrafão com Olivinha.

Hélio Rubens
Garcia Nascimento

» Nascimento
2/9/1940, em Franca-SP

» Clubes
Como jogador: Franca (1958/1981).

Como treinador: Franca (1982/2000 e 2006/2012), Vasco (2000/2003) e Uberlândia (2004/2005 e 2012)

» Principais títulos
Como jogador: Sul-Americano (1974, 1975, 1977), Paulista (1973, 1975, 1976 e 1977), Brasileiro (1971, 1974, 1975 e 1980). Campeão Pan-Americano com a Seleção Brasileira (1971).

Como treinador: Sul-Americano (1990, 1991 e 2005), Brasileiro (1990, 1991, 1993, 1997, 1998, 1999, 2000, 2001 e 2004), Paulista (1988, 1990, 1992 e 1997), Mineiro (2005). Campeão Pan-Americano com a Seleção Brasileira (1999)


E mais...

Poupados
O ala-pivô Luís Gruber e o armador Valtinho não participaram do treino de ontem pela manhã. Gruber sentiu dor num joelho e Valtinho foi poupado por causa de dor no pé esquerdo. Mesmo assim, o técnico Hélio Rubens garante a presença dos dois na finalíssima

Homenagem ao Mão Santa
A torcida do Flamengo prepara uma homenagem ao ala Oscar, que luta contra a reincidência de câncer no cérebro. Um vídeo, chamado Força, Oscar será exibido nos telões do ginásio antes da partida. Ele jogou no
Fla de 1999 a 2003 e foi vice brasileiro em 2000.