Nova promessa do Sport, Joelinton ainda mora na Ilha do Retiro e sonha em ajudar a família

Joelinton é um sujeito magro e alto – com quase dois metros de altura. É difícil passar despercebido por onde passa. De andar largado, por vezes lento, tenta evitar chamar atenção. Tímido, prefere caminhar olhando para o chão. De origem humilde, carrega no seu íntimo o desejo intenso de vencer na vida. Para tanto, escolheu o futebol. Ou melhor: na verdade, o futebol o escolheu. Natural da área rural de Aliança, município da Zona da Mata Norte, distante cerca de 90 quilômetros da capital Recife, o menino de então 14 anos viu a sua cidade receber o famoso “peneirão” rubro-negro em busca de novos talentos. Passou. Adulto aos 18 anos ainda não percebeu que o sonho começou a se tornar realidade.

Menos de 24 horas depois de ser um agente ativo na vitória do Sport sobre o Figueirense, o atacante recebeu a reportagem do Superesportes no quintal de casa: a Ilha do Retiro. Foi a primeira vez que o atleta, filho de um funcionário que cuida do almoxarifado de uma usina e uma dona de casa, concedeu uma entrevista exclusiva, tratando especificamente da sua carreira. A conversa aconteceu em um banco no estacionamento da concentração, onde ele mora desde 2011. Por mais de uma vez, Joelinton se pegou dizendo: “quando eu for jogador…”, sem nem se dar conta que já é. Talvez ainda seja reflexo de um salário modesto, de quem ainda anda de ônibus e sonha com o primeiro carro, a primeira casa.

Quando o técnico Eduardo Baptista voltou do intervalo com uma substituição inesperada, muitos torcedores se olharam e trocaram a mesma pergunta: quem seria o tal Joelinton, substituto de Danilo? Artilheiro do estadual deste ano pelos juniores (15 gols em 12 jogos) e já convocado para a seleção brasileira sub-17 (em 2012), ainda era necessário se apresentar melhor. Joelinton deu seu jeito. Passe para Ibson no pênalti que originou a vitória. E se as três oportunidades de finalizar não obtiveram sucesso, a contrapartida veio no domínio, nos passes, no modo tranquilo como o atleta estreou em uma Série A, com o Sport sob pressão.

Titularidade
Personalidade que rendeu elogios do técnico Eduardo Baptista e criou, desde já, uma expectativa na torcida. Com o elenco carente de centroavantes, a próxima chance de Joelinton pode nem demorar a chegar. Com Diego Souza suspenso e Neto Baiano ainda se recuperando de lesão, há a possibilidade de o jovem atacante ser titular domingo, contra o Flamengo, na Arena Pernambuco. Talento de sobra e cabeça no lugar são virtudes que o atleta já apresentou. O sucesso parece ser uma questão de tempo. As barreiras mais difíceis, Joelinton já deixou para trás.

Entrevista - Joelinton, 18 anos

A chegada
"Eu apenas estudava e jogava na escolinha até essa peneira lá em Aliança. João Maradona (olheiro) foi quem me trouxe para cá. Foi tranquilo, apesar de eu ter vindo só. Nunca havia saído de casa. No começo, senti muita saudade. Tinha só 14 anos, mas fui me acostumando. Junto aos demais meninos, todos longe de casa, fomos nos juntando e nos ajudando."

Estudos
"Lá, eu estudava em escola pública. E quando eu fui convidado para morar aqui, a minha mãe avisou logo que eu tinha que seguir estudando. Hoje eu curso o terceiro ano (ensino médio) à noite. Às vezes, quando estou meio cansado, não vou. Mas vou conseguir terminar."

Infância
"Minha infância foi tranquila. Tenho somente uma irmã, meu pai trabalha no almoxarifado de uma usina e minha mãe é dona de casa. Desde pequeno, já jogava bola. Meu objetivo foi sempre buscar realizar o sonho de ser jogador e ajudar a minha família. Hoje já estou podendo ajudar um pouco. Estamos reformando a casa lá em Aliança."

No Sport
"Meu melhor momento foi no Brasileiro sub-17, em 2012. Foi a minha primeira competição fora. Fui atilheiro do time com três gols. Este ano, pela primeira vez fui artilheiro de uma competição, o estadual. Mesmo tendo passado dois meses machucado, ainda marquei 15 gols. Foi bom. Agora, estou no profissional. Os companheiros dão muita força. Rodrigo Mancha, Felipe Azevedo, me apoiam e dão conselhos. Estou vivendo um momento importante."

Seleção
"Foi em 2012, o técnico era Marquinhos Santos. Foi uma experiência muito boa, melhor impossível. Conhecer jogadores de fora, representar a seleção é uma responsabilidade grande. Passei uns 20 dias, joguei contra alguns, marquei dois gols. Foi importante para mim."

Eduardo Baptista
"Pude ouvir o que ele disse (os elogios) e fico feliz. Ele conversa muito comigo para ter calma e continuar fazendo o que faço nos treinamentos. Quando fui entrar no jogo, ele me chamou, disse que me iria colocar jogo e o que se eu fizesse algo errado a responsabilidade seria toda dele. Isso me dá tranquilidade. Agradeço muito a ele."
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Ficha técnica
Nome: Joelinton Cassio Apolinário de Lira
Data de nascimento: 14 de agosto de 1996 (18 anos)
Naturalidade: Aliança (PE)
Posição: atacante (centroavante)
Altura: 1,89 metro
Peso: 78 kg
Contrato com o Sport: até 2017
Jogos como profissional: 2

Pratas da casa que também já tiveram sua chance com Eduardo Baptista

Érico Júnior
Atleta de 21 anos, ele despontou no profissional para valer neste ano com Eduardo Baptista. Já fez 27 partidas nesta temporada. Mesmo criticado pela torcida, conta com todo a confiança do treinador. O atacante, porém, não vem sabendo aproveitar a chance da vida.

Ronaldo
Assumiu recentemente a titularidade na Série A. Volante de 20 anos foi sendo lançado aos poucos na equipe, entrando no decorrer dos jogos. Blindado pelo treinador, vem conseguindo corresponder. Já fez dez partidas no Brasileiro.  

Oswaldo
O zagueiro de 21 anos já havia aparecido bem na Série B do ano passado. Mas foi neste ano que se firmou sob o comando de Eduardo Baptista, deixando de ser promessa para se tornar realidade. Só deixou o time titular por estar machucado.