São Paulo

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Dia de glória para um tricolor muito especial

Conheça a história de Felipe Arnon, rapaz que teve paralisia cerebral, realizou o sonho de conhecer Rogério Ceni e foi pela primeira vez a um estádio de futebol

postado em 12/09/2014 12:30 / atualizado em 12/09/2014 12:38

Camila de Magalhães /Fundação Assis Chateubriand

Arquivo pessoal

O dia 10 de setembro de 2014 vai ficar na memória de Felipe Arnon Barbosa, 23 anos, para sempre. O estudante do Centro de Ensino Médio 12 de Ceilândia e aluno de bocha adaptada do Centro Olímpico e Paralímpico Parque da Vaquejada viveu momentos inesquecíveis. Sãopaulino apaixonado, o rapaz realizou o sonho de conhecer seu maior ídolo, o goleiro Rogério Ceni, ganhou abraços e sorrisos de jogadores como Kaká e Ganso, foi pela primeira vez a um estádio e assistiu a uma bela vitória do São Paulo sobre o Botafogo, por 4 a 2.

Felipe teve paralisia cerebral e as sequelas comprometeram os movimentos dos braços, pernas e a fala. Ao estádio, foi com a cadeira de rodas toda enfeitada com a bandeira do time. Desde a hora que chegou à arquibancada, a atenção era voltada ao campo. Mesmo com toda a dificuldade, ele vibrava na entrada dos jogadores, a cada lance do São Paulo, a cada gol. Dava para ver o brilho nos olhos e a emoção. O rapaz parecia não acreditar que estava ali. Era uma alegria só, um dia de glória. A mãe torcia junto com o filho, ao lado dos professores e de um colega da escola. Todos contentes e realizados por presenciarem um momento tão importante.

“Mais cedo no hotel, na hora que ele viu o Rogério, ficou paralisado, travado. Quando o goleiro veio, já abraçou, perguntou como era a vida dele e os professores foram falando. De repente, passei a mão no coraçãozinho dele e ele falou que o Rogério era do coração. Ele chamou o Ganso, falou com o Kaká e outros jogadores. O que deixou de lição para nós foi a humildade de cada um, como são humildes”, lembrou, emocionada, a mãe de Felipe, a dona de casa Sônia Barbosa.
Camila de Magalhães/FAC

Tudo começou com uma campanha criada por professores que acompanham Felipe na escola onde estuda. O professor de biologia José Guedes e o monitor de ensino especial Jefferson Carvalho da Silva lideraram a mobilização para que o sonho do rapaz fosse realizado. Amigos, familiares e conhecidos de Felipe aderiram ao movimento e compartilharam as publicações nas redes sociais. A equipe da Fundação Assis Chateaubriand no Centro Olímpico e Paralímpico também ficou sensibilizada com a história e apoiou a campanha. Até que a história chegou ao Ministério do Esporte e à diretoria do São Paulo Futebol Clube, que proporcionou o encontro com os jogadores no hotel em Brasília e presenteou Felipe com vários brindes do time e os ingressos para o jogo.

Felipe foi o primeiro aluno com deficiência do Centro Olímpico e Paralímpico Parque da Vaquejada. Participa de campeonatos de bocha, já viajou para Minas Gerais e coleciona 13 medalhas. A mãe lembra que o filho queria ser goleiro, mas acabou indo para a natação e bocha adaptada para ajudar no desenvolvimento motor. Entre uma aula e outra, no entanto, os professores o levavam na cadeira de rodas para o gol e brincavam com o rapaz, que só queria ser chamado de Rogério Ceni.

“Ele consegue se expressar sobre o que está sentindo e conseguiu o carinho de muita gente. É bem conhecido no Centro por ser sãopaulino fanático, vai todo uniformizado e com a luva de goleiro. Nos festivais, conseguimos fazer uma adaptação para ele jogar futebol. É um aluno bem assíduo e participativo, além de ser um excelente jogador de bocha de rendimento”, observa Rodrigo Rodrigues, coordenador do Núcleo de Pessoas com Deficiência da unidade esportiva.

O amor pelo São Paulo também foi explorado na escola, para facilitar o aprendizado do rapaz. O professor José Guedes percebeu que fazendo analogias dos conteúdos com o esporte e com o goleiro tricolor, Felipe assimilava melhor. “Começamos a fazer jogos, usar tecnologias assistivas. A gente desenvolve muito a motricidade dele através das linhas geométricas do escudo do São Paulo, assimila questões de biologia, e vegetação com o que tem no estado”, destaca Guedes.