postado em 06/07/2014 08:03
/ atualizado em 06/07/2014 08:18
Joachim Löw, amante do futebol-arte, pode entrar para a história como uma espécie de Telê Santana alemão
Marcos Paulo Lima Enviado especial ao Rio de Janeiro
Ele é viciado em esquemas táticos. Quando está próximo de lançar uma nova moda, não tem a mínima vergonha. É capaz de marcar um encontro com o técnico do Bayern de Munique, Pep Guardiola, a fim de adaptar o tiki-taka a uma seleção que tem sete jogadores do clube bávaro. Dar um “crtl c, crtl v” na prancheta alheia e colocá-la em campo em uma Copa também não deixa o técnico encabulado. Lahm, por exemplo, jogou no meio de campo até as oitavas de final e retornou à lateral direita. Assim é Joachim Löw, amante do futebol-arte que pode entrar para a história como uma espécie de Telê Santana alemão – o brasileiro que teve uma geração talentosíssima nas mãos em dois mundiais e não ganhou nenhum, em 1982 e em 1986. Pode ser também com Löw, vice da Euro em 2008 e eliminado nas semifinais tanto no Mundial de 2010 quanto no principal torneio continental, em 2012.
A fama de pé-frio de quem tem como um dos feitos ter “demitido” Felipão da Seleção de Portugal começa a incomodar Joachim Löw. Para se esquivar das críticas, o treinador gosta de comparar a vida real com o mundo virtual. “O futebol não é videogame. Nem sempre é possível jogar bem, ganhar títulos”, disse, na véspera das quartas de final com a França. Na prática, sabe que já desperdiçou quatro “vidas” na tentativa de tirar a Alemanha da fila de 18 anos sem título. A primeira oportunidade desperdiçada foi como assistente do amigo Jürgen Klinsmann, em casa, em 2006. Cinco dos 23 jogadores que estão com ele no Brasil faziam parte do elenco terceiro colocado depois da queda nas semifinais diante da Itália: Lahm, Mertesacker, Schweinsteiger, Podolski e Klose, que já era remanescente de 2002.
O currículo do treinador de 54 anos vive de três títulos: a Copa da Alemanha de 1996/1997 à frente do Stuttgart, quando liderou o centroavante brasileiro Élber, o Campeonato Austríaco de 2001/2002 dirigindo o Tirol Innsbbruck e a Copa da Áustria de 2003 no comando do Áustria Viena. A fama de vice o persegue. Perdeu a final da Eurocopa de 2008 para a Espanha. Antes, refugou na Copa da Liga Alemã, em 1997, com o Stuttgart, e na Recopa da Uefa diante do Chelsea. À época, o time inglês era comandado pelo italiano Gianluca Vialli.
Terceiro técnico com mais jogos à frente da Alemanha, com 110, Löw tem o melhor aproveitamento entre todos os 10 treinadores da história do país – 68,74% –, mas a frieza dos números não garante o lugar dele na história. Sepp Herberger (1954), Helmut Schön (1974) e Franz Beckenbauer (1990) escreveram a história do tricampeonato mundial. Há 24 anos, o país espera que alguém borde a quarta estrela no peito. Coincidências são aliadas do supersticioso técnico. Dois títulos da Alemanha foram em anos com final “4”. Além disso, os países que chegaram ao tetra amargavam uma fila de 24 anos. Campeão em 1994, o Brasil era tri desde 1970. A Itália ganhou a taça em 1982 e só repetiu o feito em 2006.