Atlético

DA ARQUIBANCADA ESPECIAL

Perdão, a culpa foi minha

Ninguém desaprende a torcer! Nesta quarta-feira, vamos fazer a maior Rua de Fogo que já existiu e espero que você esteja lá, erguendo seu sinalizador

postado em 03/05/2016 12:00 / atualizado em 03/05/2016 12:43

BRUNO CANTINI / ATLÉTICO
Durante anos escrevi para quem quisesse ler sobre o orgulho de ser alvinegro e que o Galo nos bastava, convicto de que essa era uma das leis fundamentais do universo. Não importava a fase, não importavam os pangarés que vestiam nossa camisa, não importava se era Libertadores ou torneio de porrinha. A gente era Galo Doido e pronto. E éramos felizes pra caramba assim, pagando ingresso de “2 Real”, comendo tropeiro de verdade e gritando que Danilinho era Seleção.

Quando Victor defendeu aquele pênalti com o pé esquerdo, isolando toda zica grudada em cada atleticano para a pêquêpê, a coisa começou a mudar. Eu não vi, porque estava de costas para o lance, tipo o Fábio no gol do Vanderlei. Vi depois pela TV e até hoje, quando vejo, dá um frio na barriga. Parece que Riascos vai converter aquele maldito penal e me despertar de um sonho bom numa manhã de segunda-feira, quando já é hora de sair para o trabalho. Ainda bem que o Victor sempre defende de canhota. Acontece que não vi nenhum pênalti daquela Libertadores. É uma superstição e não poderia quebrar a corrente. Imagina se a bola entra por minha culpa? Nem a pau. Valei-me, São Victor!

Pois é. Não vi os pênaltis, mas vi quando Guilherme deu aquele chute de fora da área, contra o Newell’s. Também vi quando Ferreyra levou uma rasteira do destino e depois, quando Leonardo Silva testou aquela bola aos 42 da etapa final. Os pênaltis não vi e vocês já sabem o motivo, mas me lembro do barulho da bola batendo na trave, na cobrança derradeira. Foi ali que o Galo deu uma guinada na própria história: deixou de ser o time do quase e se transformou no time dos milagres, das viradas improváveis, no time do “eu acredito”. Levantamos a mais emocionante Libertadores de todos os tempos e nossa gente sofrida finalmente encontrou a terra prometida, depois de 40 anos vagando pelo deserto.

No ano seguinte, eu fui testemunha de algo espetacular: eu vi nossa torcida ganhando um campeonato. Quem ainda ousa dizer que torcida não ganha jogo, precisa urgentemente assistir aos jogos do Galo daquele ano. Fomos nós, sim, que vencemos aquelas partidas. O time era bom, claro, mas os dois – torcida e time – eram um só, com uma viseira que nos permitia enxergar apenas a vitória. Quem viveu aquilo de perto sabe: a energia que vinha da arquibancada era coisa de doido. Não tinha jogo perdido, não tinha placar irreversível. Corinthians e Flamengo que o digam. Nosso maior ex-rival também sofreu na nossa mão e na bendita Quarta do Goulart levantamos mais um troféu. O choro foi livre.

Agora, em 2016, chegamos às fases decisivas da Libertadores e do Super Rural. O Galo precisa apenas de duas vitórias simples para levantar o caneco regional e passar para as quartas de final do torneio continental. Tarefas simples e tranquilas, fossem outros tempos. Eu, insone atleticano, estou acordado aqui às 3 da manhã – a tal da hora do capeta – angustiado, precisando mandar a real para vocês, irmãos alvinegros (juro não estar possuído por nenhuma entidade maligna): se não houver uma mudança de postura imediata da nossa torcida, estamos ferrados. Se não apoiarmos 100% esse time, de nada valerá o gol de Lucas Pratto aos 48 do segundo tempo contra o América. Se não estivermos juntos com os caras, terá sido em vão toda luta em Avellaneda. E aí, meu amigo, seremos novamente o time do quase. É isso que você quer? Não, né.

A boa notícia é que ainda há tempo de reverter o quadro de crüzeirização bizarra da Massa. Então, acorda, pô! Ninguém desaprende a torcer! Nesta quarta-feira, vamos fazer a maior Rua de Fogo que já existiu e espero que você esteja lá, erguendo seu sinalizador, mostrando para o Brasil e o mundo que a Massa é foda. Que o Independência seja transformado num caldeirão sinistro, capaz de fazer tremer o adversário, como nos bons tempos do Cemitério do Horto. Que eles borrem as calças e tenham vontade de sair correndo, pegar o primeiro voo atrás do colo da mamãe, lá na Argentina.

Que no domingo a dose se repita no Gigante da Pampulha. Que a diretoria ajude também, colocando ingressos a preços populares, para que possamos abarrotar o Mineirão e gritar insanamente, como se fossem os últimos 105 minutos das nossas vidas. Vamos fazer o que fazemos de melhor, que é levar o Galo à vitória. Da minha parte, prometo nunca mais cair em tentação e não ver mais nenhuma cobrança de penal... perdão, Robinho, no último domingo a culpa foi minha.

* Fred Kong é atleticano e ponto. Todo o resto é por acréscimo. Torce pelo fim do futebol gourmet, pela volta das chuteiras pretas e para que o crüzeiro consiga retornar às finais do Campeonato Mineiro algum dia