O sujeito quando é assaltado, como aconteceu na quarta-feira, sem direito a dar queixa na polícia e vendo o seu algoz evadir-se calmo e satisfeito, costuma perder as estribeiras. Aconteceu comigo. “Às vezes, a gente fica tão mal, que se não gritar violentamente, adoece”, me disse um amigo querido, tentando me aliviar a alma.
Eu tinha errado feio. Ao desejar publicamente que o árbitro Marcelo de Lima Henrique fosse acometido por doença grave (a mesma da qual meu pai, com muita luta, encontra-se curado), aconteceu comigo o que um cruzeirense resumiu pra mim numa mensagem cordial: “A partir do momento que desejamos o mal ao próximo, perdemos nossa humanidade”. Ele tá certo.
Tenho 43 anos e pisei pela primeira vez num estádio de futebol em 1978. O atleticano da minha geração tem um atenuante para os seus desvarios: como diz o pessoal vestido de CBF protestando contra a corrupção, a gente não aguenta mais ser roubado.
Meu amigo Antero Greco, com quem trabalhei no Estadão, pediu comedimento ao atleticano, que de tanto se exaltar poderia acabar desestabilizando o time pro restante do campeonato. O problema, meu caro Antero, é que isso que acontece hoje aconteceu igual em 1977, em 80, 81, 85, 99, 2007, 2012. Esqueci algum? “Como faz?”, perguntei a ele. “Aceita mudo?”
Na quinta passada eu gostei de ver o xará Bolivar contando sobre o ensinamento de seu saudoso pai. Dizia ele que se o cavalo ganha apenas uma corrida, é sorte; se ganha duas, é coincidência; se ganha a terceira, aí você pode apostar nele, que é bão. Em termos de ganhar a coisa na mão grande, o Corinthians já superou faz tempo a fase da coincidência.
O Corinthians ganhou do Galo na mão grande o Brasileiro de 1999 (o juiz não viu um pênalti bizarro aos 40 do segundo tempo, deram sorte). Levou o de 2005 porque a anulação de 11 jogos o favoreceu (deve ter sido coincidência), em detrimento do Internacional. Que ainda teve Tinga injustamente expulso no confronto direto entre as duas equipes, num lance que provavelmente determinaria a vitória e o título dos gaúchos (uai, bora apostar nesse cavalo corintiano, né não?).
No atual 7a1zão, o Corinthians foi beneficiado por erros de arbitragem nos confrontos contra São Paulo, Avaí, Sport e Fluminense (sorte, coincidência, cavalo bom, cavalo fenomenal). Sem a mão grande, é possível que todos tivessem terminado em empate. São oito pontos caídos dos céus. Êh, Brasilzão, Rede Globo, CBF, Congresso Nacional, Governo Federal, Estadual, Municipal, associação de bairro, síndico de prédio – se gritar “pega ladrão”, não fica um, meu irmão, não fica um.
Na quinta-feira circulava um post no Facebook supostamente escrito pela mulher do soprador de apito Marcelo de Lima Henrique. Dizia ela com seu português de telegrama: “Feliz em dobro! Marido como sempre excelente arbitragem. E Timão ganhou”. Estaria eu incorrendo em pecado grave se rogasse ao casal a praga de uma frigidez persistente surgida da noite pro dia, uma brochada eterna à prova de Viagra?
Marcelo de Lima Henrique, militar de formação, é fã do pastor Silas Malafaia. Ele sabe que o inferno existe. Nas pelejas organizadas pelo demo, Sérgio Corrêa vai escalar o trio de arbitragem com Henrique, Wright e Aragão. Simon fará os comentários do jogo. Esqueci alguém?