Santa Cruz

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Vídeo flagra tumulto na entrada do Arruda e Santa Cruz solta nota oficial para esclarecer

Após sofrimento para entrar no estádio, clube diz que cobra resposta do Governo

postado em 30/11/2015 20:36 / atualizado em 30/11/2015 21:53

Emanuel Leite Jr. /Especial para o Diario

Cenas impressionantes. Pessoas tentando entrar em um estádio de futebol, para um jogo festivo, em celebração ao retorno do seu time à Série A do Campeonato Brasileiro. Amontoados, impedidos de progredir pacificamente em direção aos portões de acesso por conta de bloqueio e retenção policial, os torcedores se espremiam e se arriscavam até a cair no canal. O empurra-empurra derruba as grades. Homens, mulheres, crianças e idosos caem ao chão. Desnorteados, ficam à mercê da própria sorte. Os policiais militares recorrem ao uso indiscriminado do spray de pimenta, aumentando ainda mais o desconforto e desespero dos cidadãos. A repressão policial também se verifica em atos de uso excessivo da força. Cenas lamentáveis que podem ser vistas em vídeo que circulou pelas redes sociais. Fato que gerou repúdio oficial do Santa Cruz e um pedido de esclarecimentos ao Governo do Estado.

 

Em nota oficial assinada pelo presidente Alírio Moraes, o clube considerou o episódio muito grave e encaminhou um “pedido formal de investigação ao Grupo de Trabalho de Combate à Violência no Futebol”, do Governo do Estado e coordenado pelo Vice-Governador Raul Henry. O dirigente máximo do Santa Cruz disse, ainda, esperar que os fatos sejam apurados para que tais fatos não se repitam no futuro, bem como pediu pela identificação e punição dos responsáveis pelo uso excessivo da força.

 

O estudante Lucas Cavalcanti, 17 anos, estava com o pai, de 49 anos, e mais três amigos. O jovem conta um pouco do sufoco que passou. “Tentei entrar no estádio era 15h40, a fila do portão 9 já estava chegando perto da entrada das autoridades. Tinha muita gente, mas estava tudo tranquilo. Foi quando um grupo de policiais do Choque passou pedindo pra galera afastar, na maior truculência, falando palavrões e tudo mais”, recorda. “Cinco minutos depois, começou um empurra-empurra. Não houve tumulto nenhum por parte da torcida, apenas críticas à polícia pela demora na liberação para a torcida passar na catraca. Um aperto imenso e, para piorar, o spray de pimenta”, acrescenta.

 

O spray de pimenta fez com que o pai de Lucas passasse mal. Ao tentar sair do meio da confusão, para socorrer seu genitor, o estudante perdeu seu chinelo. “Tive que sair da fila”, disse. “Vi muita gente com esposa, filho, com medo, esperando tranquilizar para poder entrar. Vi pessoas vomitando também”, conta. Temendo por sua segurança e integridade, Lucas só conseguiu entrar no estádio quando decorriam 10 minutos de jogo. “Foi quando a entrada tranquilizou”, encerrou.

 

Confira a nota oficial completa do Santa Cruz:

Desde a noite do último sábado (28), dezenas de torcedores do Santa Cruz Futebol Clube têm denunciado, por meios das redes sociais, uma série de agressões e tumultos no acesso às arquibancadas superior e inferior e no setor de sociais ocorridos no jogo contra o Vitória, realizado no sábado, no Arruda.

As principais queixas recaem sobre o processo de bloqueio e retenção dos torcedores em longas filas e na atuação violenta de alguns integrantes da Polícia Militar responsáveis pela organização do fluxo de entrada ao estádio.

Os torcedores falam do uso indevido do spray de pimenta e de atos violentos desnecessários praticados pelos policiais, que teriam gerado correria, derrubada das grades de proteção e até cenas de pisoteamento, expondo homens, mulheres, crianças e idosos.

Diante das denúncias, a Presidência do Santa Cruz Futebol Clube está encaminhando hoje pedido formal de investigação e esclarecimento dos fatos ocorridos ao Grupo de Trabalho de Combate a Violência no Futebol criado no âmbito do Governo do Estado e coordenado pelo Vice-Governador Raul Henry com o objetivo de prevenir e coibir a violência nos estádios. No ofício, estão anexados vários relatos de torcedores tricolores colhidos das redes sociais, inclusive vídeos.

O Grupo de Trabalho é composto por representantes de órgãos operativos da Polícia Militar de Pernambuco, instâncias do Judiciário estadual, Ministério Público, Prefeitura do Recife, Federação Pernambucana de Futebol, empresas operadoras de transporte urbano e diretores dos times da capital.

O Santa Cruz Futebol Clube, por meio de sua diretoria, reafirma o compromisso de defender os interesses e zelar pela integridade física e o conforto de sua imensa e fiel torcida. Os relatos dos torcedores são muito graves e precisam ser devidamente apurados para que tenhamos a garantia de que cenas e episódios lamentáveis como os que ocorreram no jogo do sábado não voltem a se repetir.

O Estádio do Arruda é a nossa casa, a casa da Torcida Mais Apaixonada do Brasil, e deve ser sempre um espaço de celebração do futebol e da paixão tricolor. A torcida é a maior protagonista deste espetáculo e tem que ser tratada à altura, devendo ser respeitada com relação aos direitos que lhe são inerentes e que fazem parte do Estatuto do Torcedor.

Assim, as agressões e violências praticadas contra ela são inaceitáveis, sendo certo que os responsáveis devem ser identificados, punidos e afastados definitivamente das operações de jogo.

A atuação da Polícia Militar é fundamental para que os espetáculos ocorram de forma pacífica e o comportamento indevido e exacerbado de alguns componentes da Corporação não deve ser tolerado sob pena de manchar o importante trabalho prestado pela maioria dos que compõem a instituição.

Recife, 30 de novembro de 2015

Alirio Moraes, presidente do Santa Cruz Futebol Clube