TIRO LIVRE

Cinco meses de atraso

Se de fato quisessem resolver alguma coisa não seria assim, com trocas de farpas via imprensa

postado em 28/04/2017 12:00 / atualizado em 28/04/2017 08:48

MARCOS VIEIRA E LEANDRO COURI / EM DA PRESS
“Fala-se mais do que acontece fora do campo que dentro... Ninguém desfruta o momento”, postou ontem à tarde o armador uruguaio De Arrascaeta em seu perfil do Twitter. A frase foi seguida por dois emojis de macaquinho fechando os olhos e a palavra futebol. Não consegui concluir se a reflexão do jogador do Cruzeiro era sobre o (cansativo) falatório pré-final de Campeonato Mineiro ou a respeito da repercussão da violência protagonizada por seus compatriotas no jogo entre Peñarol e Palmeiras em Montevidéu, na noite de quarta-feira. De todo jeito, a mensagem estava clara: que bom seria se quando nos referíssemos a futebol pudéssemos falar apenas de... futebol!

Citando especificamente o jogo entre Cruzeiro e Atlético de domingo, o primeiro da decisão Estadual, difícil se prender aos argumentos de quem está com a razão diante do rumo quase infantil que tomou o embate entre a diretoria celeste (sobretudo na pessoa do vice-presidente Bruno Vicintin) e o presidente da Federação Mineira de Futebol (FMF), Castellar Neto. Na verdade, é mais um bate-boca que de nada vai adiantar. Como os anteriores, serve apenas para criar um clima de guerra para os torcedores – basta uma passeada rápida pelas redes sociais para conferir isso.

Se de fato quisessem resolver alguma coisa não seria assim, com trocas de farpas via imprensa. Parece um ringue: um cartola fala uma coisa, os repórteres correm para ouvir a réplica do outro, depois se apressam em dar espaço para a tréplica do primeiro e o verdadeiro motivo da briga se perde nessa guerrinha sem fim. Vira, como virou, embate pessoal, com os interesses do clube em segundo plano.

O pedido inicial do Cruzeiro é legítimo. O que vale para o jogo de ida em termos de torcida deveria valer para o confronto de volta. Elementar. Mas a causa acabou se esvaindo em meio ao bate-boca. Na verdade, essa é uma discussão que está, no mínimo, cinco meses atrasada. Todo esse estresse seria evitado se, lá na tarde do dia 18 de novembro do ano passado, no Arbitral do Mineiro, na sede da FMF, os próprios cartolas tivessem discutido o regulamento do campeonato com mais seriedade, sem deixar espaço para brechas como a que o Atlético está aproveitando – legalmente, apesar de eticamente condenável.

Pois daquela reunião que definiu como seria o Estadual saíram todos satisfeitos. Pelo menos esse foi o termo usado por Castellar ao comentar o encontro com dirigentes de 11 dos 12 clubes (o Tricordiano não enviou representante). “A fórmula de disputa é um grande sucesso e foi reconhecida pela Confederação Brasileira de Futebol, que espera que ela sirva de inspiração para outras federações do país. Conseguimos conciliar partidas entre todos os participantes com mata-mata e agradamos aos torcedores e clubes.”

Que a Polícia Militar rejeita a ideia do Independência dividido entre as torcidas é conhecido há muito tempo. Um Cruzeiro x Atlético na final nunca é possibilidade remota. E ainda que o regulamento tenha abrangência geral, não se limitando aos dois clubes da capital, é possível fazer com que ele preveja este tipo de situação, já que o debate é antigo. Pois naquele 18 de novembro já era possível definir, pelo menos, que as duas partidas da decisão fossem em estádios que ofereçam condições de segurança para as torcidas dos dois finalistas, permitindo a presença das duas em caráter igualitário. Não seria razoável pensar assim?

Nada mais infrutífero do que reclamar das regras do jogo com a partida em andamento quando todos os envolvidos tiveram chance de se manifestar antecipadamente e decidir o que julgavam ser melhor. Que os dirigentes tenham maturidade suficiente para superar mais esta rusga (o duelo anterior, pela fase de classificação, também rendeu mais fora de campo do que dentro) e, como disse De Arrascaeta, deixar que o futebol se resuma ao que ocorre no período entre o apito inicial e o final. Deixem o protagonismo para os jogadores.

Mais: que os cartolas anotem todas as suas pendências e sugestões em um caderninho e levem para o Arbitral do Campeonato Mineiro de 2018. É lá o fórum adequado para definir, de forma democrática, as questões de regulamento. Bate-boca em outro momento e lugar, além de perda de tempo, é feio demais. Fica a lição.

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