Sem chance para o amigo

Ainda não foi desta vez que o incômodo jejum britânico de 74 anos sem a conquista de um torneio válido pelo Grand Slam chegou ao fim. No duelo entre amigos e parceiros de treino, pela decisão do Aberto da Austrália, o escocês Andy Murray bem que tentou, mas mal viu a cor da bolinha diante de um Novak Djokovic em dia inspirado. Quem esperava um confronto equilibrado entre o terceiro e o quinto do mundo viu o sérvio festejar seu segundo troféu nas quadras do Melbourne Park (já havia vencido em 2008) em 2 horas e 39 minutos de jogo, com tranquilos 3 a 0 –6-4, 6-2, 6-3.

Djokovic não deu qualquer chance a Murray e foi melhor em todos os fundamentos. Não cometeu duplas-faltas (o rival teve quatro), sacou melhor, errou menos e, além de quase não dar chances de quebra ao escocês, aproveitou as suas. Como já havia feito contra Roger Federer, teve o controle da partida todo o tempo e coroou uma trajetória perfeita em solo australiano.

Em seguida, depois de muito festejar, explicou os motivos do bom desempenho e da mudança de mentalidade que fizeram com que entrasse em quadra mais seguro e tranquilo. “Tentava separar a carreira da vida particular, e isso acabava se refletindo na minha forma de jogar. Agora, sinto-me mais emocional, realmente como sou. Superar os problemas faz parte da vida e me deixa ainda mais dedicado ao esporte”, comentou o tenista de 23 anos, aplaudido de pé pelo público que lotou a quadra central do complexo de Melbourne.

Ele admitiu que esperava ter mais trabalho, mas fez questão de qualificar sua atuação como perfeita. “Foi um grande jogo. Do primeiro ao último ponto, fiz o que pretendia, o que havia combinado com o treinador. Fisicamente estava muito bem, e pronto para enfrentar longas trocas de bolas contra um jogador que não costuma errar, dono de uma das melhores devoluções do circuito. Tinha de tentar surpreendê-lo e foi o que busquei. No fundo o aspecto mental conta muito”.

Apesar da segunda conquista do Grand Slam australiano, Djokovic será confirmado hoje na terceira posição no ranking da ATP, mas com boas perspectivas de superar Federer e Rafael Nadal, já que tem menos pontos a defender que os rivais. E, embora saiba que o espanhol não chegou mais longe devido a uma contusão, se considera pronto para seguir dando trabalho. “Quero me manter preparado e em condições ideais para os próximos desafios. Não pretendo parar por aqui. Já dei provas de que posso render bem em todos os tipos de pisos”.

RESIGNAÇÃO Murray se mostrou resignado por, pela terceira vez, ficar com o vice-campeonato de um dos quatro mais tradicionais torneios do circuito, e disse esperar melhor sorte no restante da temporada. “Novak fez um torneio inacreditável, mereceu vencer, tomara que possa enfrentá-lo com outro desfecho ainda este ano. Não deu desta vez, mas outras chances aparecerão.”