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Treinamento acima do nível do mar ajuda ciclistas a melhorarem o desempenho

postado em 24/04/2014 12:09 / atualizado em 24/04/2014 12:15

Jéssica Raphaela /Correio Braziliense

Pedalar em altitude não é especialidade dos brasileiros. Mesmo os candangos que diariamente treinam a 1.172 metros acima do nível do mar têm dificuldade em conseguir um bom desempenho em locais altos. Muitos, no entanto, recorrem à dificuldade para melhorar o rendimento na bicicleta. A estratégia, aparentemente paradoxal, tem embasamento científico. Períodos prolongados em locais como Bolívia, Colômbia e Espanha ajudam o corpo a se sair melhor em competições de ciclismo, tanto em alta quanto em baixa altitude.

Passado o desconforto inicial, começam os benefícios. “No nível do mar, a concentração de oxigênio no ar gira em torno de 21%. Quando a gente eleva a altitude, a pressão atmosférica fica menor e a concentração de oxigênio também”, explica o fisiologista do exercício Guilherme Pontes. A vantagem surge quando o corpo tenta se adaptar às novas condições. O organismo passa a produzir mais glóbulos vermelhos, responsáveis por transportar o oxigênio às células. Assim, o ar é mais bem aproveitado e o desempenho aeróbico do atleta melhora.

Arquivo Pessoal

Em busca dos benefícios proporcionados pela altitude, o ciclista Mário Veríssimo já passou dois períodos na Colômbia. A primeira vez foi no ano passado quando, por indicação da amiga Clemilda Fernandes — ciclista olímpica —, ele ficou 30 dias em solo vizinho. “Ela já havia ido algumas vezes para treinar em altitude e organizou a viagem inteira para mim”, conta o goiano de 25 anos, que iniciou na carreira por ser mecânico de bicicleta.

O retorno ocorreu no início deste ano, quando Mário ficou em Tunja, a 2600 metros do nível do mar, por dois meses. O intercâmbio o ajudou a ter mais resistência durante as provas. “Minha respiração não fica ofegante e não fico cansado tão rápido”, explica o goiano, que venceu o Desafio Caldas Novas de Mountain Bike no último fim de semana. O benefício, no entanto, tem prazo de validade, já que os glóbulos vermelhos têm, em média, 120 dias de vida.

Segundo Alberto Jara, dono da equipe brasiliense ICE Racing Cycling Team, da qual Mário é integrante, o ciclista aumentou o hematócrito (porcentagem ocupada pelos glóbulos vermelhos no volume total de sangue) de 40 para 49,5. “O limite da União Internacional de Ciclismo é de 52% de glóbulos vermelhos no sangue. A gente percebe que, quanto mais ele se aproxima dessa taxa, mais resultados expressivos ele consegue”, afirma, destacando que o atleta voltará à Colômbia para se preparar para o Campeonato Brasileiro.

Tanto benefício não vem sem sofrimento. O mal-estar inicial desse tipo de treinamento acometeu o ciclista, que sofreu nos primeiros dias. “Meu nariz sangrou, senti uma pressão maior na respiração, como se o pulmão estivesse expandindo e tive uma dor muscular na região do tórax”, relata. O fisiologista Guilherme Pontes explica que essa reação do corpo é normal e varia em cada indivíduo. “Quando essa concentração de oxigênio no ar é reduzida, causa mal-estar em qualquer pessoa que não é adaptada, principalmente em atletas. É preciso um período de aclimatação”, completa.

 

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