Futebol Nacional

Aniversário

Amor à primeira vista

Superesportes mostra a história de atletas de outros estados que escolheram Recife ou Olinda para morar

postado em 12/03/2012 10:39 / atualizado em 12/03/2012 10:49

Tiago Cisneiros /Superesportes

 LAIS TELLES/ESP. DP/D.A PRESS
Do alto dos seus 70 anos, Ivan Brondi contempla as orlas do Recife e de Olinda. Do alto dos seus 70 anos e, também, do Alto da Sé. Lugar que ele próprio elegeu como um dos mais bonitos das cidades-irmãs, aniversariantes do dia. Jogador que mais atuou na campanha do hexa alvirrubro, com 128 participações, Ivan é um dos ex-boleiros que trocaram a terra natal por um cantinho na capital pernambucana ou no reino dos bonecos gigantes. Uma relação de amor que, muitas vezes, tem início nos gramados dos Aflitos, do Arruda e da Ilha do Retiro.

A afinidade, no entanto, vai muito além do futebol. Passa, também, pelas histórias da terra, pelo povo acolhedor, pelas praias, pelas áreas verdes, pela cultura pulsante, pela família. Cada um desses ex-atletas tem seus motivos para celebrar os 475 anos do Recife ou os 477 de Olinda. Para chamar uma das cidades-irmãs de “lar, doce lar”. Vindos dos estados vizinhos, do eixo Rio-São Paulo ou até do Sul do país, eles encontraram os seus espaços no coração de Pernambuco. E não há adversário ou torcedor rival capaz de desmerecer ou ignorar essa paixão.

Paixão que, embora intensa, não é cega. Sem abrir mão dos elogios ao lugar onde escolheram viver, esses ex-jogadores sabem que não estão no paraíso. Por isso, não hesitam em apontar os seus problemas. Sejam eles antigos, como os alagamentos e a falta de infraestrutura de Olinda, ou novos, como o trânsito alucinante do Recife.

Ivan Brondi lamenta a violência. Nas ruas e nos estádios. “Sou do tempo em que as torcidas de Santa Cruz, Náutico e Sport assistiam aos jogos juntas. Meu sonho é que elas tenham mais grandeza, adotem um hospital, uma creche… Que usem a força, a união, para ajudar quem precisa.” Dica de quem está no alto dos seus 70 anos.

Bodas de ouro

O casamento com Olinda e Recife está prestes a completar meio século. Ivan Brondi chegou a Pernambuco aos 21 anos, em 1963. Nascido em Santa Cruz do Rio Pardo, interior de São Paulo, ele não era valorizado como atleta da base do Palmeiras. Saiu de lá em busca de uma chance para mostrar o seu futebol. Encontrou nos Aflitos, onde ficou por oito anos. Quando saiu, foi para se aposentar. Não é à toa que, até hoje, Ivan considera o estádio como um lugar especial do Recife. “A Arena será muito boa para o Náutico, mas tenho um lado saudosista. Nos Aflitos, tive muitas das grandes glórias da minha vida. É um pedaço de mim”, declara o ex-jogador, que se formou em odontologia quando ainda atuava pelo Timbu. Além dos Aflitos, Ivan Brondi aclama a praia de Boa Viagem, o casario e as igrejas de Olinda (onde mora), o Alto da Sé, o Parque 13 de Maio, o Horto de Dois Irmãos, a Praça de Casa Forte e o Parque da Jaqueira. “Foram parte da minha juventude”, diz.

Paixão imediata

O terceiro maior artilheiro da história do Náutico, com 184 gols, nasceu no Ceará e cresceu (mas não muito) no Rio Grande do Sul. Chegou ao Recife no início de 2001, aos 29 anos, sob a desconfiança da torcida alvirrubra, que via a exclusividade do  hexa ameaçada pelo Sport. Pressões à parte, Kuki se apaixonou de cara pela cidade. “Não conhecia ainda. Foi amor à primeira vista”, lembra o atual auxiliar técnico do Timbu, que fez o primeiro treino pelo Náutico na praia de Boa Viagem. Nos últimos 11 anos, Kuki só passou cinco meses longe da Veneza Brasileira (quando jogou na Coreia do Sul, em 2003). E é na capital pernambucana que ele pretende passar o resto da vida. “Só trocaria por Roca Sales, que é onde eu morava no Rio Grande do Sul. Só me identifico com essas duas cidades”, diz o ídolo timbu.

Pela paz e pela fé

Bicampeão pernambucano em 1986 e 1987 pelo Santa Cruz, o ex-zagueiro Ivan abriu mão de São Paulo (sua terra natal) e do Rio de Janeiro (onde viveu enquanto defendia o Vasco) na hora de escolher onde morar após pendurar as chuteiras. Em busca de tranquilidade para a família, optou por Olinda. “Quando decidi voltar de Portugal, onde jogava, meus filhos estavam entrando na adolescência. Eu e minha esposa ficamos preocupados, porque havia uma onda de sequestros relâmpagos no Sudeste. Então, viemos para Pernambuco”, conta. Aos 57 anos, Ivan é psicólogo, dono de uma loja de parafusos e ferramentas na Avenida Norte, no Recife, e pastor da Igreja do Nazareno, em Olinda. Apesar de enxergar muitos problemas na cidade, como o trânsito e a falta de infraestrutura, ele não se arrepende da escolha. “Posso olhar para trás e ver que foi que uma decisão direcionada pelo desejo de Deus. Se tivesse que fazer tudo de novo, faria.”

Pernambuco, sim, senhor

“Já sou mais pernambucano do que paraibano.” A frase é de Dário, ex-volante, cinco vezes campeão pernambucano pelo Sport, na década de 1990. Nascido em Campina Grande, ele passou 19 anos de sua vida no estado natal. No Recife, onde chegou depois de se destacar pelo Treze, está há 20. Conheceu a mulher e viu os dois filhos nascerem. Mesmo nos dois anos em que atuou fora do estado (no Ceará e no Paraná), os três ficaram na capital pernambucana. Para o ex-volante, um ótimo motivo para voltar. Desde 2005, quando encerrou sua história nos gramados, ele é agente de jogadores. Hoje, também faz cursos para se tornar treinador. Nas horas vagas, aproveita o que há de melhor no lar que escolheu para si. “Gosto muito de praia, e aqui tem umas maravilhosas. Sempre dou uma corridinha, jogo futevôlei. Também costumo curtir o fim de semana com a família”, diz.

O mascate da bola


Natural do Espírito Santo, Jarbas Aguiar desembarcou no Recife em 1984, vindo do Botafogo de Ribeirão Preto para o Santa Cruz. No ano seguinte, atuou pelo Náutico e conquistou seu primeiro título pernambucano. Em 1986,  voltou ao Tricolor, onde levantou a taça de 1987. Antes de ir para o Beira-Mar de Portugal, casou com uma pernambucana, com quem teve dois filhos. O vínculo familiar foi essencial para que voltasse ao Recife, após cinco anos em Portugal. Ainda jogou três meses pelo Náutico. Nesse tempo, realizou seu novo projeto: uma loja de material esportivo. “Aqui é tudo muito bonito, a beleza natural, a cultura… Tudo ajuda a gente a se apaixonar.” Mesmo nas viagens ao Espírito Santo, ele não abre mão do sotaque. O “oxente” é de lei.

“Voltei, Recife…”


Assim como Jarbas Aguiar, o ex-zagueiro Adriano, hoje com 38 anos, teve uma longa passagem pela Europa, mas decidiu se fixar no Recife. Nascido em Fortaleza, no Ceará, o ex-jogador (atualmente é empresário) estava no Ferroviário quando chamou a atenção de Santa Cruz e Sport. Acabou na Ilha do Retiro, onde foi campeão estadual em 1994, 1996 e 1997 e da Copa do Nordeste em 1994. Em 1997, Adriano atraiu os olhares europeus. Antes de partir para a Espanha, onde atuou por oito anos, correu para oficializar a relação com uma pernambucana. “Nos conhecemos, namoramos e casamos em oito meses. Era a única opção. Caso contrário, eu iria embora e ela ficaria aqui.” Após encerrar a carreira no Santa Cruz, em 2007, Adriano decidiu ficar no Recife. “A cidade é maravilhosa: a praia, a gastronomia e o povo, que é muito acolhedor. Até hoje sou cumprimentado nas ruas.”