Futebol Nacional

COPA DO BRASIL

Os sons de um duelo (parte 1)

Jefferson da Fonseca Coutinho/EM/D.A Press
Longe da arena em confronto épico, a cidade do melhor futebol do Brasil em 90 minutos. Praças, ruas e avenidas não têm o mesmo movimento das 22h de meio de semana. Os fones de ouvido se multiplicam nos pontos de ônibus e, nos semáforos, os carros de vidros abertos deixam vazar as vozes do rádio. Na Praça da Liberdade, enquanto o moço com a camisa do Galo e a menina em azul profundo apertam o passo, plateia minguada faz festa para o rapper de fôlego. No asfalto, ecoam as buzinas.

No repente de canto curto, o sujeito do automóvel grita “Zero!”. A turma da calçada responde em coro: “Galo!”. E tome “Zero!” e tome “Galo!”. Outros torcedores dos dois times, de um lado e de outro da Avenida João Pinheiro, também bradam seus versos de uma nota só. Do Parque Municipal à Praça Sete, dá para contar nas duas mãos os carros de passeio. Movimento maior só nos bares com as janelas eletroeletrônicas para o Horto. Uma buzina aqui, outro berro ali e um estrondo acolá – daqueles que riscam o céu.

A noite é de festa. Para muitos, vale o mundo na Copa do Brasil em Minas. Na galeria de esquina, no alto, com vista para o Pirulito, o público é tímido. Entusiasmo ali, só mesmo o do dono do bar, alvinegro, que quer uma foto no jornal para ajudar na divulgação do estabelecimento. Diz-se “pé-quente”. Na avenida, rumo à Praça Rio Branco, gritos e buzinas anunciam gol. O moço atleticano se confundiu com o radinho e entendeu vantagem do Cruzeiro. Fração de agonia. Não demorou para o olho embassado do Anderson voltar a brilhar alegria.

E tome buzina e repente em coro: “Galo!!!”. Os sons da festa se assentaram na rodoviária. O menino em preto e branco segurava firme a mão do pai, que arrastava a mala pesada para a plataforma no subsolo. Rodinha empenada: barulhinho horrível. Próximo ao restaurante, apoiados no guarda-corpo, dois sujeitos comentam o resultado até ali. O mais velho parece desanimado: “O Cruzeiro tá cansado. Hoje, não ganha”. O outro levanta a bola: “Tem muito jogo ainda, sô!”. Silêncio. Pelos caminhos até a Região Centro-Sul, no vazio do asfalto, a rima das buzinas.

Gol. Está no ar. Muito barulho na Savassi. Não só dos carros e dos bares de portas abertas, mas, também, vindo dos prédios residenciais da região. O som no último volume no carro em fila de táxis na Praça Diogo de Vasconcelos dá a conta: 2 x 0. O jovem casal vestido de azul na sanduicheria de grife parece não acreditar. No quarteirão fechado, em bar com janela de led e um tanto de polegadas, o grupo alvinegro canta o grito das quatro letras.

A garota de aluguel arranja programa na avenida. No Alto das Mangabeiras, na Praça do Papa, é o celular do moço da bicicleta que traz notícias do Independência. Um casal no escurinho e dois grupos de amigos são paisagem com as luzes da cidade ao fundo. No casarão – à esquerda da cruz de quem tem a Serra do Curral nas costas –, o clima é de comemoração. No deque em destaque no relevo, fogos e gritos de vitória em primeira jornada de dois tempos.