Mais Esportes

Wakeboard substitui o esqui aquático no Lago Paranoá

postado em 12/04/2014 16:40

Maíra Nunes - Especial para o Correio

Na década de 1970, era difícil imaginar que o Lago Paranoá viria a se tornar um agitado centro de esportes. No início de Brasília, as casas que hoje tomam o Lago Sul eram poucas e havia menos clubes na orla. Raras eram as pessoas que se aventuravam a desafiar o receio de contaminação e cair na água, que só viria a ser despoluída quase duas décadas mais tarde. “Pouca gente praticava, muitos achavam o lago sujo”, recorda o empresário André Romão, de 38 anos. Longe do mar, o que ganhava espaço na nova capital do país era uma modalidade atualmente pouco vista por aqui: o esqui aquático. Nela, o atleta precisa ter equilíbrio para deslizar sobre a água usando os esquis em alta velocidade, puxado por uma corda presa a uma lancha.

“Durante 10 anos ou mais, o esqui foi a principal atividade esportiva do Lago”, conta Aluísio Xavier de Albuquerque, de 60 anos. Há meio século, ele se mudou de Manaus para a capital recém-inaugurada. Longe de lembrar o ambiente saudável que temos atualmente — inclusive como um dos pontos turísticos da cidade —, a aparência do Lago Paranoá não atraía a população brasiliense para aproveitar com mais intensidade as possibilidades de lazer. “Antes, o lago era escuro e saíamos cheios de algas dele. Tínhamos de buscar na paixão pelo esporte a coragem para entrar na água”, reconhece Aluísio.

O prazer da prática desperta em Aluísio de Albuquerque um saudosismo dos tempos em que passava os sábados e domingos inteiros no lago, na companhia dos amigos, a bordo da lancha do pai. Por mais suja que a água aparentava ser, o que motivava a reunião do grupo de rapazes era justamente a prática do esqui. “Era uma coisa meio Clube do Bolinha”, conta o veterano. Hoje, parte dos equipamentos esportivos usados por Aluísio nos anos 1970 compõe a decoração do barco que possui. “Na época, os esquis eram de madeira. Depois, veio o de fibra de vidro, acompanhado pelo de fibra de grafite. Íamos comprando o que aparecia de novidade”, relembra.

Antes de decorar a embarcação, o acervo estava guardado na casa do pai de Aluísio, o aposentado Xavier de Albuquerque, hoje com 88 anos. Para encontrar as relíquias, foi preciso vasculhar nos armários abarrotados por objetos já esquecidos e empoeirados da residência, próxima à Ponte das Garças e do Gilberto Salomão, no Lago Sul. Também é lá que está, bem mais à vista, a embarcação de 1969, própria para puxar o esquiador. “Mantemos a lancha funcionando até hoje, embora não a usemos mais”, ressalta Aluísio.

A lancha da família Xavier foi aposentada no fim da década de 1990, mas apenas depois de muita atividade. “O esqui aquático era a ginástica do meu pai”, conta Aluísio. Xavier de Albuquerque esquiava cerca de 50 minutos todos os dias, logo cedo pela manhã. “Era sagrado, ele praticava inclusive no inverno. Havia vezes em que saía de casaco”, emenda o filho, orgulhoso.