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SÉRIE B

Representando o América, Marcus Salum elabora projeto para aumento das cotas de TV da Série B

Ex-dirigente do Coelho deu detalhes sobre ações da Comissão Nacional de Clubes

postado em 31/07/2015 08:00 / atualizado em 31/07/2015 08:55

Carlos Cruz/América FC

Apesar de ter deixado o conselho de administração no fim do ano passado, Marcus Salum ainda trabalha forte em prol do América. Ele é um dos líderes da Comissão Nacional de Clubes, movimento que tem por objetivo valorizar as equipes que disputam o Campeonato Brasileiro. Com os olhos voltados para a Série B, Salum discute junto dos demais dirigentes melhorias nas cotas de TV para a competição.

“Na Comissão Nacional de Clubes, teríamos cinco representantes da Série A, dois da B, um da C e um da D. Na última reunião do conselho arbitral, foi nomeada uma comissão que eu presido com as presenças dos presidentes de América, Atlético-GO, Paysandu e Náutico. Esses quatro estão discutindo especialmente no que se refere a contrato de direitos de transmissão para a Série B. Nós achamos que o trabalho na Série B é importante não apenas na parte financeira, mas também na institucional. Nessa comissão, seremos representados por presidentes de Atlético-GO (Maurício Sampaio) e ABC (Rogério Marinho)”, disse Salum, em entrevista à CBF TV publicada no dia 28 de julho.

O Superesportes, então, procurou o ex-presidente americano. Num bate-papo esclarecedor, Salum revelou ter dedicado parte de seu tempo nos últimos meses à elaboração de um estudo em que as cotas de TV do Brasileiro são divididas de maneira mais justa. O próximo passo é levar o projeto à mesa da Rede Globo, detentora dos direitos de transmissão no futebol brasileiro.

“São 19 páginas. Registrei nesse projeto como é feita a divisão das cotas de televisão em Alemanha, Inglaterra, França, Espanha e Itália, que são os principais campeonatos da Europa. Também coloquei média de público, a metade que ganha mais e a metade que ganha menos. Coloquei também a disparidade atual na divisão do dinheiro, a importância de alguns clubes na história dos campeonatos e as agremiações formadoras. É um estudo bem detalhado, muito bem feito, que eu pretendo, em breve, mandar para todos da imprensa. Antes, porém, temos que nos reunir com a televisão”, afirmou.

Parte do documento divulgado pelo site da ESPN nessa quinta-feira mostra a atual divisão:

- Grupo I: clubes com contrato de longo prazo com a TV, que inclui a maioria dos times da Série A e tem um valor total estimado em R$ 930 milhões (Flamengo, Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Vasco, Santos, Cruzeiro, Atlético, Internacional, Grêmio, Botafogo, Fluminense, Atlético-PR, Coritiba, Sport, Goiás, Bahia e Vitória)

- Grupo II: clubes que disputam a Série A em 2015 (Chapecoense, Figueirense, Avaí, Joinville e Ponte Preta), com contrato de um ano com a TV, cujo valor total está estimado em R$ 100 milhões.

- Grupo III: 17 clubes que disputam a Série B em 2015, com valor total de R$ 51 milhões (cada um ganha R$ 3 milhões)


O objetivo de Salum e outros dirigentes é minimizar as diferenças, principalmente com relação aos clubes que sempre disputam as Séries A e B. “Queremos mudar um pouco a visão sobre divisão de cotas no Brasil. No atual modelo, 18 clubes têm contrato por mais de três anos. Os outros, apenas de um ano. Quem está na Série A, ganha tanto. Quem está na Série B, ganha nada. O que quero mostrar é que existem alguns times aí que estão entre Séries A e B há muitos anos e merecem tratamentos diferentes, casos de América, Ceará, Atlético-GO, Náutico e outros”.

Um dos responsáveis pelo departamento de futebol nas principais conquistas do América – Série B de 1997, Copa Sul-Minas de 2000 e Série C de 2009 –, Salum afirma que é muito difícil montar um time para disputar a Segunda Divisão Nacional com apenas R$ 3 milhões em cotas de TV. “Com os descontos, o valor cai para R$ 2,7 milhões. É muito pouco. No trabalho, expliquei que os clubes formadores estão perdendo a condição de revelar e segurar jogadores porque estão mortos (financeiramente). Disse também que se continuarem desequilibrando a Série A como está sendo feito, o futebol brasileiro caminhará para uma espanholização. Real Madrid e Barcelona. O percentual que recebem Corinthians e Flamengo já é alto e só vai aumentando”, justificou, referindo-se aos R$ 340 milhões que Corinthians e Flamengo ganham juntos.

 

 

Gilvan de Souza/Flamengo

Soluções

Na página 18 do estudo elaborado por Marcus Salum, há alguns pedidos para que a diferença entre Corinthians e Flamengo, clubes que recebem mais, e as equipes da Série B sejam menores.

a) Limitar o percentual do time que mais recebe em relação ao total em no máximo 10%;

b) Limitar a razão do time que mais recebe em relação ao time que menos recebe em 4 vezes;

c) Limitar o percentual da soma dos cinco times que mais recebem em no máximo 40%;

d) Limitar o percentual da soma dos dez times que mais recebem em no máximo 65%.

Enquanto os pedidos feitos pelos clubes da Série B não são atendidos pela televisão, há um pedido de aumento para que as agremiações possam faturar mais e equilibrar melhor suas contas:

a) Manter o valor de R$ 3 milhões para cada clube;

b) Acrescentar um valor de R$ 100 mil para cada posição no ranking dos 17 clubes, ou seja, o último do ranking recebe R$ 100 mil, o penúltimo R$ 200 mil, assim sucessivamente até o primeiro, que receberá R$ 1,7 milhão extra para a temporada 2015.

c) Acrescentar, da mesma forma acima, um valor de R$ 100 mil de acordo com cada posição do último campeonato da Série B para a temporada de 2015.


Antes de concluir o trabalho, Salum buscou referências em outros países. “No restante do mundo, metade, ou 40%, ou 30% é dividido de maneira igual, e o resto fica por conta de ranking e as colocações dos times nos campeonatos anteriores. Então é preciso ter um critério. Aí me perguntaram: 'o que você acha que pode ser feito este ano?'. Respondi que poderia fazer uma divisão baseada em ranking e colocação do ano passado. Esse é um ponto do trabalho. Eu sugeri no projeto um aumento de tantos milhões, mas tudo será discutido na mesa”, explicou.

Inglaterra

A Inglaterra tem um modelo mais democrático na distribuição das cotas de TV. O contrato atual, que passou a vigorar na temporada 2013/2014, rendeu 65 milhões de euros para cada clube e valores extras dependendo da classificação final na Premier League. Enquanto o Cardiff City, lanterna da competição, ganhou 1,5 milhão a mais, o Manchester City, detentor do título, faturou € 30 milhões além do montante inicial.

O Liverpool, que teve mais jogos transmitidos, recebeu, ao todo, 122,5 milhões de euros. Já o Cardiff City, clube com menos visibilidade na TV, obteve 77,8 milhões, cerca de 63% do dinheiro destinado aos Reds.

No Brasil, um clube da Série B ganha R$ 3 milhões, quantia que não faz nem cócegas nos R$ 170 milhões pagos a Corinthians e Flamengo cada: apenas 1,7%.

“O Salum está nos ajudando muito nisso. Ele é formalmente convidado pela CBF para liderar essa comissão e estudou modelos europeus (de distribuição de cotas de TV). Fez uma espécie de tabela por ranking, comparou com o mercado fora do Brasil. É uma proposta que ele está construindo e que com certeza vai nos ajudar muito para tentar melhorar a cota dos clubes da Série B”, comentou à reportagem Marco Antônio Batista, integrante do conselho de administração do América.


Um eventual aumento nas cotas de TV seria extremanente importante para o América, cujo faturamento médio anual oscila entre R$ 21 e 23 milhões. Além disso, a própria Série B passaria a ser mais interessante para o clube, já que, nos moldes atuais, proporciona menos que o dobro do valor pago pela Rede Globo no Campeonato Mineiro (R$1,6 milhão).

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