Futebol Internacional

ESCÂNDALO NO FUTEBOL

Tô nem aí!

Na contramão da maior crise da história da Fifa, Blatter é reeleito para o seu quinto mandato. Sob protestos mundiais, dirigente diz que casos de corrupção foram individuais

postado em 30/05/2015 07:35

Em meio ao maior escândalo da história do futebol mundial, que envolve propinas de pelo menos US$ 150 milhões, corrupção, extorsão e lavagem de dinheiro que levaram à prisão de sete altos dirigentes da Fifa, Joseph Blatter foi eleito ontem para seu quinto mandato à frente da entidade.

A vitória, no entanto, não foi tão esmagadora quanto nas eleições anteriores. O candidato de oposição, o jordaniano Ali bin al-Hussein, chegou a forçar um segundo turno, o que não ocorria desde 1974, mas acabou se retirando da disputa.

O suíço de 79 anos obteve 133 dos 140 votos necessários para ser eleito diretamente, contra 73 de Ali e três votos nulos (as 209 federações da entidade tinham direito a um voto cada).

O resultado mostra que o poderoso chefão do futebol mundial está sendo mais questionado dentro da entidade, que viveu um verdadeiro terremoto na quarta-feira, com a detenção de sete de seus figurões, entre eles o brasileiro José Maria Marin, ex-presidente da CBF, e dois vice-presidentes.

A última vez em que a eleição foi decidida no segundo turno foi em 1974, quando o brasileiro João Havelange, predecessor de Blatter, venceu o inglês Stanley Rous. Havelange ficaria 24 anos no cargo.

A reeleição era esperada por contar com o apoio de cinco das seis confederações continentais, o que inclui a Conmebol, à qual está ligada o Brasil. Apenas a Uefa, que dirige o futebol europeu, presidida pelo francês Michel Platini, apoiou o príncipe da Jordânia. Blatter se defendeu das acusações, promovidas no rastro das investigações do FBI desencadeadas a partir de 2011. Ele adotou o tom de que as irregularidades foram cometidas individualmente e que não pode ser responsabilizado pelos atos dos envolvidos. “Gostaria de dividir a responsabilidade com vocês, isso é um governo. A responsabilidade é de todos na Fifa. São 209 federações, não podemos supervisionar todo mundo”, afirmou.

Em uma referência indireta ao escândalo que tem abatido a entidade nos últimos dias, declarou que estará “no comando da nau” e emendou: “Vamos levar o barco aonde sempre deveria estar. Onde se joga futebol. Prometo entregar uma Fifa mais forte ao meu sucessor”, usando mais uma metáfora marítima, depois de afirmar várias vezes que queria tirar a organização da tempestade.

“Quero resolver esta situação, dar a volta por cima”. Ele insinuou que o escândalo tinha sido provocado por uma frustração da Inglaterra e dos Estados Unidos, que perderam a disputa para sediar as Copas do Mundo'2018 e 2022, vencidas por Rússia e Catar, respectivamente.

Antes da votação, o príncipe Ali havia prometido resgatar a imagem da Fifa. “Os olhos do mundo estão sobre nós, precisamos enviar uma mensagem às pessoas que estão assistindo. O futuro passa pela transparência, precisamos mostrar que queremos reconquistar o respeito do mundo”, afirmou o jordaniano de 39 anos.

Platini não é o único a querer a cabeça de Blatter. Mais do que nunca, o suíço foi alvo de ataques. O cartola enfrenta forte ainda oposição no mundo político. O primeiro-ministro britânico James Cameron está entre os que exigiram sua renúncia.
A pressão dos patrocinadores também prossegue, assim como a de milhões de torcedores.

Extradição a caminho

O governo suíço já solicitou às autoridades americanas para formalizar o pedido de extradição do ex-presidente da CBF José Maria Marin, 83, e dos outros seis cartolas presos. Os Estados Unidos têm 40 dias para enviarem o requerimento. Se ele não chegar nesse período, todos serão soltos. Marin, que está numa cela individual, na região de Zurique, só tem direito a apelar de uma eventual decisão pela transferência depois de o governo se posicionar. O processo pode levar seis meses.

‘‘Estou orgulhoso pelo fato de a Uefa ter apoiado um movimento pela mudança, crucial para que esta organização possa resgatar sua credibilidade’’

Michel Platini, presidente da Uefa

“Se Blatter estivesse preocupado com futebol, ele teria desistido. Se tiver o mínimo de decência, ele irá renunciar em breve”

Figo, ex-jogador, pré-candidato à Fifa

“Deveria ir embora. Você não pode ter acusações neste nível numa entidade e dizer que a pessoa no poder é a certa para levá-la adiante”

David Cameron, primeiro-ministro britânico

Tags: fifa blatter escandalo corrupçao