O OUTRO LADO DO FUTEBOL MINEIRO

Preocupação com o corpo e a mente

Com os times do interior inativos, jogadores precisam se virar para manter a boa forma, física e emocional. Enquanto uns batalham para trabalhar, outros lutam para não desistir

postado em 27/08/2014 08:00 / atualizado em 26/08/2014 21:30

Marcos Michelin/EM/D.A Press


Renan Damasceno

Enviado especial
Divinópolis

“Será que vale a pena esperar?”. Essa é a pergunta que passa pela cabeça do volante Luiz Eustáquio de Souza, de 20 anos, que não sabe o que é se preparar para uma partida oficial desde março, quando o Guarani se despediu do Campeonato Mineiro ainda na primeira fase. Como outras equipes do interior, o Bugre não disputa torneios profissionais além do Estadual; com isso, os atletas acabam liberados para negociarem com outras equipes. Quando nenhum clube se interessa, jogadores como Luiz precisam cuidar da forma por conta própria e manter a cabeça no lugar para não desistir.

“Você vê seus companheiros indo para outros clubes e você ficando para trás. O que passa pela minha cabeça é isso: estou ficando para trás. A gente fica abalado. O ruim é que não estamos exercendo nossa profissão”, lamentou Luiz, que recebe ajuda de custo do Guarani - o clube também abre o estádio diariamente para ele e outros jogadores treinarem.

Com o fim dos Módulos I e II do Mineiro, em abril, nada menos que 15 times - quatro da Primeira Divisão e 11 da Segunda - ficaram sem atividades após a Copa do Mundo. Calcula-se que quase 500 atletas tiveram de buscar empregos em outro estado ou em clubes menores, que disputam a Terceira Divisão do Estadual, único campeonato profissional do segundo semestre no estado, que começa em 7 de setembro.

Luiz teve passagem de um ano por Portugal, defendendo Nacional da Ilha da Madeira e Tourizense, da Segunda Divisão. Desde então está na equipe de Divinópolis, sua cidade natal. Em dezembro se reapresenta para se preparar para o Mineiro. Até lá, fica na esperança de ser procurado, mas sabe que a chance é pequena, já que está parado. “Os empresários te ligam, perguntam, mas se estiver parado não tem chance. O que eles falam é: ‘preciso te ver jogar para arrumar um clube pra você, um contrato’. DVD não emprega mais jogador. Precisa de sequência, e para quem trabalha só três meses é mais difícil ainda.”

DE GALHO EM GALHO
Jair Amaral/EM/D.A Press


O goleiro Jordan da Silva Ferreira, apesar dos 22 anos, é um cigano do futebol. Em três anos como profissional, defendeu Guarani de Divinópolis, Francana-SP, Aracruz-ES, América, Ipatinga e disputou o Mineiro como titular do Tupi. Depois de perder a posição, ficou desempregado até ser chamado pelo recém-criado Betim para a Terceirona.

“Infelizmente, em Minas Gerais são poucos clubes com atividade o ano inteiro. Tem time que tem verba e estrutura, mas não existe campeonato para jogar. Aí todo mundo vai tentar lugar em outro estado, que não tem metade da estrutura, mas trabalha o ano inteiro”, argumenta Jordan.

Depois de ficar meses desempregado, Jordan reflete sobre a dificuldade de ser jogador de futebol. “Para o torcedor é bacana. Chega lá, vê o jogador de uniforme e tem aquela imagem de que o atleta vai ganhar milhões. São poucos que vão chegar, que fazem sucesso. A maioria trabalha a vida toda, aproveita a carreira o máximo para conseguir bens para administrar e sobreviver. A grande maioria fica aí, pulando de galho em galho, até os 40 anos.”

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