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MERCADO DO FUTEBOL

Profissão agente: veja papel dos intermediários nas negociações do mercado do futebol

Dependência de clubes e jogadores aumenta a importância dos agentes

postado em 19/01/2015 17:00 / atualizado em 19/01/2015 17:21

Bruno Cantini/Atletico/Divulgacao e Reuters/Jorge Adorno

Ter um bom agente é um grande passo para ser um jogador em evidência no mercado. O relacionamento dos profissionais que cuidam das carreiras dos atletas é relevante na hora de uma transferência, renovação contratual e construção da imagem.

Reprodução/Twitter
Cada vez mais clubes e jogadores se tornam dependentes desses intermediários, que podem defender um dos lados ou até os dois na mesma situação. As principais contratações de Atlético e Cruzeiro para a temporada 2015 tiveram participações decisivas do mesmo agente. Lucas Pratto e De Arrascaeta vieram após reuniões do representante André Cury (intermediador nas negociações com Vélez Sarsfield e Daniel Fonseca/Defensor).

A Fifa ainda trabalha com profissionais licenciados, mas pretende abolir essa condição futuramente. Hoje, o Brasil tem 203 inscritos para exercer a função. Um dos motivos em acabar com a regulamentação dos agentes se baseou em estudos sobre transferências internacionais. Menos de 30% dos casos tiveram inclusão dos dados do agente no Transfer Match System, sistema que regulamenta as transações internacionais. Os clubes omitem informações e há vários informais que participam do meio e ficam com fatias nos acordos.

Por que não fazer transações diretas entre clubes?

A principal ferramenta para procurar um intermediário ou agente em uma negociação está na rede de contatos do profissional. Transações diretas entre clubes acontecem, mas, normalmente, saem mais caro do que com a participação de terceiros.

“No mercado, o agente tem muita informação e pode baratear o preço. O link de informações pode fazer um negócio nos moldes que o clube quer. Diretamente entre clubes, o preço pode ser mais alto e o negócio não ser como a equipe quer. Não seria uma profissão valorizada se não trouxesse benefícios. A partir do momento que a figura não for benéfica, o mercado o exclui. Isso eu posso garantir”, disse o agente Luciano Brustolini ao Superesportes.

Com uma carteira de 32 clientes, entre jogadores de Atlético, Cruzeiro e América, o profissional explicou outros fatores importantes na relação das partes envolvidas no futebol.

“Eu prefiro acreditar que o clube contrata um atleta pelo mérito dele. O agente deve desenvolver a negociação como cliente dele, seja do clube ou do atleta. É basicamente como se fosse um corretor de transferência imobiliária. Num segundo momento é promover um atleta desconhecido, aí é fazer um desenho de carreira por meio de relacionamentos para depois mudar de nível”, completou.

Um dos exemplos preferidos por Brustolini é o de Marcos Rocha, do Atlético, valorizado no clube e no mercado. “O Marcos Rocha perdeu espaço no Atlético no passado, reconstruiu a carreira em Campinas (Ponte Preta), passou pelo América e agora atingiu um nível altíssimo no Atlético. Fizemos essa reconstrução da carreira dele. Isso também vem com o auxílio do agente”.

Como se tornar um agente


A função de agente era alcançada no Brasil por meio de prova organizada pela CBF. Os candidatos precisavam dominar o conteúdo de legislação desportiva nacional e internacional. Hoje, a possibilidade de exame não é mais disponibilizada e a informação passada aos licenciados é que a função será desregulamentada, com a adaptação para o papel de intermediário, com mercado livre para concorrência. Portanto, a rede de relacionamentos do profissional será um diferencial nas negociações.

Outra opção para participação das transferências no mercado de futebol é ser parente de um jogador ou a graduação em direito. Cada vez mais atletas são representados por pais, irmão, tios etc.

Comissão dos agentes


Não há teto imposto pela Fifa a respeito da comissão recebida pelo agente. A fatia pode ser sobre o valor da transferência ou até mesmo um percentual do salário do jogador. Em média, os empresários do ramo trabalham com a margem de 3% a 10%, dependendo da aprovação dos clientes.

REUTERS/Sergio Perez
“Depende do caso. Os intermediários podem receber sugestão da Fifa, mas ela não pode interferir. É de acordo com a negociação envolvida. Se você traz um tipo de benefício, você tem retornos diferentes. Não existe regra”, afirmou Brustolini.

O português Jorge Mendes é um dos símbolos dos agentes que transcendem os patamares e se tornam megainvestidores. Na última janela de transferências, ele arrecadou cerca de R$ 90 milhões. Um dos clientes da carteira de Mendes é o português Cristiano Ronaldo. O profissional é reconhecido pela dedicação extrema ao trabalho.

Funções extras


Não é apenas na hora de vender ou negociar um novo contrato que o agente aparece. Por muitas vezes, ele assume funções extras na vida dos jogadores. Escolher um bom local para a moradia em uma nova cidade, levar os filhos à escola e providenciar a Declaração de Imposto de Renda estão entre as atividades de alguns empresários do futebol.

“O agente assume a responsabilidade da carreira do atleta e há outras necessidades que não estão no contrato. É uma demanda natural. É natural que o agente assuma essa função. Agrega valor ao serviço. A gente tem que facilitar a vida do cara”, concluiu Brustolini.

Como agentes, clubes e investidores trabalham em círculo vicioso (investidores são parceiros de agentes na captação; clubes na busca por pessoas dispostas a investir), as alterações da Fifa na composição dos direitos econômicos dos jogadores podem gerar um desconforto entre as partes. A partir de maio de 2015 somente os clubes terão essa garantia (novos contratos), sem a divisão dos direitos em várias partes. Como o processo ainda está em adaptação e a legislação brasileira tem suas especificidades, os profissionais temem o impacto da mudança no mercado. A tendência é que os agentes busquem novas formas para facilitar os contratos e transferências dos clientes.

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