Atlético

Amigo fiel, vizinho de Bernard ligava para rádios e pedia chance para a promessa

Rubens morava em frente à casa do jogador e foi quem o levou para fazer teste no Galo

postado em 23/07/2012 09:32 / atualizado em 10/12/2015 20:33

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press

Dois chapéus seguidos e uma assistência para Jô completar para as redes, a jogada de Bernard no Estádio Olímpico, contra o Grêmio, fez com que ele ganhasse fama internacional, com a reprise do lance em várias partes do mundo. Enquanto o jovem jogador realizava os dribles em Porto Alegre, do outro lado da tela havia um homem com a sensação de dever cumprido. Rubens Martins da Silva, de 50 anos, é vizinho da família do atleta e foi o responsável em levá-lo para fazer testes no Atlético. O comerciário fala da satisfação com o sucesso do meia-atacante.

“O gol dele é um gol meu. Eu sempre apostei nele. Desde pequeno eu o via jogar. Com três anos ele já gostava de bola e eu percebia uma diferença. Com cinco, ele foi para a escolinha do Comercial, no Barreiro. Depois, aos 11, eu falei para o pai dele que iria arrumar um time para o Bernard. Só que ele só autorizou após dois anos. Então, eu fui no Atlético e arrumei um teste. Ele passou no primeiro treino e mandaram voltar uma semana depois. Quando foi o segundo, ele também passou e ficou por lá”, conta ao Superesportes.

Em conversa com a reportagem, Bernard reconhece a importância do amigo em sua carreira. "Ele morava na rua da minha casa e tinha o desejo de me levar para o Atlético. No início, meu pai não queria muito, mas depois, quando eu tinha 13 anos, ele conversou com o Rubens e achou que era o momento, senão ficaria tarde. Foi o Rubens que olhou tudo, conversou com um amigo dele e eu vim para o Atlético", disse.

Para enaltecer o potencial de Bernard desde o tempo de base, Rubens ligava para algumas emissoras de rádio e salientava as qualidades de seu amigo, a quem chamava de sobrinho por considerar-se como um tio para o atleta. Ele relembra o período em que foi “relações públicas” do meia.

“Eu fazia uma espécie de divulgação do trabalho dele. A minha missão era não deixar que o talento morresse. Quando ele foi dispensado da base do Atlético, eu mandei e-mail para o Santos, São Paulo e ligava para as emissoras, para não deixar que ele parasse. Só que eu nunca recebi resposta de ninguém”, afirmou.

O meia lembra com carinho do apoio de Rubens com os veículos de imprensa. "Ele comentava comigo que ligava para as rádios. Ele sempre me deu força. Quando eu fui dispensado pela primeira vez, ele ligou para o pessoal daqui (Atlético) e perguntou o motivo de terem me mandado embora. Ele sempre esteve ao meu lado e pedia para eu confiar na minha capacidade e acreditar em Deus, que tudo daria certo. Eu devo muita coisa a ele. Ele fez muito por mim".

Fase complicada

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press
Se hoje Bernard está em alta e é titular no esquema do técnico Cuca, a trajetória até chegar ao time principal foi repleta de contratempos. Em duas oportunidades, o atleta foi dispensado da base atleticana e reintegrado após a revisão de alguns treinadores. A primeira pessoa que apostou em seu sucesso fala das dificuldades no período e dos tempos de Democrata-SL.

“Pelo talento dele, demoraram demais para dar valor. Ele foi mandado embora duas vezes. Por insistência minha, eu acionei o pessoal para descobrir porque tinham dispensado. Eles (Atlético) alegaram que ele não estava no ponto. Na primeira vez, um conselheiro teve que comprar a briga para ele voltar. Depois deixaram ele encostado até ocorrer de novo. O Bernard chegou a ficar no Jacaré (Democrata-SL) um tempo e mostrou seu talento por lá. A segunda saída dele do Galo foi na época em que o André Figueiredo subiu para os profissionais, para auxiliar o Marcelo Oliveira e faltou alguém para dar força. O Bernard só voltou porque o Felipe Ximenes interveio”, disse Rubens, citando o ex-dirigente da base atleticana.

Procurado pelo Superesportes, Ximenes, que atualmente trabalha no Coritiba, se diz grato em ser lembrado por pessoas próximas ao jogador. “Eu fico feliz por eles lembrarem isso. Ele (Bernard) sempre demonstra carinho por mim quando a gente se encontra. Eu não fiz nada a mais do que segurar um talento. Às vezes, no futebol, talentos são desperdiçados por questões de maturidade. Ele sempre me chamou atenção quando o vi jogando e nunca teve problema de indisciplina”, frisou Ximenes, antes de citar o episódio da reintegração do armador.

“É um fato comum no futebol. É uma demanda gigantesca de jogadores. Isso não diminui o trabalho na categoria de base do Atlético. Na troca de categorias acontecem dispensas. Por exemplo, Ronaldinho (Fenômeno) foi dispensado do Flamengo e o Leandro Almeida saiu do Cruzeiro, mas deu certo no Atlético”, completou.

Tempos melhores

Feliz com a fase do atleta nos profissionais do Alvinegro, o ‘amigo olheiro’ revela que já foi alvo de piadas por apostar no armador. “Bati o olho nele e falei: ‘esse menino nasceu para ser profissional’. Fui atrás e incentivei sempre. Há sete anos eu já falava: esse menino vale 10 milhões de dólares. Muitas pessoas riam da minha cara e hoje estão vendo que eu estava certo. Só deixo claro que nunca fui empresário dele, apenas um amigo que acreditou em seu potencial”, ponderou.

A mãe de Bernard relembra a importância de Rubens na carreira de seu filho. “Ele ajudou muito o Bernard. Era nosso vizinho de rua e via o Bernard jogar desde criança. Ele brincava e dizia que esse menino ia jogar no Galo. Ele foi para o Atlético e deu certo mesmo. Ele é amigo do meu marido também”, frisou Nélia.

Bernard começou a ter chances no Atlético, em sua posição de origem, com a chegada do técnico Cuca. Ele atuou em parte do Brasileiro’2011 e nesta temporada marcou gols no Mineiro e no Nacional. Com força para atacar, mas também com obrigações defensivas, ele é peça chave no esquema tático (4-2-3-1) adotado pelo comandante atleticano.

No último sábado, diante do Sport, Bernard completou 50 jogos com a camisa do Atlético. Além de participar diretamente de todos os gols da equipe na goleada por 4 a 1, o meia ainda marçou um golaço de cobertura.