RACISMO

Vítima de atos racistas em Tombos, goleiro do Operário desabafa: "Isso não pode virar moda"

Em entrevista ao Superesportes, Igor pediu punição ao torcedor identificado

postado em 10/09/2014 13:52 / atualizado em 10/09/2014 13:52

Tiago Mattar /Superesportes

Arquivo Pessoal
O goleiro Igor, do Operário-MT, desabafou após ser vítima de ofensas racistas no último fim de semana, durante o jogo contra o Tombense, pela Série D do Campeonato Brasileiro. Em entrevista ao Superesportes, o camisa 1 contou o sentimento de revolta que sentiu no momento das injúrias e revelou uma ligação emocionada da mãe pedindo para que ele parasse de jogar futebol.

Atleta profissional há 17 anos, Igor disse que nunca passou por um episódio como esse e desabafou, pedindo o fim de casos como o registrado em Tombos-MG. “Isso tem que parar. O futebol tem que acabar com isso. Tem que ser punido”, disse.

Além da ação que deverá correr no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), contra o Tombense, o goleiro processará o torcedor Rafael Castro, de 32 anos, identificado como autor das ofensas. “Eu fui agredido, humilhado. Eles vão ter que pagar por tudo isso”, disse o goleiro, referindo-se ao agressor e ao clube mineiro.

Durante entrevista por telefone nessa terça-feira, Igor se emocionou em várias ocasiões. O goleiro pediu à reportagem, insistentemente, para que as imagens do jogo fossem avaliadas. Nelas, segundo ele, é possível verificar a movimentação dos torcedores e a "apatia" do árbitro Antônio Carvalho Schneider.

Confira a entrevista completa concedida ao Superesportes
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Versão do caso

Logo no inicio da partida eu já falo com o árbitro e ele não resolve nada. Fui chamado de macaco ainda quando eu estava no aquecimento. Os insultos continuaram. Infelizmente, aconteceu em uma Série D do Campeonato Brasileiro, tem menos visibilidade, não tem tantas câmeras como uma Série A. Mas as imagens serão minha defesa.

Fui acusado de ter chutado a bola em uma criança, na arquibancada. Isso é uma mentira. O próprio árbitro viu que a bola não bateu em ninguém. Eles estão mentindo. Usando artimanhas, mais uma mentira. Eu fui agredido, humilhado. Eles vão ter que pagar por tudo isso.

Se você me chamar de Aranha é até um elogio para mim. Mas depende da forma. Eles usaram de forma pejorativa. Eles usaram como uma forma de me xingar naquele momento. Aconteceu esse fato sim, isso precisa ser esclarecido. Eu vou até as ultimas conseqüências. Vou ao advogado formalizar o boletim de ocorrência aqui em Cuiabá e buscar um processo na justiça comum contra o torcedor.


Arquivo Pessoal
Sentimento após as injúrias racistas

Revolta. Tenho família, falo com você e fico até ofegante ao falar, meus princípios, meus valores. Isso tudo pra mim pesa. Isso não pode virar moda. O torcedor te chamar de filho da puta, de ‘frangueiro’... Isso não me afeta. Já joguei em estádio com 40 mil pessoas. Mas hoje em dia não, ofender a moralidade, os princípios... Isso sim me afeta. Como afetou o Daniel Alves, o Aranha. Isso tem que parar. O futebol tem que acabar com isso. Tem que ser punido.

Reação da família

Minha mãe está revoltada. Ela está se recuperando de um câncer. Ela e meu filho pediram para eu parar de jogar futebol, porque eu não preciso passar por essas situações. Minha mãe me ligou chorando. Meu tio viu as reportagens e me ligou indignado. Minha família está revoltada, eles sabem da minha integridade, sabem que sou um cara que batalho. Que não preciso aparecer, que o Tombense eleve meu nome. Nunca houve problema nenhum em meu histórico, não preciso ser oportunista.

Resposta ao presidente do Tombense, Lane Gaviole

Estou vendo palavras infelizes do presidente do Tombense. Tenho 31 anos, joguei 8 anos em clube grande, no Palmeiras. Eu nunca precisei de clube nenhum para usar de barganha, usar de... Vou usar o Tombense? Uma série D, um estádio com mil torcedores. Pra quê? Não tem cabimento. Nunca fui expulso na minha carreira, nunca tive problema de indisciplina. É a primeira vez que acontece.

Eu não posso falar para você sobre um comentário que ele fez a dois conhecidos meus. Isso, perante o processo, ele vai ter que responder sobre o que ele falou. As minhas testemunhas vão dizer. São coisas que ele não pode afirmar que estou usando isso para aparecer, ele foi muito infeliz. Ele não pode falar isso. Não existe a pessoa chamar você de “macaco” brincando. Não pretendo processar o presidente do Tombense, vou processar o torcedor que me xingou. Danos morais. Na esfera esportiva, cabe o STJD julgar o clube.


Arquivo Pessoal
Expectativa de justiça

Minha esperança é que a justiça seja feita. Se for com o Tombense ou se for com o torcedor. O torcedor tem que ser punido e ele vai, porque minha justiça vai ser em paralelo com a do Operário. Não cabe a mim falar para você qual deve ser a punição. Que o clube possa ser, de alguma forma, punido pelo que aconteceu. Eles precisam ser punidos.

Mas principalmente, eu quero que o torcedor seja punido sim. Porque eu identifiquei e tenho provas que ele me chamou de macaco. Um companheiro meu como testemunhas, eu pedi ao camisa 9 do Tombense, que é meu amigo pessoal, o Anselmo, para conversar com o torcedor e pedir para parar. Tem tudo nas imagens.


Sentimento em relação ao árbitro


E estou indignado com o árbitro. Ele não teve a hombridade, a capacidade de pedir policiamento, eu pedi a ele para colocar policiais atrás do gol desde o início e ele não fez nada. Só mandou policiamento para lá quando o bicho pegou. Se ele colocasse policiamento na hora que falei com ele... As imagens não me deixam mentir. Eu espero que ela seja punido, no mínimo, igual foi o juiz do jogo do Grêmio (suspenso por 60 dias pelo STJD).


Futuro no futebol

Não penso em parar. Está todo mundo me dando muita força, muito apoio. Pessoas que conheço, amigos meus me ligaram dando força. O treinador de goleiros do Palmeiras me ligou, me dando apoio... Outros amigos meus também ligaram. Clubes, assessores de imprensa de jogadores, que são pessoas que tenho amizade no futebol. Eu vou continuar jogando pelo Operário.

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