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CHAPECOENSE

Todos os passos da tragédia nos ares

Reconstituição das situações vividas por piloto e passageiros do voo LMI 2933 mostra desafios enfrentados antes de acidente que vitimou 71 pessoas

RAUL ARBOLEDA/AFP
Duas aeronaves com problemas sérios e quatro minutos separando seus destinos. Os pilotos do voos Lamia 2933 e Viva Colombia FC 8170 pediram quase simultaneamente “prioridade de pouso” no Aeroporto José Maria Córdova, em Medellín, na Colômbia. Eram 21h30 e o pedido seria o suficiente para ambos em 99% das vezes. Não na noite de ontem. Às 21h51, a viagem interrompida entre Bogotá e San Andrés - trecho curto, quase rotineiro – seria encerrada com segurança em solo. É que no protocolo da aviação colombiana, segundo o presidente da Associação Colombiana de Aviadores Civis, Jaime Hernández, em caso de pedidos simultâneos de prioridade, prevalece o que fez o primeiro contato. Pouco mais de 200 segundos depois, a outra aeronave declarou emergência, despencando em seguida, junto aos sonhos populares de todo o elenco da Chapecoense, rendendo ao time um título que ninguém desejaria.

Os números expostos não são por acaso. Eles ajudam a enxergar mais que coincidências pouco fortuitas nesse roteiro de números secos e pesar profundo. A aeronave Avro-RJ85, de 17 anos, tinha autonomia para 3 mil km de percurso -  sem paradas para reabastecimento -, mesma distância aproximada entre Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, de onde partiu o voo com os brasileiros, e o local onde o voo fretado deveria pousar. Por decisão do piloto (e coproprietário da companhia Lamia), Miguel Alejandro Quiroga Murakami, a aeronave não fez qualquer parada antes da tentativa de pouso.

Ao jornal colombiano El Tiempo, também sócio da empresa, o empresário Gustavo Vargas, alegou que o plano de viagem para cobrir a rota realizada inclui escala em Cobija, na Bolívia. “De lá eles teriam que ver a possibilidade de seguir ou aterrissar em Bogotá (na Colômbia) para reabastecer. Era noite e, por conta da negação do Brasil, complicou um pouco. Se o piloto continuou, é porque podia. Se considerava falta de combustível, teria que parar em Bogotá para reabastecer”.


A negativa do primeiro voo, agendado para a tarde do dia 28, foi feito graças ao protocolo da Agência Nacional de Aviação Civil, uma vez que viagens fretadas só podem ser feitas no país envolvendo aeronaves de empresas dos países de origem ou destino - no caso, brasileiras ou colombianas. Como  Lamia é venezuelana e atua na Bolívia, a operação “cruzada” não seria permitida.

No Recife, o ministro da defesa, Raul Jungmann, afirmou ter disponibilizado dois aviões da Força Aérea Brasileira, um C-99, para realizar o transporte de autoridades envolvidas na liberação dos corpos, bem como o Hércules C-130, já pronto para voos em Manaus (AM), com a finalidade de realizar o traslado dos corpos. “Levando em conta a burocracia e a identificação das vítimas, a chegada dos corpos deve ocorrer dentro de dois dias”, estimou, desencorajando familiares a viajarem até a Colômbia e garantindo a distribuição das vítimas.

Os Avro RJ-85/Bae-146 são considerados seguros, mas estão associados a pelo menos 14 acidentes (sete deles com mortes), nos Estados Unidos, entre 1983 e 2015, segundo o Conselho Nacional de Segurança em Transportes dos EUA. Além disso, outras versões do Bae-146 estão ligados a pelo menos 13 incidentes, com um total de 223 vítimas fatais.