Nesta semana, recebi no WhatsApp um vídeo com algumas jogadas do Joãozinho, mais conhecido como Bailarino da Toca. Já falei várias vezes aqui na coluna que ele é meu ídolo de infância. Ele atuava na extinta posição de ponta-esquerda com muita eficiência e criatividade. Era um jogador de passadas curtas, mas com muita velocidade. Seus dribles desconcertantes dados em pequenos espaços deixavam os laterais e zagueiros batendo cabeça. A sua jogada mais irresponsável nos deu a primeira Copa Libertadores ao bater uma falta decisiva no jogo contra o River Plate, em Santiago, no Chile. Tenho certeza de que sua irreverência foi o que chamou a minha atenção. O Marcelo Oliveira, que foi nosso técnico bicampeão brasileiro, driblava muito parecido com o Joãozinho.
Hoje em dia, em que o fator físico e a obediência tática são mais importantes que a criatividade, fico na dúvida se ele teria o mesmo reconhecimento. Acredito até que o Garrincha seria muito criticado por sua única jogada, que, mesmo repetida à exaustão, deixava qualquer zagueiro desnorteado. O único jogador que consegue um lugar no futebol mundial com esta característica é o Robben, do Bayern de Munique. Ele é canhoto, joga pelo lado direito e sua única jogada é driblar para a esquerda e tentar o chute na entrada da área.
Não sou saudosista para dizer que o futebol no passado era melhor, mas a necessidade de padronizar todas as coisas acaba gerando jogos bastante previsíveis. As chances do imponderável estão diminuindo a cada dia. Não entendo por que os melhores técnicos do mundo migraram para o futebol inglês. Só pode ser por causa de dinheiro. Não é possível que alguém goste de ver uma partida da Premier League com suas eternas e repetitivas jogadas de chuveirinho na área.
Falando no nosso mundinho indefectível do Campeonato Mineiro, o empate com a URT era mais do que previsível. Se nos colocarmos no lugar dos nossos jogadores, eu teria pouca motivação para uma partida como aquela. O nosso encastelado presidente da FMF deveria entrar na moda mundial e cuidar dos gramados do interior para garantir longevidade ao nosso campeonato rural. Ajudaria muito a transformar jogos entediantes num espetáculo de entretenimento.
A CBF está na dúvida se proíbe o uso de grama sintética nos estádios. Na Europa, a maioria dos estádios tem grama sintética fora das quatro linhas. Por experiência própria, posso dizer que manutenção de espaços gramados é uma das coisas mais difíceis que existem. Há até uma ONG que faz campanha para a não utilização de grama em espaços públicos. Afinal de contas, grama não serve pra nada. Gasta-se um dinheiro enorme numa coisa em que não se pode pisar e que não dura o ano todo. O Mineirão tinha por característica peculiar deixar a grama mais alta, dificultando o toque de bola dos times que não estavam acostumados. Por causa da Copa do Mundo entramos no padrão Fifa e isto acabou. Quando era técnico do Real Madrid, o José Mourinho pedia para deixar a grama mais seca nos jogos contra o Barcelona para dificultar o toque de bola dos catalães.
Independentemente de qual tipo de grama, acho que os tempos de criatividade extrema não voltarão jamais. Estamos mais preocupados com estatísticas e entrevistas coletivas. Falando de ídolos, a volta do Fábio está cada vez mais próxima. Que ele volte em grande estilo. Com o time que temos e bons goleiros disputando o gol, é mais um sinal de que teremos um ano de muitas alegrias.
DA ARQUIBANCADA
Bailarino da Toca
Não sou saudosista para dizer que o futebol no passado era melhor, mas a necessidade de padronizar todas as coisas acaba gerando jogos bastante previsíveis
Henrique Portugal /Estado de Minas
postado em 22/02/2017 12:00 / atualizado em 22/02/2017 08:32
Tags: cruzeiroec