Essa retrospectiva começa com o experiente Flávio, que chegou ao Lanna Drumond num período de vacas muito magras, em 2008, para ajudar o clube no Módulo II do Campeonato Mineiro e na Série C do Campeonato Brasileiro. Pois ele não só se tornou um dos líderes do grupo como foi decisivo na ascensão da equipe, que alcançou a Divisão Principal nas duas competições. Em sua última temporada no Coelho, em 2011, Flávio acabou perdendo espaço para Neneca e acabou não renovando contrato.
Até meados de 2013, Neneca foi o dono do gol americano. Contratado para fazer sombra para Flávio, ele cumpriu tão bem seu papel que fez 101 jogos pelo clube. Mesmo tendo de driblar um leve sobrepeso, destacava-se pela agilidade. Quando seu desempenho começou a cair, com atuações irregulares no início da Série B, passou o bastão para uma das mais gratas revelações da base do América em sua história recente: Matheus.
Aos 20 anos, ele mostrou tranquilidade de veterano, levou o time a quatro vitórias consecutivas na Segunda Divisão de 2013 (contra Palmeiras, Icasa, Oeste e Avaí) e se consolidou como titular. A identificação de Matheus com o clube, aliás, estava no sangue: ele é irmão do volante Moisés, também cria do Coelho.
A ascensão do prata da casa foi tão consistente e meteórica que praticamente um ano depois ele estava batendo asas para a Europa, vendido ao Braga, de Portugal, por aproximadamente R$ 7 milhões, em junho de 2014. Matheus passou sete anos no Lanna Drumond, somando o tempo que jogou na base. Como profissional, fez apenas 64 partidas.
Eis que a camisa 1 chegou, então, a João Ricardo. E esse capítulo da história tem muito a ver com o técnico Givanildo Oliveira. Em setembro de 2014, Fernando Leal, que vinha substituindo – e bem – Matheus no gol americano, sofreu contusão muscular, abrindo chance para o reserva imediato no jogo contra o Bragantino, pela 23ª rodada da Série B. Sem técnico efetivo, o América estava sob o comando do interino Cláudio Prates. A jornada no Horto não foi nada feliz: derrota por 2 a 0 para a equipe paulista, com a torcida até soltando gritos irônicos de “olé”. Um cartão de visitas nada animador para João Ricardo.
Mas ele não se abalou. Teve exibição decisiva em seu segundo jogo com a camisa americana (vitória por 1 a 0 sobre o Vila Nova-GO, no Serra Dourada) e a partir daí não mais voltou para a reserva, mesmo com a recuperação de Fernando Leal. E quem bancou João Ricardo foi justamente Givanildo, que começava, naquela partida em solo goiano, mais uma passagem pelo Coelho.
Ano passado, João Ricardo viveu temporada ainda superior. Suas atuações foram determinantes para que o América conseguisse retornar à Primeira Divisão do Brasileiro. Tanto que foi considerado o melhor goleiro do futebol mineiro na temporada, superando os badalados Fábio, do Cruzeiro, e Victor, do Atlético.
Para sorte do Coelho, nenhuma dessas transições foi feita de forma traumática. Já são oito anos com bons goleiros, posição que não costuma ficar dando sopa por aí – quem tem um jogador bom não abre mão dele facilmente. João Ricardo é mais um elo nessa engrenagem. Seu potencial, arrojo e precisão começam a despertar interesse de vários clubes, e seria bom o América começar a preparar o terreno para o próximo dono da camisa 1. Tudo indica que, em breve, essa linha do tempo ganhará um novo personagem.