Fred Melo Paiva

DA ARQUIBANCADA

BH parou pra ver

'O Galo é um sentimento difícil de explicar sem que você se emocione'

postado em 28/03/2015 12:00

Bruno Cantini/Atlético


O que se viu em Belo Horizonte entre a terça e a quarta-feira passada é a prova daquilo que os amantes do futebol em todo o Brasil tentam, em vão, compreender: o atleticano não gosta de futebol – o atleticano gosta de Atlético. Durante muito tempo, o atleticano viveu uma injusta escassez dos títulos ditos “importantes”. Sofreu revezes com potencial para transformar seu Galo em Bangu. Perdeu para Deus, para os homens e para a matemática – se a estatística nos favorecia, a exceção, o ponto fora da curva eram os nossos companheiros do Red Label paraguaio sorvido depois da derrota.

O atleticano, porém, não largou o osso. Com seus escretes de várzea, quebrou recordes e mais recordes de público. Caiu pra Segunda Divisão com um Mineirão lotado, chorando as lágrimas mais tristes da sua existência, mas cantando o hino como nunca – o hino mais bonito do mundo. Como pode?, perguntavam-se os amantes do esquema tático.

“Como eu era pequeno, associava grandeza a títulos, e só”, escreveu um jovem blogueiro carioca, fanático pelo Flamengo, lembrando o rival mineiro nos tempos da sua infância. “Não conseguia entender como aquela gente tão apaixonada, mesmo sem as conquistas, vivia lotando o Mineirão, e me fazendo ter medo de enfrentá-los.”

Quando finalmente o Atlético ganhou a Libertadores e a Copa do Brasil, daquele jeito que nem o Aguinaldo Silva faria melhor, resolvemos abdicar das duas estrelas a mais que qualquer time do mundo colocaria sobre o seu escudo (o Crüzeiro era capaz de botar trono e cetro em sua penteadeira de Rei Momo).

O Galo não precisa disso – não vive de títulos nem de futebol. Isso é só a nossa desculpa pra ser atleticano. O Galo é a própria atleticanidade, é uma força estranha que brota da amizade entre desconhecidos vestidos de Atlético, é uma maneira de olhar as dificuldades e enxergar o Riascos. Se não fosse um time, seria um partido político radical, uma seita apocalíptica, as FARC espreitando a cidade por trás da Serra do Curral.

O Galo é um sentimento difícil de explicar sem que você se emocione. É o remédio mais eficaz pra fazer um homem chorar. O Galo é o atleticano se segurando diante da notícia da morte tão prematura do menino Thiago, justo na véspera do aniversário da gente. Eu nunca vi o Thiago, mas ele tava sempre no Horto. Eu tinha compartilhado uma fotinho dele com a camisa do Atlético pedindo doação de sangue. Tinha 4 ou 5 anos. O atleticano morre um pouco quando morre um atleticano.

Fico imaginando a família do Thiago quando, à meia-noite, os fogos anunciaram o dia 25 de março, os 107 anos disso que não se explica. O Thiago era uma estrelinha no céu, envolto na fumaça e na luz dos sinalizadores de Lourdes. Como se cada atleticano o abraçasse, ele e seus pais, com aquele amor que só quem faz parte dessa Massa tem a sorte de conhecer.

Obrigado, meu Galo querido, por você existir! Obrigado por todas as vezes em que me fez sorrir e me fez chorar. Obrigado aos Embaixadores do Galo, às organizadas unidas e a todos que planejaram ou compareceram à carreata e à vigília do nosso aniversário! Com uma torcida dessa, o Galo não morre jamais.

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