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Uma vida na vertical: nova modalidade olímpica, escalada vem ganhando muitos adeptos no Brasil

Minas tem a melhor área da América Latina para a prática do esporte e o atual campeão brasileiro

postado em 25/09/2016 11:00 / atualizado em 25/09/2016 11:58

Valf (texto e arte)

(Foto: Gladyston Rodrigues/EM)
A realização de atividades verticais, tanto na rocha quanto em práticas indoor, aumenta a cada ano, com um número crescente de adeptos. A escalada conta com uma variada gama de modalidades, que foram criadas e estruturadas dentro de suas próprias características e especificidades (escalada em alta montanha, boulder, bigwall, gelo etc.). Os primeiros rudimentos e as origens como prática esportiva começaram ainda no século 19, na Europa. Montanhistas, buscando aprimorar suas habilidades, começaram a criar treinamentos que pudessem auxiliá-los na melhora do desempenho. Isso levou ao incremento das técnicas de ascensão e ao desenvolvimento de uma série de novos equipamentos.

Com o passar do tempo, a escalada foi se aprimorando e o nível técnico crescendo. Um sistema de classificação começou a ser empregado, ainda na primeira década do século passado, com a finalidade de normatizar os níveis de dificuldade de uma via (percurso realizado na escalada), criando assim um método mais rígido de graduação. Determinada via passaria a ter um grau estabelecido levando-se em conta uma série de fatores, sobretudo a dificuldade de se chegar até o cume.

(Foto: VALF)


As graduações mais usadas passaram a ser a francesa e a americana, tendo o Brasil posteriormente criado sua própria escala. Curiosamente, foram necessários pouco mais de cinco anos para que a primeira grande mudança de nível na escalada ocorresse e mais de meio século para que então uma nova mudança de grau entrasse para os registros.

Com a criação dos muros de escalada, entre os anos 1960 e 1970, foi dado um grande impulso para o esporte. A escalada indoor passou a dar acesso muito mais fácil aos treinamentos necessários para seu desenvolvimento, além do incentivo aos novos participantes. Novamente, tanto a técnica quanto os equipamentos tiveram grande evolução. E as primeiras competições começaram a ser organizadas.

Em meados dos anos 1980, a cidade italiana de Arco foi palco do primeiro campeonato mundial da história, sendo a competição realizada em vias na rocha. Somente na edição seguinte, em 1987, é que os muros artificiais foram empregados na competição. Foi também nessa época que as chamadas estruturas artificiais de escalada chegaram ao Brasil.

Olimpíada
Em 4 de agosto, o esporte foi incluído na lista de modalidades olímpicas para os Jogos de Tóquio’2020. Ao lado de outras quatro estreantes, pela primeira vez a escalada vai integrar, mesmo que de maneira ainda não definitiva, o programa olímpico. Farão parte dos jogos três modalidades: escalada guiada em vias, boulder e velocidade (categoria ainda pouco difundida no Brasil), sendo um total de 40 vagas para a disputa, divididas igualmente entre homens e mulheres.

A maneira como será feita a seleção dos atletas para a competição ainda não foi divulgada. Até agora, o que se tem de mais concreto é a forma de disputa. O modelo apresentado pela International Federation of Sport Climbing (IFSC) aponta para uma reunião das três modalidades. O atleta deverá escalar todas as categorias e a soma dos resultados dará a classificação final. Esse modelo proposto, porém, divide opiniões. Grandes nomes do desporto já se manifestaram contrários a esse tipo de disputa e já colocam em dúvida até a participação em futuras seletivas.

(Foto: VALF)


Melhor do Brasil é das montanhas de Minas


Nascido em uma família de montanhistas, o mineiro Jean Ouriques teve seu primeiro contato com o mundo da escalada aos 10 anos, por influência do irmão mais velho, que havia começado na prática do esporte. Logo, ele e os demais membros da família Ouriques seguiriam os mesmos passos. Passados 20 anos, o que havia se iniciado de maneira até despretensiosa teve agora coroada sua trajetória esportiva com a conquista do Campeonato Brasileiro em duas categorias diferentes. Começando a competir muito cedo, Jean participou de diversos torneios e competições abertas. Campeão em âmbito regional, obteve expressivas conquistas, como o vice-campeonato no Open do Chile, realizado em Santiago, em 2013, uma disputa de nível técnico muito elevada, com participação de atletas de diversas partes do mundo. Foi ainda vice-campeão no Brasileiro de vias em 2010 e obteve outros dois terceiros lugares nos anos seguintes.

Faltava porém o posto mais alto. Após um período sabático de cerca de dois anos fora das grandes competições, Jean aproveitou esta pausa para realizar seus projetos de escalada na rocha. Voltou como route setter (pessoa que cria as vias na competição) no Brasileiro de 2015 e logo depois retornou aos treinos para as competições. “Treino para competir é muito diferente do que para escalar na rocha. É muito mais volumoso e desgastante”, explica.

Em abril deste ano, em Curitiba, foi realizado o Brasileiro de boulder. Com quatro boulders diferentes e tendo quatro minutos para escalar cada um, Jean passou para a final em terceiro lugar, atrás do campeão e do vice do ano anterior. “A palavra principal para mim seria superação”, disse o escalador para definir a competição.

Após uma primeira tentativa frustrante, voltou para a área de isolamento, vendo os adversários ainda mais distantes. Sob pressão, se recuperou e foi o único a conseguir resolver o segundo e terceiro boulders, chegando à última ascensão já em vantagem sobre os demais competidores. “Já treinei mais para o título, já estive melhor, já estive mais forte, mas eu nunca estive tão bem de cabeça e tão experiente”, disse.

Após a conquista do título de boulder, o próximo passo foi a participação no Brasileiro de vias. Realizado em São Paulo, a competição daria a Jean a chance de se tornar o segundo escalador a vencer as duas competições nacionais no mesmo ano. A temporada de escalada na rocha se iniciou e acabou mudando o foco do treinamento específico para competições, o que fez com que a vitória parecesse algo mais distante. “Queria estar entre os três. Queria subir no pódio.” Passando para a final em primeiro lugar, empatado com o então detentor do título do ano anterior, Jean teve que esperar o resultado, juntamente com os outros escaladores. Começando pelo quinto lugar, todos os demais foram sendo chamados e premiados. A decisão foi apertada, decidida por uma agarra apenas. O desejo de subir ao pódio foi concretizado. E em primeiro lugar.

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