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Ginasta mineira luta para conseguir dinheiro para representar Brasil no Sul-Americano

Vitória Guerra, de 15 anos, batalha para conseguir representar o Brasil no Campeonato Sul-Americano de Ginástica, em Ciudad de Pipa, na Colômbia

postado em 30/09/2016 09:03 / atualizado em 30/09/2016 09:11

Há 41 dias era realizada a cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos Rio'2016, o maior evento esportivo do planeta, sediado pela primeira vez em um país sul-americano. Muito se discutiu sobre o investimento que deve ser feito nos atletas brasileiros para alcançar um melhor desempenho no número de medalhas conquistadas.

Em Belo Horizonte, a ginasta Vitória Guerra, de 15 anos, batalha para conseguir representar o Brasil no Campeonato Sul-Americano de Ginástica, em Ciudad de Pipa, na Colômbia, de 4 a 10 de outubro. Com a ajuda dos pais e padrinhos, Vitória conseguiu a vaga com muito esforço na seletiva em Manaus.

Para realizar o sonho da filha e jovem promessa da ginástica brasileira, os pais Ricardo Andrade e Simone Guerra, além dos padrinhos da menina, Marco Antônio e Karina Mourão, conseguiram um patrocinador e têm também a ajuda de amigos. No entanto, ela embarcará na segunda-feira e ainda falta muito dinheiro para estada e hospedagem. Para tentar conseguir o total da viagem foi aberta uma caderneta de poupança em nome de Vitória, sua única chance para viajar.

A luta de Vitória para estar no Sul-Americano começou em janeiro, quando a família recebeu um duro golpe, com a demissão do pai, Ricardo, que é analista de TI. Na época, segundo a mãe, Simone, estava tudo certo para que a jovem ginasta fosse fazer um estágio na Bulgária: “Já tínhamos até comprado a passagem, no final de 2015. Essa compra foi parcelada. O problema da viagem estava resolvido, mas era preciso mais R$ 3.500 para despesas de Vitória lá. Pegamos todas as nossas economias e compramos euros. Mas não era o suficiente”.

A solução, então, segundo Simone, era cancelar a viagem. No entanto, havia o sonho da menina em jogo. “Ligamos para a treinadora da Bulgária, a Nina, que foi muito compreensiva. Explicamos o problema e pedimos para que ela nos ajudasse a resolver a questão da hospedagem e da alimentação da Vitória, que enviaríamos, no máximo até o final de março, o dinheiro necessário”, conta Simone.

A ginasta viajou, mas ficou envolvida com o problema dos pais e a viagem não surtiu o efeito desejado. “Ela foi afetada psicologicamente”, conta a mãe. Mas viria um outro problema a seguir: a disputa do Brasileiro de Manaus, que era a seletiva para a Colômbia. A passagem já estava comprada, novamente em parcelas. Mas faltava ainda o dinheiro da hospedagem. Ricardo e Simone pensaram em cancelar tudo e tirar Vitória do esporte.

EM DA PRESS
Foi quando os padrinhos Marco Antônio e Karina entraram na história. Passaram a ajudar, a sair pedindo para empresas e amigos. Vitória viajou e conseguiu uma das três vagas individuais – as outras são de uma catarinense e uma paranaense. Mas a classificação criava novamente o problema da falta de recursos financeiros para a viagem à Colômbia. E, agora, não era só Vitória. Sua treinadora, Maria Inês Salles, teria de ir junto. Eram duas passagens, no valor de R$ 4,5 mil. Além disso, mais R$ 3,5 mil de hospedagem, alimentação e transporte na Colômbia.

A primeira parte do problema, as passagens aéreas, foi resolvida com a ajuda dos padrinhos Marco e Karina. Eles conseguiram a ajuda de um amigo, Adílson dos Santos, proprietário da Adílson Mecânica Diesel, que bancou os bilhetes.

Para resolver a segunda parte – o dinheiro para estada, alimentação e transporte na Colômbia –, Marco e Karina decidiram, então, abrir uma conta poupança para conseguir os recursos necessários e divulgaram para os amigos pedindo ajuda. Até quarta-feira, tinham conseguido R$ 1,2 mil. Mas eles não desistem, segundo Karina. “Temos mais alguns dias e vamos tentar conseguir o restante.”

Sonho e realidade
Vitória começou a praticar ginástica aos 8 anos. “Eu queria fazer uma abertura de pernas, sem arquear. Era tudo o que pensava. Não sabia, sequer, o que era competir. Agora, que cheguei aqui, quero ir à Olimpíada de Tóquio'2020 e vou fazer de tudo para conseguir.”

Forte como o nome, Vitória treina, normalmente, de sete a oito horas por dia, mas, com a proximidade do Sul-Americano, está treinando 12 horas diárias. Ela conta sobre as dificuldades que passou, como, por exemplo, enfrentar o calor de Manaus, local da seletiva nacional em maio último: “Era demais. Pensava que não conseguiria competir. O calor era tanto que a gente dava dois passos e começava a suar”.

E na caminhada de Vitória, a sua treinadora, Maria Inês, se torna uma pessoa fundamental, pois foi quem a incentivou e quem viu potencial naquela menina de 8 anos. Aliás, Maria Inês tem uma história esportiva impressionante. Ela era baliza do Colégio Anchieta, na abertura dos extintos Jogos da Primavera – competição escolar que era realizada em Belo Horizonte até meados dos anos 70. Depois, abraçou a ginástica artística e chegou à Seleção Brasileira, defendendo o país em várias competições internacionais. Foi Maria Inês quem descobriu e treinou a ginasta Daniela Leite, que integrou a equipe brasileira medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos Rio'2007.

É ela quem incentiva e estimula Vitória, que diz não pensar muito no futuro. “Estou no primeiro ano do ensino médio. Vou terminar essa fase dos meus estudos. Não sei o que vou fazer depois. O certo é que quero, muito, estar nos Jogos Olímpicos”, afirma, com a certeza de que irá vencer a batalha.

PARA AJUDAR
Conta poupança
Banco: Caixa Econômica Federal
Agência: 3311
Operação: 013
Conta: 2399-0