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Distrito Federal tem primeiros atletas na Seleção Brasileira de paracanoagem

postado em 12/02/2014 10:44

O vento sopra forte à beira do Lago Paranoá, mas ainda é pouco para refrescar o calor que o sol de meio-dia provoca. Deslizando sobre a água, dois caiaques vêm e vão com incrível velocidade. Os jovens no comando de cada prancha mostram intimidade com o equipamento, mas precisam de ajuda na hora de sair dele. Revelações do esporte local, Kal Brynner e Andréa Pontes são paraplégicos e os primeiros atletas radicados em Brasília a integrar a Seleção de paracanoagem do Brasil.

Kal, de 24 anos, tem sorriso fácil. Tagarela, conta quase sem respirar toda a sequência de fatos desde o acidente de carro que o deixou paraplégico, em 2008, até a descoberta da canoagem por ele, no ano passado. Quando começou no atletismo, em 2009, não pensava em se tornar atleta profissional. “Eu só gostava de andar na cadeira especial, muito mais veloz do que a comum. Era como um carro esportivo pra mim”, recorda Kal.

Se a corrida era uma brincadeira, ele logo conheceria o esporte que mudou sua vida. Convidado por um amigo para remar no lago, não conseguiu sair do lugar na primeira vez: “Morri de medo quando entrei no caiaque, pensei que ia me afogar. Mas meu colega disse que eu tinha força, que era para continuar. Aí, conheci a Diana”.

Paula Rafiza/Esp. CB/D.A Press


Diana Nishimura é uma das melhores técnicas da paracanoagem brasileira. Descobriu, entre outros talentos, o tetracampeão mundial da modalidade, Fernando Fernandes. No último campeonato brasileiro, em outubro do ano passado, os quatro primeiros colocados da categoria A (atletas que movimentam só os braços) foram pessoas que começaram no esporte com ela.

A parceria de Diana Nishimura com Kal rendeu resultados rapidamente. Há 10 meses, o brasiliense sentou-se no caiaque pela primeira vez. Hoje, é vice-campeão brasileiro e está na Seleção de paracanoagem.

Andréa, de 30 anos, tem história parecida, mas personalidade diferente. Irônica, nas vezes que abre o sorriso, é para fazer piada de Kal. A sulista chegou a Brasília em 2008, após o acidente de carro que a deixou paraplégica. Veio à capital fazer tratamento no Hospital Sarah Kubitschek, referência no país na recuperação de lesões no aparelho locomotor.

Na cidade, a jovem conheceu um leque de esportes que poderia praticar mesmo na cadeira de rodas. Tentou atividades que mostrassem à família que ela não precisava ficar cercada de tantos cuidados e se encontrou na canoagem. “Eu topava tudo. Fiz esgrima e detestei. Tentei tênis de mesa, mas achei tudo chato”, detalha.

Convite
O esporte dos caiaques surgiu como opção para a jovem quando uma funcionária do hospital a convidou para remar no lago. Na primeira vez, mostrou aptidão. Tanto que chamou a atenção de Diana Nishimura, atual técnica. “Eu fiquei doida quando vi a Andréa. Forte, ombro largo, gostava de esportes. Fiz o convite para ela conhecer a escola, tinha certeza de que daria certo”, lembra Diana.

Andréa começou os treinamentos em janeiro de 2013. Um ano depois, é campeã brasileira na sua categoria e também integra a Seleção. Kal e Andréa embarcam, ainda neste mês, para os alojamentos da Universidade de São Paulo, onde serão bancados pela Confederação Brasileira de Canoagem. O investimento é claro: pela primeira vez, o esporte fará parte dos jogos paralímpicos.

“Os dois reúnem boas chances de irem para os Jogos de 2016 e trazerem medalha. Com um ano, já temos grandes resultados e, se continuarmos o ritmo, vamos melhorar. No Campeonato Brasileiro, o Kal ficou um segundo atrás do Fernando Fernandes, que é o melhor do mundo. Sendo que o Kal é mais novo, treina há menos tempo. Tem tudo para chegar mais longe”, aposta Diana Nishimura.

Se a canoagem mudou alguma coisa na vida dos atletas? Kal prontamente responde que sim. Andréa, que, durante o tempo todo, afirmava que leva praticamente a mesma vida do tempo em que andava, pensa melhor e diz: “A diferença é que só fui fazer o que queria depois do acidente. Sempre quis ser atleta, mas me formei em direito antes. A canoagem me deu outro destino”, conclui.