IPATINGA

Ipatinga esquece tempo áureo, se sustenta graças a doações e corre o risco de fechar as portas

Presidente Jaider Moreira contou ao Superesportes o dilema vivenciado pelo clube

postado em 06/08/2014 16:30 / atualizado em 06/08/2014 20:36

Tiago Mattar /Superesportes , Thiago Madureira /Superesportes

Emmanuel Pinheiro/EM/D.A. Press
Fundado em 1998, o Ipatinga em pouco tempo colheu resultados surpreendentes. Em 2005, conquistou o Campeonato Mineiro e ganhou destaque no cenário nacional com a campanha semifinalista na Copa do Brasil, no ano seguinte. O acesso à Série A do Brasileiro, em 2007, concretizou o bom trabalho.

Sete anos depois, o cenário no clube é completamente adverso. Os problemas se multiplicam desde a mudança frustrada para Betim, no fim de 2012, e a volta turbulenta a Ipatinga. Salários atrasados, quadro de funcionários reduzidos, “caixinha” de amigos para manutenção da equipe, ajuda de comerciantes para alimentação dos atletas, falta de apoio do poder público e a possibilidade real de fechar as portas a qualquer momento.

Em entrevista reveladora ao Superesportes, o atual presidente do clube, Jaider Moreira, deu detalhes sobre a situação tétrica que vive o Ipatinga.

Ciente das dificuldades e honesto quanto ao futuro incerto da equipe, o mandatário disse que “a qualquer momento pode fechar as portas”. “O salário vence essa semana e estamos tentando viabilizar uma forma de pagamento. O Atlético e o Paraná pagam alguns jogadores, que estão aqui por empréstimo, se não nem dava para continuar”, afirmou.

Em péssima situação financeira, o clube está em débito, inclusive, com atletas que participaram do Módulo II do Campeonato Mineiro e já deixaram o Vale do Aço. “Estamos passando por uma crise financeira, assumi o clube com muitas dificuldades. Só o pessoal que tem salário mais baixo está recebendo em dia. A renda do clube vem de uma caixinha de amigos. Eu e outros amigos e cada um contribui com o que tem para manter a equipe”, contou.

Marcos Michelin/EM/D.A. Press
Ex-presidente, Itair Machado confirmou à reportagem que deixou dívidas trabalhistas, mas comparou a situação com a de qualquer outra equipe brasileira. “Deixei cinco milhões em dívidas trabalhistas, mas tem gente competente para assumir o clube. O Ipatinga é viável, mas com patrocínio”, garantiu Itair.

Buscando ajuda de diferentes formas, Jaider se mostrou decepcionado com a falta de apoio do poder público e com o desaparecimento de antigos colaboradores. “Quando assumi o Ipatinga, pensei que existiria um apoio maior, mas só os apaixonados continuam. O poder público não ajuda com nada. Busquei ajuda na Prefeitura (de Ipatinga), o clube carrega o nome da cidade, mas não tive nada”, lamentou.

“O que eu tenho tentado é mostrar para o poder público, trazer de volta o patrimônio que o clube é de Ipatinga e que eles podem ajudar a equipe de alguma forma. Temos oito rodadas da Série D pela frente, temos que trabalhar”, acrescentou.

A dificuldade é tanta que a alimentação dos atletas atualmente é proveniente de doação. “Tem um comerciante que nos ajuda com uma coisa, outro que nos ajuda com outra. E assim a gente tenta tocar o clube com muitas dificuldades”, explicou.

Ainda como Betim na classificação oficial da CBF, o Ipatinga figura na quarta colocação do Grupo 4 da Série B. A campanha de 16,7% de aproveitamento tem um empate, duas derrotas, três gols marcados e quatro sofridos. O time ainda não venceu na competição nacional.

Responsável pela cobertura diária do Ipatinga entre 2008 e 2010, o jornalista Rodolfo Rodrigues lembrou da “boa época” e ressaltou os problemas do clube. "O Ipatinga sempre teve dificuldades financeiras, mas conseguia montar equipes competitivas. Acho que o maior problema foi sair do Vale do Aço. Perderam um apoio que achavam que não era suficiente, e não conseguiram o mesmo fora. O clube caiu muito e voltou com problemas maiores do que quando saiu. Sair do Vale do Aço foi um tiro no pé", opinou.

Saída de Ney da Matta

Um novo problema promete movimentar ainda mais os bastidores do Tigre, esta semana. Identificado com o clube, Ney da Matta poderá dar adeus à equipe em breve. Uma equipe da Segunda Divisão Portuguesa fez contato para contratá-lo no último domingo. Algumas pendências, principalmente financeiras, ainda impedem o acordo. O treinador deixou Ipatinga nesta segunda para reunir com a direção do clube português em Belo Horizonte.

Em entrevista ao Superesportes, o treinador comentou a situação do Ipatinga e disse que não tem nada a reclamar. Garantiu que seu salário é pago em dia e dentro das bases combinadas.

“O que falta ao Ipatinga é o dinheiro. A estrutura física e a logística são boas. Jogamos em Salvador recentemente, foi tudo tranquilo. Com relação ao local de trabalho é ótimo. O ‘treinador Ney’ não pode reclamar de nada”, disse. Passagem e hospedagem para jogos fora de casa são pagos pela CBF. O presidente Jaider Moreira afirmou que o grande problema é quando os jogos são dentro de casa.

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