COLUNA TIRO LIVRE

Os vingadores

'Como o primeiro turno da Raposa foi desastroso, para qualquer lado que atirar acabará acertando a pontaria'

postado em 26/08/2016 12:00

Eduardo Valente/Light Press/Cruzeiro

A reação cruzeirense no Campeonato Brasileiro passa por um sentimento nada nobre: a vingança. Dizem por aí que ela tem um doce sabor, e quando preparada de maneira fria provoca ainda mais deleite. Para a equipe celeste, revides pontuais serão determinantes para uma arrancada providencial, que não só a distanciará das últimas colocações como permitirá sonhar com voos mais altos na competição.

Nessa tática revanchista, o que não faltam são alvos para a macabra mira azul. Como o primeiro turno da Raposa foi desastroso – pela primeira vez em 14 edições da era de pontos corridos, a equipe encerrou a metade inicial do Nacional na zona de rebaixamento –, para qualquer lado que atirar acabará acertando a pontaria.

É muito time para receber o troco. Afinal, dos 19 jogos do turno, o Cruzeiro saiu derrotado em 10. E nada menos do que 40% desses reveses foram em casa, em resultados que estão atravessados na garganta dos torcedores: 2 a 1 para o Sport, 3 a 0 para o Atlético-PR e 1 a 0 para São Paulo e Flamengo. São partidas em que a missão será muito mais complicada.

Ou alguém acredita que será fácil descontar esses placares na Ilha do Retiro, na Arena da Baixada, no Morumbi e onde quer que o ‘sem-teto’ rubro-negro mande a partida? Em condições normais, empate estaria de bom tamanho. Mas as condições celestes não são exatamente normais. Compensar esses e outros tropeços demandará resultados que fogem à curva natural dos palpites pré-campeonato. É a tal da superação que o técnico Mano Menezes volta e meia cita em seus discursos.

Vamos à conta mais factível: a da desforra que será buscada em casa. Longe de seus domínios, o Cruzeiro acumulou derrotas para Santos (2 a 0), Fluminense (2 a 0), Chapecoense (3 a 2), Grêmio (2 a 0), Santa Cruz (4 a 1) e Coritiba (1 a 0). O Coxa já está fora dessa lista. Resistiu bem à fome de revide celeste, arrancando 2 a 2 no Independência, na abertura do returno.

Domingo, o Cruzeiro vai enfrentar aquele que talvez seja o adversário que mais lhe instigue o sentimento de revanche: o Santa Cruz. Para os pernambucanos a Raposa amargou sua mais implacável derrota, e não apenas pelo placar elástico. Aquela goleada por 4 a 1, no Arruda, foi difícil de entender. Pode um time atuar melhor do que o oponente durante a maior parte do jogo e, ainda assim, sair derrotado? Pode! Pior ainda: uma equipe atuar bem e deixar o campo goleada? Pode também! Noves fora os quatro gols sofridos, possivelmente aquela tenha sido uma das melhores apresentações sob o comando do português Paulo Bento. Mas, nos anais da história estarão impiedosamente registrados aqueles 4 a 1. Por mais surreal que essa afirmação possa soar.

A realidade atual do Cruzeiro, no entanto, aponta para um horizonte mais promissor. Em sua segunda passagem pela Toca, se ainda não conseguiu arrumar totalmente a casa, Mano Menezes pelo menos já dispôs os móveis de forma mais bem organizada. No futebol e na vida é assim: quando a coisa está muito bagunçada, qualquer mexida acaba fazendo diferença, ganhando visibilidade.

Em cinco jogos com Mano, a Raposa tem duas vitórias, dois empates e uma derrota, com 53% de aproveitamento. A sequência não é suficiente para fazer os olhos dos torcedores brilharem, porém tirou o time da traumática zona de degola depois de seis rodadas e deu alento a quem até já tinha jogado a toalha. Como os super-heróis da Marvel, os cruzeirenses vão com sede de vingança para os próximos jogos. Inspiração não falta. Pelo menos nas telonas já ficou claro que com a S.H.I.E.L.D. não se brinca.

É com essa expectativa que a Coluna Tiro Livre se despede temporariamente, para o período de férias da colunista. Na volta saberemos se Mano e seus comandados serão tão efetivos quanto Tony Stark e companhia.

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