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Em alta. E com a língua afiada...

Técnico do Atlético, Levir Culpi concede entrevista ao Estado de Minas

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Em sua quarta passagem pelo Atlético, o técnico Levir Culpi, de 61 anos, vem tentando construir uma nova filosofia de jogo, com mais toque de bola e criatividade e aos poucos colhe os frutos: o time alvinegro está classificado às semifinais da Copa do Brasil e aparece no G-4 do Brasileiro. Com posições firmes, ele foi um dos responsáveis pela saída de Ronaldinho Gaúcho. “Grandes estrelas, como o Kaká, por exemplo, ajudam muito. Depende do profissionalismo”. Porém, revela desânimo com o cenário do futebol brasileiro e não deu garantias se continuará no cargo em 2015, mesmo se a equipe assegurar vaga na Libertadores. Ele fez críticas à dívida dos clubes e ao calendário. Na entrevista ao Estado de Minas, ele fala sobre a boa fase de Diego Tardelli e condena o atraso nos salários, problema frequente.

Quando você assumiu, o Atlético era um time sem perspectivas na temporada por causa sobretudo da bagunça tática e das lesões. Mesmo assim, o time se acertou e colheu resultados, apesar dos atrasos nos salários. São méritos do treinador?
Tudo o que ocorre não pode ser creditado a uma só pessoa. Todo o conjunto fez a diferença. O Atlético tem um presidente, uma diretoria, uma comissão técnica enorme, um grupo muito bom. Quando as coisas não funcionam, devemos assumir juntos essa situação. Da mesma forma, quando vão bem, como é o caso agora, todos são premiados. O mérito é deixar o ambiente sempre favorável. No Brasil, a organização não conta muito, e sim a motivação. Podemos perder rapidamente tudo o que se construiu. Por outro lado, podemos ser transformados em grande e magnífico de forma rápida.

Em 2007, você deixou o Galo no andamento da Copa do Brasil. Agora, volta a dirigir a equipe num momento de classificação épica às semifinais. Você acredita num destino favorável para consagrá-lo?
Nesse momento, não tenho nada que possa me tirar desse objetivo, a Copa do Brasil e do Campeonato Brasileiro. Estou bem focado. Há as dificuldades devido ao calendário e ao desgaste físico. Em 2007, era outro momento, porque recebi a proposta do Japão e só ficaria até o fim do Estadual. Agora, a situação é tranquila porque não tenho outro compromisso e nenhuma ideia em vista. O foco é total. O Atlético vai voltar a ser o que foi em 2007, quando subiu da Série B, aquela comoção da torcida. Os bons resultados nos colocam numa situação muito boa.

Esta é sua melhor passagem pelo clube?
Acredito que não. Em 2007, também vivi fortes emoções, mesmo ganhando a Segunda Divisão e voltando à Série A, com a empolgação da torcida. Não tem como comparar. Agora, por exemplo, ganhamos a Recopa e estamos em bom momento. Eu me emocionei em todas as vezes.

Todo treinador deseja ter uma estrutura montada, um bom time e perspectivas de grandes competições. Você caminha para ter isso no Atlético, mas já sinalizou até com aposentadoria em 2015. Esse cenário pode mudar seus planos?

Estou no futebol há mais de 40 anos e, como voltei do Japão, fiquei mais exigente. Fiquei seis anos sem reclamar de gramado, de um jogo, de uma arbitragem, de imprensa. Agora, vim para o Brasil, com estádios usados em Copa do Mundo, encontramos outros que não têm condições de jogo. Pessoas que trabalham com futebol que deveriam ir para a cadeira. Acho ofensa gastar R$ 1 bilhão num estádio e antes de seis meses ele estar depredado. Não podemos aceitar isso. Depois, vem a questão salarial, a desigualdade, no futebol... Apenas 2% ganham mais que dois salários mínimos e 80% ganham menos que dois salários mínimos. Essas desigualdades me desanimam. Posso continuar no clube, mas dependeria de uma série de questões.

Juarez Rodrigues/EM/D.A Press
O que te motiva a permanecer no Atlético em 2015? E o que te desanima?
O que leva a permanecer é a estrutura do clube, o projeto e a adrenalina do jogo. O Atlético é o lugar certo para quem gosta de emoção. O que desanima são os campeonatos mal organizados e a falta de projeto.

Você acabou com a concentração, fez críticas ao planejamento do clube e à gestão do futebol brasileiro. O que te deixa à vontade para bancar essas questões que outros treinadores evitam?
Eu não gosto de apontar o que é certo e é errado. Mas há situações que eu tomo sem medo de errar Porque sei que ela está acoplada à busca pelo resultado positivo. O problema é a conscientização profissional. Na Europa, os jogadores não precisam de concentrar e alguns fazem maluquices. No Brasil, a probabilidade de erro é maior. Mas se conseguimos fechar com o grupo e fazer com que os jogadores deem retorno, é uma coisa legal. São 11 jogos sem concentração e ganhamos 10. Se perdemos os dois primeiros, eu seria considerado um irresponsável.

Você disse que o time estava de nariz empinado devido à conquista da Libertadores. Hoje, os atletas e torcedores estão mais humildes?
O Atlético é emoção pura, luta de jogo a jogo e vai ser assim por muito tempo. É difícil tirar do torcedor do Atlético o que eles pensam. Eu sou um treinador e o Alexandre Kalil é torcedor. Nós olhamos de fora para dentro e percebemos a paixão de todos. Isso ninguém muda. Respeito cada situação e estou junto em certos momentos. A emoção que tive depois dos 4 a 1 sobre o Corinthians foi indiscutível. Alguns momentos estamos abraçados e em outros estamos nos alfinetando. Em relação ao grupo, você vê os atletas em campo e eles estão com nariz empinado? Acho que não. Houve uma melhora.

Você é um dos responsáveis pela saída do Ronaldinho. As grandes estrelas atrapalham o trabalho dos treinadores?
É claro que fui um dos responsáveis pela saída do Ronaldinho, mas posso falar que grandes estrelas, como o Kaká, por exemplo, ajudam muito. Depende do profissionalismo. Cada um é cada um. O atleta não precisa ser estrela, mas ele tem de se comportar bem. Ronaldinho fez o papel aqui melhor que em muitos lugares. O Ronaldo não estava bem no mercado brasileiro, passou por problemas extracampo, mas o Atlético o acolheu. Eu o peguei num período pós-Libertadores. Foi em outra situação. É uma pena que ele não quer pagar o preço de ser um atleta profissional, até porque ele já fez tudo. Mas não o condeno por nada. A passagem dele foi marcante e deve ser guardada com bons olhos.

O pai do Jô teme que ele seja “um novo Adriano”. O caso dele é de insistir, conversar ou punir?
Jô é diferente do Ronaldo, tem 27 anos e tem sobrevida muito legal, podendo jogar mais 10 anos. O pai dele tem razão. Ele precisa entender o que ele quer da vida para tomar decisão de voltar a jogar.

Você teve momentos ruins com o Tardelli. Como conseguiu administrar a situação?
O relacionamento com o Tardelli é igual ao que o tive com o pai dele, Tadeu, que foi meu jogador no Paraná. É só uma questão de ele estar mais centrado um pouquinho. Ele passou 15 jogos sem fazer gols até voltar a marcar e, na hora que o jejum acabou, o que aconteceu: foi convocado para a Seleção e fez dois gols contra a Argentina. Ele é jogador de mercado mundial. Se seus números forem bons, ele está dentro. Se estiverem ruim, estará fora.

Juarez Rodrigues/EM/D.A Press
O Guilherme vem crescendo sob seu comando, mas ao mesmo tempo não conseguiu engrenar pelo Galo. O que falta a ele para ser um ídolo do clube?
Falta ele ser escalado, ter uma sequência. E falta ele confirmar o que sabe fazer. Contra o Corinthians e Chapecoense, ele fez o que sabe. Quando conseguir, será um dos melhores jogadores do Brasil e vai conquistar seus objetivos passo a passo.

Você tem números expressivos pelos dois grandes clubes de Minas. Quem está em melhor momento agora: Galo ou Raposa?
O Atlético. Porque o Cruzeiro está em pior fase (risos).

O trabalho de um técnico no Brasil precisa ser mais forte na questão emocional ou tática?
Emocional. Os técnicos são administradores de problemas. A parte tática e técnica é menos desenvolvida e pouco aplicada. Não temos no Brasil um curso de treinador que possa ser respeito e reconhecido no mundo todo. Temos de administrar problemas de várias espécies. As adversidades são muito grandes com jogadores, torcedores, diretoria e comissão técnica. Técnico tem que trabalhar na parte de agregar o grupo, algo que é fácil de ser dissolvido pelas cobranças.

O atraso de salário voltou a ser tema recorrente no Brasil. Como o técnico age para que isso não influencie o rendimento em campo?
É um problema que só o técnico brasileiro tem de resolver. O treinador europeu ou o japonês não tem noção disso, tem apenas que treinar o time. Mas estamos envolvidos nisso, porque os técnicos também não recebem. Mas emoções que vivemos no campo não têm preço. No jogo contra o Corinthians, a alegria dos jogadores em atuar seria a mesma se tivesse um bicho ou não. Um jogo pode oferecer emoção e isso é o que motiva.

O futebol brasileiro está falido?

Quase. Agora há esforço dos diretores em negociar as dívidas fiscais. Se isso ocorrer, vai facilitar os mecanismos de os clubes saírem da situação. Agora, se fechar a torneira, os clubes vão sobreviver de gente que banca o futebol, algumas empresas e os outros vão desaparecendo.

Quem é ele


Levir Culpi
Nascimento: 28/2/1953, em Curitiba
Carreira como treinador: desde 1986
Passagens pelo Atlético: 1994/1995, 2001, 2006/2007 e 2014
Jogos : 213 (115 vitórias, 46 empates e 52 derrotas, 372 gols pró e 232 gols contra)
Títulos: Recopa Sul-Americana (2014), Série B do Brasileiro (2006), Campeonato Mineiro (1995 e 2007)

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