TIRO LIVRE

O atacante dos recomeços

Enquanto muito jogador se esquiva de assumir responsabilidades, culpando da direção do vento ao estado do gramado, Damião foi direto ao ponto

postado em 27/03/2015 12:00 / atualizado em 27/03/2015 08:04

Juarez Rodrigues / EM DA PRESS
O futebol profissional entrou tarde na vida do atacante Leandro Damião. Com 17 anos, enquanto muito garoto já tem tem salário passando dos cinco dígitos e até contratos publicitários, o atual camisa 9 do Cruzeiro ainda corria pelos campos de várzea de São Paulo. “Ganhava R$ 30 por jogo” lembrou, certa vez, numa entrevista. Nos últimos cinco anos, a vida desse paranaense deu uma guinada que até ele, às vezes, deve custar a acreditar: virou ídolo no Internacional, foi convocado para a Seleção Brasileira, protagonizou transferência milionária para o Santos, se machucou, viu os gols rarearem e ouviu críticas. Por isso, cada gol que Damião marca pela equipe celeste deve ter sabor de recomeço.

Talvez até para manter esse roteiro, a empatia com a torcida cruzeirense não foi imediata. O primeiro gol demorou um pouquinho a sair – apenas em sua quinta partida pela Raposa. De lá para cá, contudo, um salto. Em oito jogos pelo Campeonato Mineiro, oito gols. Na Libertadores, a fartura não é tanta, mas Damião também deixou sua marca, uma vez.

A trajetória sofrida deve ter garantido uma resistência extra ao atacante. Como viveu os dois lados da moeda em tão pouco tempo, ele deve saber bem que nem os momentos felizes, muito menos os tristes, são eternos. Pode ser por isso que Damião pouco festejou o gol diante do Mamoré, no suado empate por 1 a 1 na noite de quarta-feira, no Mineirão. Depois da partida, ao ser questionado sobre o lance, emendou o comentário com uma dura autocrítica. “Acho que foi uma falha minha (no gol do Mamoré), eu tinha que marcar, faço essa função e falhei. Tentei acompanhar e o zagueiro conseguiu fugir de mim na marcação”. Simples assim.

Enquanto muito jogador se esquiva de assumir responsabilidades, culpando da direção do vento ao estado do gramado, Damião foi direto ao ponto. Ele sabia que tinha feito a parte dele lá na frente, mas se penitenciou por não ter cumprido a função que também deve exercer na retaguarda. Um gesto tão nobre quanto a marcação de um gol. Atitude de quem precisou batalhar muito para chegar aonde chegou e que dá valor ao que tem.

Diante do Mamoré, Damião fez seu quinto gol em cinco partidas seguidas. Com quatro assistências, é o jogador do grupo que mais dá passes para os companheiros marcarem. É também o que mais finaliza. As virtudes que ele mostra no Cruzeiro o aproximam daquele Damião que encantou os colorados – ele é o maior artilheiro do Inter no Século XXI, superando ídolos como Fernandão. Nessa época áurea, foi considerado por Ronaldo Fenômeno seu substituto na Seleção Brasileira. “Ele é alto, forte, ótimo goleador, sabe cabecear e tem habilidade com os dois pés. Vai desempenhar um papel importante em 2014”, disse o craque em entrevista à revista da Fifa, em abril de 2012.

Damião não chegou à Copa do Mundo. Convocado para a Copa das Confederações de 2013, foi cortado depois de se machucar durante um treino da Seleção Brasileira. Abriu espaço para o atleticano Jô, que aproveitou a oportunidade e assegurou seu lugar no grupo de Luiz Felipe Scolari. Foi apenas mais um desvio de rota na vida do atacante, que reencontrou o rumo no Cruzeiro e a cada partida reconquista o prestígio perdido com os tropeços do ano passado.

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