DA ARQUIBANCADA

Bailarino da Toca

Não sou saudosista para dizer que o futebol no passado era melhor, mas a necessidade de padronizar todas as coisas acaba gerando jogos bastante previsíveis

postado em 22/02/2017 12:00 / atualizado em 22/02/2017 08:32

ARQUIVO ESTADO DE MINAS
Nesta semana, recebi no WhatsApp um vídeo com algumas jogadas do Joãozinho, mais conhecido como Bailarino da Toca. Já falei várias vezes aqui na coluna que ele é meu ídolo de infância. Ele atuava na extinta posição de ponta-esquerda com muita eficiência e criatividade. Era um jogador de passadas curtas, mas com muita velocidade. Seus dribles desconcertantes dados em pequenos espaços deixavam os laterais e zagueiros batendo cabeça. A sua jogada mais irresponsável nos deu a primeira Copa Libertadores ao bater uma falta decisiva no jogo contra o River Plate, em Santiago, no Chile. Tenho certeza de que sua irreverência foi o que chamou a minha atenção. O Marcelo Oliveira, que foi nosso técnico bicampeão brasileiro, driblava muito parecido com o Joãozinho.

Hoje em dia, em que o fator físico e a obediência tática são mais importantes que a criatividade, fico na dúvida se ele teria o mesmo reconhecimento. Acredito até que o Garrincha seria muito criticado por sua única jogada, que, mesmo repetida à exaustão, deixava qualquer zagueiro desnorteado. O único jogador que consegue um lugar no futebol mundial com esta característica é o Robben, do Bayern de Munique. Ele é canhoto, joga pelo lado direito e sua única jogada é driblar para a esquerda e tentar o chute na entrada da área.

Não sou saudosista para dizer que o futebol no passado era melhor, mas a necessidade de padronizar todas as coisas acaba gerando jogos bastante previsíveis. As chances do imponderável estão diminuindo a cada dia. Não entendo por que os melhores técnicos do mundo migraram para o futebol inglês. Só pode ser por causa de dinheiro. Não é possível que alguém goste de ver uma partida da Premier League com suas eternas e repetitivas jogadas de chuveirinho na área.

Falando no nosso mundinho indefectível do Campeonato Mineiro, o empate com a URT era mais do que previsível. Se nos colocarmos no lugar dos nossos jogadores, eu teria pouca motivação para uma partida como aquela. O nosso encastelado presidente da FMF deveria entrar na moda mundial e cuidar dos gramados do interior para garantir longevidade ao nosso campeonato rural. Ajudaria muito a transformar jogos entediantes num espetáculo de entretenimento.

A CBF está na dúvida se proíbe o uso de grama sintética nos estádios. Na Europa, a maioria dos estádios tem grama sintética fora das quatro linhas. Por experiência própria, posso dizer que manutenção de espaços gramados é uma das coisas mais difíceis que existem. Há até uma ONG que faz campanha para a não utilização de grama em espaços públicos. Afinal de contas, grama não serve pra nada. Gasta-se um dinheiro enorme numa coisa em que não se pode pisar e que não dura o ano todo. O Mineirão tinha por característica peculiar deixar a grama mais alta, dificultando o toque de bola dos times que não estavam acostumados. Por causa da Copa do Mundo entramos no padrão Fifa e isto acabou. Quando era técnico do Real Madrid, o José Mourinho pedia para deixar a grama mais seca nos jogos contra o Barcelona para dificultar o toque de bola dos catalães.

Independentemente de qual tipo de grama, acho que os tempos de criatividade extrema não voltarão jamais. Estamos mais preocupados com estatísticas e entrevistas coletivas. Falando de ídolos, a volta do Fábio está cada vez mais próxima. Que ele volte em  grande estilo. Com o time que temos e bons goleiros disputando o gol, é mais um sinal de que teremos um ano de muitas alegrias.

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