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MERCADO DA BOLA

Há 27 anos, Palmeiras levou a pior ao trocar Neto e Denys por Dida e Ribamar com o Corinthians

Enquanto Neto virou ídolo no Timão, Ribamar acabou não vingando no Alviverde

postado em 28/04/2016 10:59 / atualizado em 28/04/2016 11:15

Cesar Greco/Palmeiras
Anunciada na última terça-feira, a troca entre Palmeiras e Cruzeiro envolvendo os atletas Lucas e Robinho, do Verdão, e Fabiano e Fabrício, da Raposa, não foi o primeiro negócio polêmico no Palestra Itália. Em julho de 1989, há 27 anos, o clube mandou Denys e o então jovem jogador Neto para o rival Corinthians e, em troca, recebeu Dida e Ribamar. Enquanto Neto virou ídolo no Timão, Ribamar não vingou no Alviverde e a negociação ficou marcada como uma das mais frustrantes da história do clube palestrino.

Era 12 de julho de 1989 quando Nicola Racioppi, dirigente de futebol do Palmeiras, e Vicente Matheus, folclórico presidente do Corinthians, entraram em acordo e selaram o negócio. Pouco contente com o desempenho do jovem Neto e do lateral Denys, Racioppi viu uma oportunidade de reforçar a sua equipe sem custos. Pegou o telefone e ligou para o cartola corintiano a fim de mandar os seus dois jogadores ao rival para receber em compensação o atacante Ribamar e o lateral-esquerdo Dida. Com muito sigilo, os dois cartolas fecharam rapidamente a transação.

O Palmeiras já havia tentado contratar o Ribamar alguns meses antes, mas o Corinthians foi na frente e tirou o jogador que pertencia ao Sport. Uma peça chave do negócio foi o técnico do Verdão na época, Emerson Leão, que havia sido campeão brasileiro de 1987 com o atacante no clube pernambucano.

“Eu tinha certeza que o Palmeiras ainda tentaria me contratar. Por isso não fiquei muito surpreso quando soube do negócio. Agora sei que vou jogar dentro das minhas características tendo o Leão como técnico”, lembrou Ribamar na sua apresentação para o jornal Gazeta Esportiva, no dia 14 de julho de 1989.

Leão também teria sido um dos fatores que afastou Neto do Palestra Itália. Sistematicamente, o treinador escalava a então promessa como ponta-esquerda, ao invés da sua posição original na meia-esquerda. Em sua apresentação no clube do Parque São Jorge, também no dia 14 de julho, Neto falou para a Gazeta Esportiva sobre a sua relação com o comandante.

“A minha vinda para o Corinthians me deixa muito feliz, mas triste em relação aos amigos que deixei no Palmeiras. Hoje sou um profissional que vai mostrar que, jogando na minha real posição, pode render muito mais do que já rendeu. Meu único problema com ele [Emerson Leão] era ser substituído em quase todas as partidas, além, é claro, de não jogar na minha posição”, explicou.

O treinador também comentou a sua relação com o jovem atleta e despistou sobre qualquer briga anunciada entre os dois. Ainda assim, julgou que a troca seria vantajosa para os dois times.

“Nada houve em termos de atrito ou coisa assim. Não sei qual a razão desses rumores. O Neto foi trocado pelo Ribamar porque o negócio interessou a Palmeiras e ao Corinthians”, afirmou Leão à Gazeta Esportiva no dia 15 de julho daquele ano.

Com 26 anos, Ribamar já era um atleta rodado. Depois de ser campeão paranaense pelo Pinheiros, jogou pelo Santos em 86 e atingiu o auge da sua carreira na Ilha do Retiro, onde foi campeão brasileiro em 1987 e eleito o melhor jogador do Campeonato Pernambucano do ano seguinte. Neto, por sua vez, ainda era uma grande promessa. Despontou aos 16 anos no Guarani, teve uma breve passagem pelo São Paulo e Bangu, e na volta a Campinas levou o Bugre até a final do Campeonato Paulista de 1988. Foi derrotado pelo próprio Corinthians, mas marcou um golaço de bicicleta no jogo de ida (1 a 1, no Morumbi).

A torcida corintiana se animou desde o princípio com a troca. No treino antes da sua estreia, cerca de 500 torcedores foram ver Neto no Parque São Jorge. A cada gol marcado em cobranças de falta ou bom lançamento feito pelo recém-chegado, os torcedores aplaudiam como se estivessem vendo um jogo oficial.

“No Guarani, só vi algo semelhante na véspera da partida decisiva do ano passado contra o mesmo Corinthians. Só que muitos dos torcedores que foram ao Brinco de Ouro não eram adeptos do Guarani. Aqui não, todos são corintianos”, disse na saída do gramado no dia 21 de julho à Gazeta Esportiva, quando parou para distribuir autógrafos e se aproximar da Fiel.

A estreia de Neto no Timão, dois dias depois, não foi marcante: na vitória por 1 a 0 do Corinthians sobre o Sampaio Corrêa, no Pacaembu, pelo jogo de volta da Copa do Brasil de 1989, o jovem parecia afobado e não brilhou. Acabou substituído por Rizza aos 32 minutos do segundo tempo. Mas o camisa 10 alvinegro logo caiu nas graças da Fiel e se tornou um dos maiores ídolos da história do clube, pelo qual disputou 228 jogos, fez 80 gols, e foi o protagonista do então inédito título do Campeonato Brasileiro, em 1990. Também conquistou o Paulistão de 97, como reserva.

Divulgação/Corinthians
Ribamar, por sua vez, fez a sua estreia em um jogo oficial pelo Palmeiras apenas no dia 7 de setembro. Depois de ter participado de uma excursão europeia com o clube, o atacante jogou no empate sem gols contra o Santos, pela primeira fase do Campeonato Brasileiro. No Verdão, o atleta sofreu muito com lesões, em especial no púbis, e ainda chegou a romper o ligamento do joelho esquerdo, saindo do Palestra Itália sem deixar saudades. As contusões incomodaram tanto Ribamar, que, aos 31 anos, abandonou a carreira por causa de uma hérnia de disco.

Na época, havia o debate se a troca havia sido favorável para algum dos lados. Palhinha, então técnico do Corinthians, chegou a dizer à Gazeta Esportiva do dia 14 de julho de 1989 que “jogador por jogador tudo ficou bem equilibrado”. O tempo, no entanto, mostrou como o Timão ganhou de presente um ídolo, enquanto o Palmeiras não teve sorte ao apostar em um atleta que já tinha nome na época, mas foi aposentado pelas lesões.

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