Basquete

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Triste aniversário

Faz cinco anos que Universo, Flamengo e torcedores protagonizaram cenas de violência em Brasília após um dos jogos decisivos da temporada. Personagens envolvidos no caso analisam a confusão para o Correio

postado em 30/05/2015 15:26 / atualizado em 30/05/2015 15:32

Vítor de Moraes /Correio Braziliense

Gustavo Moreno/CB/D.A Press - 30/5/10

Enquanto Bauru e Flamengo se concentram para disputar o segundo jogo da finais do Novo Basquete Brasil (NBB) 2014/2015, em Marília (SP), o Ginásio Nilson Nelson, a 900km de distância, está melancólico. Lembranças de uma triste manhã se arrastam como vultos pela quadra. Há exatos cinco anos, o Brasil assistia às piores cenas dos últimos anos do basquete brasileiro.

Era 30 de maio de 2010, e o então Universo recebeu o Flamengo na terceira partida da final da temporada 2009/2010. O time brasiliense venceu os cariocas por 85 x 84 de forma tensa. Ao fim, o triunfo virou guerra. Jogadores do clube da Gávea trocaram socos com torcedores brasilienses. Foram vários minutos de correria, sangue e gás de pimenta.

A confusão foi parar na 5ª Delegacia de Polícia. Boletins de ocorrência foram registrados por brasilienses contra os atletas Duda, Hélio, Victor Boccardo e Wagner. No mesmo ano, o caso foi parar no 3º Juizado Especial Criminal de Brasília, e os jogadores se viram indiciados no artigo 129 do Código Penal (“ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem”). O processo arrastou-se por três anos e acabou arquivado em 2013, por “carência de justa causa para a ação penal.”

Hoje, Duda (Rio Claro), Hélio (Uberlândia) e Wagner (Mogi) ainda disputam o NBB. Boccardo joga basquete amador no Rio. O mais violento dos agressores de 30 de maio de 2010 foi Dedé, ala-armador do Flamengo à época. Ele retirou uma das barras de ferro que separavam a quadra da arquibancada e correu atrás de um torcedor. Atualmente, Dedé comanda o Limeira com a prancheta em mãos.

Nem todos gostam de falar sobre aquele domingo. “Você acha mesmo relevante lembrar isso?”, questiona Lula Ferreira, ex-técnico do time brasiliense, incomodado. “Não pude fazer muita coisa quando tudo começou, eles estavam muito agressivos. Para mim, o que ficou na memória foi o título, o mais importante”, ameniza Lula.

Naquele duelo, o Universo virou a série sobre o Flamengo para 2 x 1. Por isso, os atletas estavam tão irritados. Dias depois, a Liga Nacional de Basquete (LNB), por considerar a equipe do DF responsável pela falha de segurança, puniu o clube. O rubro-negro empatou a série (2 x 2), no Rio, e a decisão foi jogada em Anápolis (GO). O Universo terminou campeão.

Fãs na quadra

As imagens de internet não permitem identificar como a confusão começou. Naquela edição, o Universo estava acostumado a receber torcedores em quadra depois das vitórias. Ao fim do confronto, a entrada foi liberada. Mas os atletas rubro-negros ainda não haviam entrado no vestiário. Eles alegam terem sido provocados.

“Tinha um pessoal mais exaltado, vestindo camisa de um rival do Flamengo no futebol, que nunca tinha ido a jogos. Eles começaram a provocar os jogadores, que revidaram”, conta um torcedor que preferiu não se identificar. No meio da quadra, ele foi agredido por trás por um atleta, sem o reconhecer. “Foi um momento bem triste para a história do NBB. Quando vejo alguns envolvidos naquela confusão, lembro com pesar. Mas sem raiva de ninguém”, continua o fã.

Castigo na esfera esportiva

Depois de analisar as imagens e de conversar com testemunhas, a Liga Nacional de Basquete (LNB) puniu o Universo com multa de R$ 30 mil e suspendeu Hélio (quatro jogos), Dedé (cinco), Jefferson (três), Wagner, Vitor Boccardo e Duda (um). O gancho foi cumprido na temporada seguinte.

 

Erro admitido

 


Cerca de 14.500 torcedores foram ao Ginásio Nilson Nelson assistir à trágica partida. Dezenas deles desceram à quadra para comemorar a vitória por apenas um ponto de diferença (85 x 84). Nada anormal, a cena era comum no Ginásio da Asceb, onde o time brasiliense jogava a temporada regular. O problema foi a falta de atenção da equipe do Universo.

“Hoje, com a cabeça mais fresca, vejo que erramos em alguns pontos. Não podíamos ter deixado a torcida entrar em quadra sem ter visto se o último atleta do Flamengo estava no vestiário”, admite Marco Bajo, ex-supervisor do Universo. No momento da liberação para a entrada dos fãs brasilienses, os flamenguistas passavam por trás de um backdrop (painel para entrevistas) para evitar contato com os torcedores adversários.

No entanto, segundo Espanha, do Universo, o armador Hélio mudou o trajeto para o vestiário e passou pelos brasilienses que comemoravam. “Acredito ter sido um ato pensado. Eles provocaram para que a consequência fosse a que foi, para perdermos o mando de quadra. Erramos, mas houve extrapolação por parte deles também”, analisa.

Quando os flamenguistas finalmente estavam no túnel de acesso aos vestiários, houve mais confusão. A polícia entrou em cena e usou gás de pimenta. O supervisor do Flamengo, André Guimarães, foi parar no hospital. Irmão dele, o ala Marcelinho deixou o ginásio para acompanhar André.

O regulamento da edição 2009/2010 do NBB permitia a entrada de torcedores, com a condição de não haver mais jogadores visitantes em quadra. A liberação ainda existe, mas não se vê mais essa “invasão”. “Aquela confusão ajudou a melhorar (a situação). Não vemos mais torcidas entrando em quadra. Infelizmente, aquilo teve de acontecer para evitar se repetir”, diz o armador Fred, atleta do Flamengo em 2010. Ele não se envolveu na briga, apenas tentou acalmar os companheiros. “Foi feio ver aquelas imagens de gente correndo para lá e para cá. Serviu de lição”, atesta.

O Correio entrou em contato com a assessoria de imprensa do Limeira, mas Dedé não foi localizado. Hélio, que disputou a última temporada por Uberlândia, também não.