O caminho do pequeno Bernard para chegar ao time de cima foi árduo e difícil como o de qualquer outro garoto que sonha fazer história no clube do coração. Dispensado duas vezes nas divisões de base devido à baixa estatura, ele esperou sua vez, foi reintegrado ao grupo por Felipe Ximenez, hoje supervisor do Coritiba, e depois de muitos desafios e desejos conquistados pode-se dizer que é um vencedor no futebol.
Simpático, educado, religioso, paciente com fãs e torcedores e dedicado, o menino franzino, chamado de garoto prodígio pelos colegas, por causa do 1,62m de altura, passa a imagem de bom moço dentro e fora dos gramados. Faz tudo para ser um atleta exemplar e bom filho para o vendedor Délio Duarte e a dona de casa Nélia, que ajudam a administrar a vida e a carreira do camisa 11 alvinegro. Vigilantes, eles opinam sobre tudo em relação ao filho: carreira, amigos, família e vida pessoal. “Meu pai se preocupa com horários de dormir, de comer e de descansar. Eles querem meu bem e aceito tudo com respeito”, afirma o atacante, de apenas 20 anos.
Bernard não é de sair muito para farras e baladas. Seus hobbies são o videogame – no qual o time preferido, logicamente, é o Galo – e ficar com a família contando tudo sobre as aventuras no mundo do futebol. Não é fã de música estrangeira, prefere a brasileira, especialmente a mineira. Os sertanejos Fernando e Sorocaba e João Neto e Frederico e os pagodes do Sorriso Maroto e de Thaguinho estão entre seus preferidos.
Para adquirir experiência, o jogador foi emprestado ao Democrata-SL em 2010. Pelo time de Sete Lagoas, sagrou-se artilheiro da Terceira Divisão estadual naquele ano, com 14 gols. Mas a campanha não foi tão positiva: o Jacaré terminou na quarta posição no hexagonal final. No ano passado, Bernard retornou aos juniores do Galo. E brilhou na conquista da Taça BH da categoria, ao marcar o gol da vitória por 1 a 0 sobre o Fluminense na decisão, na Arena do Jacaré.
Em um ano e meio como profissional, sua vida deu um salto enorme. No ano passado, ele já havia mostrado lampejos na campanha que livrou o Atlético do rebaixamento no Brasileiro. Mas o atacante se revelou de vez na atual temporada, destacando-se na conquista do título mineiro invicto, com dois gols nos 3 a 0 da finalíssima diante do América, no Independência; e passando a ser admirado por todo o país pela grande campanha alvinegra no Nacional, graças às jogadas de alto nível e aos nove gols na competição. Os dois chapéus nos atônitos zagueiros do Grêmio na jogada que resultou no gol de Jô, que definiu o triunfo de 1 a 0 no Olímpico, pelo primeiro turno, foi o momento mais marcante. Em alta no mercado, ele teve o desempenho exaltado no portal da Fifa, na semana passada.
Depois de ser convocado pela primeira vez por Mano Menezes para a Seleção Brasileira (nos duelos com a Argentina pelo Superclássico das Américas), ele renovou contrato com o Atlético até setembro de 2017. Mas dificilmente ficará até lá no clube do coração. No curto período como titular atleticano, seu salário praticamente triplicou. O primeiro sonho realizado foi comprar o carro coreano Velóster, avaliado em R$ 65 mil. Por ainda morar com pais, ele acredita ser cedo para adquirir um imóvel.
Mesmo com pouca idade, Bernard se tornou inspiração para outros companheiros, inclusive quem já foi o melhor do mundo duas vezes. Ronaldinho Gaúcho o respeita muito e o considera como um irmão mais novo. No dia a dia na Cidade do Galo, eles se tornaram mais do que amigos. O R49 dá apoio, orienta e até dá broncas no jovem quando ele faz alguma jogada errada. “Ele tem futuro e precisa ser acompanhado”, justifica o mais velho, que brincou com o prata da casa na sexta-feira, depois que ele se atrasou para o treino por confundir o horário. “Se fosse eu, seria multado pela diretoria. Mas Bernard é o queridinho...” Cuca é outro incentivador do menino. Graças ao técnico, o garoto conseguiu se firmar no time e alcançar o status de intocável.
A fama chegou cedo demais para Bernard. Assediado pelas torcedoras no Independência, procura retribuir o carinho de cada uma. Ele é o mais assediado para dar entrevistas no CT. Assustado, tem reclamado disso. Tanto que a diretoria o tem orientado a adotar um limite de demandas por semana. Tudo para não ter sua imagem desgastada.
VELHO CONTINENTE Bernard sonha fazer sucesso na Europa, mas antes faz tudo para ajudar o Galo a ser campeão brasileiro pela segunda vez. “Estou muito preparado para jogar em um grande clube do exterior. Mas só sairei se a oferta for boa para mim e para o Atlético.” Ele foi alvo de sondagens da Internazionale e do Milan em julho, quando o mercado do Velho Continente estava aberto – o presidente atleticano, Alexandre Kalil, que já havia recusado duas propostas no ano passado, nem quis conversa com os italianos.
Nos próximos dias, Bernard fechará contrato para ser assessorado pela 9ine, empresa de marketing esportivo de Ronaldo Fenômeno. Seu empresário será Giuliano Bertolucci, que gerencia a carreira de Kléber, Leandro Damião, Jô, Diego Tardelli e Oscar. Com fácil trânsito no exterior, o agente poderia facilitar a transferência do camisa 11 alvinegro para a Europa. A massa espera que demore o maior tempo possível, pois mal acaba de se acostumar a ser brindada com os dribles e gols da pequena joia.
PERFIL
Bernard Anício Caldeira Duarte
Nascimento: 8/9/1992, em Belo Horizonte
Altura e peso: 1,62m e 60kg
Clubes: Atlético (2006 e desde 2011) e Democrata-SL (2010, emprestado)
Títulos: Taça BH de Juniores 2011 e Mineiro 2012