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Depois da tormenta, a bonança

Gol que garantiu o título mineiro ao Atlético é o primeiro passo de Jô para resgatar seu prestígio. De astral elevado, atacante vislumbra dias melhores com a camisa alvinegra

postado em 05/05/2015 08:33 / atualizado em 05/05/2015 17:19

Bruno Cantini / Atlético
Por muitas vezes em seus 12 anos de carreira no futebol, o atacante Jô precisou provar a si mesmo que ainda seria um vencedor. Se, para vários torcedores do Atlético, ele já tinha encerrado seu ciclo no clube, o jogador conseguiu mostrar que pode reescrever sua história. Autor do gol da vitória sobre a Caldense por 2 a 1, em Varginha, que deu o título mineiro ao Galo, Jô voltou a viver um dia de ídolo ontem. Satisfeito e consciente de sua importância no grupo, o centroavante sabe que ainda precisa batalhar muito para recuperar seu prestígio.

Nas redes sociais, Jô foi cumprimentado por vários ex-companheiros que já deixaram o Atlético, casos do armador Ronaldinho Gaúcho e dos atacantes Diego Tardelli e Bernard. Único do quarteto ofensivo que conquistou a Libertadores de 2013 a permanecer no clube, ele não conteve as lágrimas depois de marcar o gol no domingo. Confessou ter pensado a todo instante no filho, Pedro, de 1 ano, internado por causa de uma pneumonia. O garoto recebeu alta ontem e já está em casa com a família.

Em um ano, muito se passou na vida do atacante. Ele fracassou na missão de ajudar a Seleção Brasileira a conquistar o hexacampeonato mundial, viveu jejum de gols pelo Galo, enfrentou problemas de relacionamento com a esposa, envolveu-se em imbróglios extracampo e pensou até em parar de jogar. “Foi difícil. Após a Copa do Mundo, as coisas não correram bem. Pensei em sair do Atlético, procurar outros ares. Houve especulações da Europa, do Brasil. Mas é coisa de Deus, que faz as coisas certas. Não deveria sair pela porta dos fundos em um clube onde entrei pela frente. Então, Deus me fez voltar a ter foco, a treinar bem e fui coroado com um gol importante, o do título. A cobrança vai ser maior, mas estou preparado”, afirma o jogador de 28 anos, que, por influência de Diego Tardelli, se tornou evangélico.

Ele recebeu os parabéns também do técnico Levir Culpi, que o testou ao lado de Lucas Pratto num treino fechado na semana passada, às vésperas da decisão do Estadual. Em tom de brincadeira, o jogador teria revelado aos companheiros no sábado que encerraria o jejum de gols em grande estilo e seria o herói do título. No domingo, foi um dos últimos a deixar o campo – ficou por cinco minutos com a taça nas mãos e foi aplaudido de pé pela torcida que foi ao Estádio Melão.

Jô sabe que terá de manter o alto rendimento se quiser continuar tendo chances. Como contra a Caldense, ele deverá ser escalado ao lado de Lucas Pratto em outros jogos. Segundo Levir, vai depender do jeito de atuar de cada adversário. “Pratto comentou comigo que no Vélez jogou muitas vezes como segundo atacante. É questão de treinamento.O Levir sabe conduzir isso bem. Pode dar certo”, destacou Jô.

Com a saída de Tardelli para o futebol chinês, Jô passou a ser o jogador mais bem pago no Atlético, recebendo em torno de R$ 350 mil mensais. Com contrato até 31 de maio do ano que vem, Ele vai tentar melhorar sua média de gols para, quem sabe, até estender sua história no clube. O ciclo esteve perto de terminar várias vezes. A diretoria alvinegra pretendia negociá-lo com o futebol europeu no ano passado, mas o fracasso na Copa do Mundo atrapalhou os planos. Depois, quando foi punido por atos de indisciplina, o clube cogitou rescindir o vínculo, no entanto, o prejuízo seria grande: cerca de R$ 7 milhões, referentes a salários, luvas e premiações.

EX-CLUBE Com o fim do Mineiro, o Atlético volta todas as atenções para o confronto com o Internacional, pelas oitavas de final da Libertadores. Jô, que começará no banco, conhece bem o adversário: ele defendeu o clube gaúcho entre 2012 e 2013, sendo dispensado por deixar a concentração e ir para uma balada. “O Inter abriu as portas para mim quando voltei da Europa. Oportunidade, eles me deram, eu que não soube aproveitar da maneira correta. Não tenho mágoa ou rancor de ninguém, mas é claro que quando se joga contra um ex-clube, você quer ir bem, mostrar que poderia ter ido mais longe”, afirma o atacante.


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