COLUNA TIRO LIVRE

Mais uma soberania

Há muito tempo o futebol brasileiro não assistia a tal hegemonia, e a questão, no caso celeste, não se resume a conquistas

postado em 29/08/2014 14:00

Kelen Cristina /Superesportes

Arquivo/EM/D.A Press

A cada jogo, o Cruzeiro assombra seus adversários. A vaga nas quartas de final da Copa do Brasil está encaminhada e a distância para o segundo colocado no Campeonato Brasileiro chegou a incríveis sete pontos. O atual campeão brasileiro se confirma como o grande bicho-papão da temporada a cada atuação, sempre convincente. Sem grandes estrelas, mas com uma equipe comprometida e bem treinada, a Raposa mostra que talvez não sejam necessárias receitas mirabolantes para que um trabalho renda frutos no futebol. Aos adversários, resta apenas a pergunta: até quando vai durar a soberania azul?

Há muito tempo o futebol brasileiro não assistia a tal hegemonia, e a questão, no caso celeste, não se resume a conquistas. O Cruzeiro funciona bem como um time, na acepção da palavra. E é isso que lhe dá perspectivas de outros êxitos e o coloca como favorito ao título de qualquer competição que disputa. Não quer dizer que já garantiu as taças – exemplos estão aí para mostrar que o esporte costuma punir quem se acomoda com os louros e festeja por antecipação. Mas, certamente, a Raposa está alguns anos-luz à frente de seus concorrentes, é e isso que lhe assegura maiores chances de sucesso.

A supremacia cruzeirense no cenário nacional nos remonta a outros períodos em que o futebol brasileiro assistiu ao predomínio de equipes que colecionaram troféus amparadas por trabalhos consistentes. O São Paulo teve sua faceta de papa-títulos com Telê Santana (foto) no início dos anos 1990, quando foi campeão brasileiro (1991), bi da Copa Libertadores (1992 e 1993) e ergueu a Conmebol (1994), entre outras conquistas. Com um discípulo de Telê, Muricy Ramalho, o tricolor paulista reviveu a fase áurea em meados dos anos 2000, garantindo novamente a taça da Libertadores e a incrementando com o Mundial de Clubes, em 2005. Foi ainda tricampeão brasileiro (2006/2007 e 2008).

Impulsionado pela parceria com a italiana Parmalat, o Palmeiras viveu seus dias de glória em 1993 e 1994, quando sagrou-se bicampeão brasileiro sob o comando de Vanderlei Luxemburgo. Com dinheiro em caixa, o clube montou grandes equipes, mas muito distantes daquele discurso de “grupo unido”, como revelou César Sampaio em entrevista há pouco tempo. Segundo o ex-volante, o próprio treinador estimulava as disputas internas e o clima hostil. Mas na hora da decisão, ninguém fugia da raia.

Não foi por acaso que o Grêmio recorreu a Luiz Felipe Scolari pós-Copa do Mundo. O treinador gaúcho simboliza um dos melhores momentos da história do tricolor gaúcho, com a conquista de títulos importantes em sequência: a Copa do Brasil de 1994, a Libertadores de 1995 e o Brasileiro de 1996. Com tanto crédito em conta, Felipão tinha mesmo de voltar aos braços dos gremistas para retomar sua caminhada em gramados brasileiros.

O Cruzeiro de Marcelo Oliveira ainda não se igualou aos antecessores em termos de troféus. Mas tem mostrado cacife para tal, especialmente pelo potencial de seu grupo e a grande superioridade em relação aos concorrentes. Difícil encontrar uma equipe com possibilidade de ameaçar, a curto prazo, a soberania celeste. Paradoxalmente, pode ser justamente essa a grande armadilha na caminhada rumo a mais conquistas. Cabe ao Cruzeiro provar, a si próprio, que pode chegar cada vez mais além.

Tags: cruzeiroec