"Tivemos na última quarta-feira uma vitória épica. Seria uma injustiça trocar o técnico em função de resultado. Não cabe isso. Trazemos a verdade de nossos fatos. Reclamam que é um clube fechado, que não dá atenção à imprensa. É em função disso. Vamos continuar assim", disse o dirigente, que garante estar se cercando com o que existe de melhor no quesito caráter dentro do futebol. "É difícil encontrar hoje no futebol gente com a ética que temos aqui. Queremos gente com nossos propostos de ética, de transparência", emendou.
Ainda com um resquício do discurso de sua antiga função, Autuori defendeu a queda de rendimento do time nas últimas partidas e pede atenção para que a construção de um elenco forte continue sendo priorizada para aguentar a maratona de competições. "Começamos a temporada atingindo nosso objetivo. E tem um preço a pagar por isso quase todas as equipes que estiveram envolvidas na Libertadores, comprometeram outras competições. Por isso, desde o início da temporada, venho falando em preparar uma equipe para toda temporada", afirmou.
O agora ex-técnico confirmou que já deveria ter deixado a função antes do convite para comandar o time, passagem na qual conquistou o Estadual em 2016 e classificou o Furacão para a Libertadores. "Somente o projeto do Atlético Paranaense me fez permanecer um ano a mais como treinador. E tenho uma cobrança de viver as coisas intensamente. E essa rotina do futebol brasileiro, consome. Estou com idade, são 42 anos de futebol. Agradeço o presente de poder começar com uma outra função no futebol. E vou agradecer dando reciprocidade fazendo aquilo que acho importante para o futebol brasileiro. É uma coisa que já estava programada", contou.
Passando o bastão para Eduardo Baptista, Autuori não ficou em cima do muro e criticou a demissão do colega pelo Palmeiras em meio à campanha da Libertadores e acredita que essa será uma chance de dar continuidade ao trabalho iniciado no Verdão. "É o melhor momento para que o Eduardo assuma. É um momento natural. É o momento que achamos ideal para tomarmos essa decisão e sem perda de tempo. Temos uma semana importante para o Eduardo trabalhar, visando também a retomada na Libertadores. E retomar uma injustiça de ter classificado o Palmeiras na Libertadores e dar a continuidade aqui aos objetivos que se propõe", avaliou.
Vida nova como manager
Crítico ferrenho do calendário do futebol brasileiro, da relação entre os clubes e treinadores, da falta de tempo ideal para trabalhar, assim como gramados e estrutura mínimas para desenvolver os atletas, à frente até mesmo das vitórias e conquistas, Paulo Autuori se mostrou cansado do atual quadro. Por isso, acredita que possa junto ao Atlético, com seu projeto de médio e longo prazo, dar um passo importante para alterar o atual estado de coisas.
"O que eu vejo no futebol brasileiro em relação a dirigentes é muito projeto pessoal e pouca preocupação com o clube. Quando vejo nos últimos 20 anos clubes de tradição que não saíram do lugar e o que foi construído no Atlético, me demonstra uma coisa muito grande", disse o manager, reclamando da cobrança excessiva por resultados. "Resultados negativos, todos trabalham para não tê-los. Mas jamais me sentirei envergonhado por maus resultados. Irei se ferir os princípios morais que meus pais me ensinaram e educaram", garantiu.
Aliás, uma de suas principais bandeiras, ou seja, a de dar sequência ao trabalho dos treinadores, evitando demissões por conta de resultados, já é um dos compromissos, a começar por Eduardo. "Conceitualmente me preparei para que, com os treinadores que eu possa vir a trabalhar, é porque nós acreditamos nisso. E se acreditamos e temos convicção, não serão momentos ruins que vão nos fazer mudar radicalmente no meio do caminho", afirmou o ex-treinador.
Sem detalhar demais sua nova função na Baixada, Autuori revelou que deve estar próximo das categorias de base, mas também dando suporte à comissão técnica principal, agindo ainda naquilo que for solicitado nos bastidores. "Estarei aqui para contribuir com o clube como um todo. Já conversamos com o Eduardo e ele é o chefe da banda. Estarei ali para fazer aquilo que senti que não tive, que é o apoio incondicional de quem sabe e quem já esteve dentro do campo. E estarei aqui para contribuir e dar o apoio para que o trabalho do Eduardo seja exitoso", concluiu.