COLISEU CEARENSE

No semiárido cearense, cidade de 16 mil habitantes terá 'Coliseu' para 20 mil

Estádio inspirado na arena de Roma está em construção na pequena Alto Santo, cidade no interior do Ceará que não tem time profissional. Projeto prevê arquibancada para 20 mil torcedores em um município com 16 mil habitantes

postado em 03/07/2014 08:46

Braitner Moreira - Enviado especial

Carlos Silva/CB DA Press

Alto Santo (CE) — Dois milênios depois de a dinastia flaviana entregar o Coliseu aos romanos, uma cidade escondida no semiárido cearense se prepara para inaugurar um estádio inspirado no monumento mais conhecido da Itália. Os 16 mil habitantes de Alto Santo se espalham por propriedades rurais, casas de alvenaria ao longo da rodovia CE-138 e dois prédios recém-construídos no centro do município. Todos têm algo em comum: aguardam, há quatro anos, a conclusão do Estádio Municipal. Ou Coliseu Alto-Santense, segundo a prefeitura.

Enquanto a Seleção Brasileira treina na capital do Ceará, apenas três homens trabalham na obra tocada a 240km de Fortaleza. Instalam o calçamento do estádio, que — jura o prefeito José Iran Paulino — será inaugurado ainda este ano. Em vez da estrutura oval do Coliseu clássico, a versão alto-santanse tem uma fachada reta de 50 colunas erguidas com tijolos e cimento, rebocadas com concreto. Entre elas, há a abertura para a passagem de ar e de iluminação. O restante do terreno será protegido por um muro mais simples, de custo menor. A obra conseguiu repasse de R$ 1,7 milhão do governo federal. Mas nem o atual prefeito nem o anterior, que idealizou o projeto, souberam informar o valor total da construção.

Do lado de dentro, o gramado que custou R$ 38 mil ainda não recebeu as traves nem as marcações, mas é regado diariamente e cortado com frequência. Por enquanto, entre o piso verde e as colunas, há espaço para 6 mil torcedores sentados. Se um dia o projeto inicial for retomado, o Coliseu comportará 20 mil espectadores sentados: a cidade inteira mais um punhado de visitantes. Além da construção de um túnel que liga o campo aos vestiários e a instalação de 10 lojas sob as arquibancadas, no melhor conceito arena multiuso.

Carlos Silva/CB DA Press
O primeiro estádio da história da cidade surge, de repente, à margem da rodovia que corta Alto Santo ao meio. Fica ao lado do ginásio municipal, onde ainda se concentra toda a atividade esportiva. No escritório do local, acumulam-se troféus e fotografias das conquistas em torneios estaduais. “Isso vai mudar. Claro que nosso foco vai passar a ser o futebol de campo, assim que o estádio for inaugurado”, atesta o professor de educação física Márcio Bezerra, faz-tudo da prefeitura quando o tema é esporte.

Num lugar em que metade da economia é impulsionada pela folha de pagamentos da prefeitura, é fácil encontrar quem diga que a obra melhorou a autoestima da cidade. A reativação do Alto Santo Esporte Clube será o próximo passo. O único time profissional criado desde 1957, ano de fundação do município, surgiu em 2007 e fechou as portas em 2008. Nesse período, a camisa listrada em azul e amarelo esteve em 19 partidas pela terceira divisão do Campeonato Cearense, mandando os jogos nas vizinhas Limoeiro do Norte e Russas. A expectativa é estar de volta no ano que vem, tornando-se o 41º clube profissional do estado, o segundo da região do Baixo Jaguaribe.

Sonho de craque

Jogar no estádio ao lado de casa é o sonho de Leon Mateus Nascimento. É ele o craque da cidade, todo alto-santense reconhece. Aos 20 anos, passou pelas categorias de base do Fortaleza e do Juventus-SP e se considera “um volante moderno, que sabe sair jogando”. Enquanto aguarda, trabalha para a prefeitura e incrementa os ganhos participando de partidas de várzea na região, chegando a faturar cachê de R$ 100 — nada mal num lugar em que o rendimento mensal médio é de R$ 266. Na capital, Fortaleza, o valor médio, por mês, é de R$ 1.414.

“Meu sonho é jogar aqui, nem toda cidade tem a sorte de ter um estrutura dessas”, discursa Leon, projetando estar em campo no dia da inauguração. O ex-prefeito Adelmo Aquino, idealizador da obra, foi diretor do Ceará na década de 1980 e ainda sonha convidar o alvinegro para um amistoso.

Enquanto não assume o posto de craque do estádio, Leon acompanha uma Copa do Mundo que parece estar mais longe do que os 240km entre o Coliseu e o Castelão. Mesmo assim, os jogos são o principal assunto da cidade nesses dias. Quando o Brasil vence, uma carreata sai em direção ao largo da Prefeitura, onde um show de forró é organizado num palco com a pintura de Fuleco. Encerra-se aí a influência do torneio sobre o município.
Carlos Silva/CB DA Press

A história do Alto Santo Esporte Clube

2007
5º colocado no Campeonato Cearense (3ª divisão)
7 vitórias, 4 empates e 1 derrota
26 gols marcados e 4 gols sofridos

2008
7º colocado no Campeonato Cearense (3ª divisão)
3 vitórias, 2 empates e 2 derrotas
15 gols marcados e 11 gols sofridos