COLUNA TIRO LIVRE

O encanto dos goleadores

Nestes sete meses de Atlético, não houve um único jogo em que Pratto não fosse assim. Um guerreiro. E ele ainda dá passes para gols. E ainda faz gols

postado em 31/07/2015 12:00 / atualizado em 31/07/2015 09:19

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press

Nos grandes momentos de sua história, o Atlético teve um centroavante goleador a embalar os sonhos da Massa. Um jogador não apenas decisivo, mas também carismático, a vestir a camisa preta e branca como se ela fosse uma extensão de seu corpo. Dono de uma conexão tão grande com o clube e sua torcida que, por mais que saia do alvinegro, o alvinegro jamais sai dele. Nesse enredo, que vem desde os primórdios, a sintonia do argentino Lucas Pratto com o Galo nada mais é que um novo capítulo.

De Mário de Castro, o estudante de medicina que chegou a atuar sob a alcunha de Orion para ocultar da mãe sua dedicação ao futebol (até hoje é um dos principais artilheiros atleticanos), ao Perigo Loiro Guará, de carreira precocemente encerrada, passando por Ubaldo Miranda – autor de jogadas tão sensacionais que acabou apelidado de o “atacante dos gols espíritas”.

Do folclórico Dario, que tantas vezes parou no ar como um beija-flor durante a campanha vitoriosa no Campeonato Brasileiro de 1971, àquele que é considerado o craque dos craques alvinegros, que carrega no nome toda a sua majestade: o rei da Massa, Reinaldo, expoente da geração anos 1980, considerada um das mais talentosas do futebol nacional.

Os anos 1990 não começaram tão generosos para o atleticano, mas acrescentam a essa lista Renaldo e Valdir, o do bigode, privilegiado por ter ao seu lado um garçom do quilate de Marques – que com sua agilidade e inteligência ajudou a fazer outro centroavante goleador no Galo: Guilherme.

O fim dos anos 2000 trouxe Diego Tardelli, um dos seguidores da máxima eternizada pelo treinador Cuca: “Entrou funcionário e saiu torcedor”. Aquela que é tida como a maior glória alvinegra, a Copa Libertadores de 2013, também foi alicerçada por um centroavante-artilheiro: impossível dissociar o título da fase iluminada de Jô – e dos gols comemorados com o voo em direção a Ronaldinho Gaúcho.

Cada um desses personagens deixou seu nome marcado na história do Atlético. E essa viagem no tempo nos traz a 2015, ao Atlético de Lucas Pratto. A diferença talvez seja a forma meteórica como o gringo arregimentou o coração da Massa. Uma paixão fulminante, alimentada não apenas pelos gols.

Pratto encarna tudo aquilo (e um pouco mais) que o torcedor atleticano espera de um jogador. Ao longo dos anos, não foram poucos os atletas que ganharam a confiança da torcida mais pela dedicação do que pela técnica apurada. Um toque de calcanhar encanta tanto quanto um jogador que defenda as cores alvinegras como se defendesse a própria vida. Um chapéu, uma jogada de efeito e um drible só ganham sentido se o jogador também lutar pela bola como se dela dependesse seu último suspiro.

Pois nestes sete meses de Atlético, não houve um único jogo em que Pratto não fosse assim. Um guerreiro. E ele ainda dá passes para gols. E ainda faz gols – de pé, de cabeça, de ombro, de bico... Do jeito que dá, do jeito que a bola vem. A idolatria ao argentino já está registrada na história do Galo e na memória da torcida. Independe de um título de expressão, mas seria devidamente coroada com uma conquista de peso. O final feliz desse roteiro já está escrito antes mesmo que ele, de fato, chegue ao fim.

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