Mais Esportes

ESPECIAL JOAQUIM CRUZ

Joaquim Cruz recorda passo a passo do ouro olímpico que completa 30 anos

Nem o nervosismo do treinador Luiz Alberto nem o congestionamento de Los Angeles. Nada abalou o jovem de 21 anos nos momentos que antecederam a final dos 800m rasos

postado em 02/08/2014 22:23 / atualizado em 06/08/2014 11:34

Gustavo Marcondes /Correio Braziliense , Lorrane Melo /Correio Braziliense

Arquivo/AFP
O sol começava a se pôr no Los Angeles Memorial Coliseum, completamente tomado, quando os oito corredores se posicionaram para a largada da final dos 800m rasos. Apesar de ser o segundo atleta mais jovem daquela prova, Joaquim Cruz, aos 21 anos e quatro meses, demonstrava calma nos momentos que antecederam o tiro. Não o abalava o fato de ser considerado o favorito, mesmo ao lado do recordista mundial e medalhista olímpico Sebastian Coe. Quando os corredores alinharam, foi Cruz que a transmissão oficial da tevê norte-americana focalizou. Menos de dois minutos depois, ele seria consagrado o primeiro brasileiro campeão olímpico na pista.

A tranquilidade podia surpreender quem não conhecia o jovem garoto brasileiro, mas não aqueles que conviviam com Joaquim. “Ele era muito focado. Tinha um talento enorme, mas chegou aonde chegou porque treinava com muita seriedade”, recorda o treinador Luiz Alberto de Oliveira, que descobriu Cruz nas pistas do Sesi de Taguatinga e seguiu ao lado do atleta até o fim da carreira. “Ele não era muito de conversa, de festa. Gostava de ficar na dele.”

O poder de concentração de Joaquim Cruz era tamanho que nem mesmo a final olímpica lhe tirava o sono. “Dormi muito bem na noite anterior (à prova)”, relembra o campeão, em conversa com o Correio. “Levantei cedo e tentei seguir a mesma rotina dos dias anteriores. Mas aí o Luiz Alberto me chamou para andar a seu lado, e aquela pareceu a caminhada mais longa da minha vida”, ri Joaquim. “Acho que ele estava nervoso, mas eu queria poupar energia para prova. Fiquei um pouco ansioso”, confessa.

No dia a dia da vila olímpica em Los Angeles, o meio-fundista tinha uma rotina, como ele mesmo descreve, “quase militar”. Alimentava-se apenas o necessário, dava uma caminhada leve e descansava praticamente todo o restante do tempo. Gostava de ficar sozinho, concentrando-se.
Nas preliminares, o planejamento não poderia ter dado melhores resultados. Joaquim havia passado como o mais rápido entre todos os concorrentes, inclusive vendo amigos como Agberto Guimarães e Zequinha Barbosa ficando pelo caminho antes da final. Na semifinal, Cruz venceu sua bateria com o tempo de 1min43s82. Havia sido o único a correr abaixo do 1min44s.


Na ida para o Memorial Coliseum, outro empecilho que poderia ter desconcentrado um atleta comum. Mas não Joaquim Cruz. “Aquele dia, não lembro por que, tinha um trânsito pesado em Los Angeles, entre a vila olímpica e o estádio. Cheguei a me questionar se ia dar tempo de chegar. O Luiz (Alberto Guimarães) ficou desesperado. Mas, no fim, aproveitei para tirar uma soneca no ônibus”, brinca o campeão.
O aquecimento foi realizado na pista auxiliar ao Estádio Olímpico. Ali, Joaquim começou a sentir o clima da final. Era o mesmo local em que ele tinha trabalhado em todos os outros dias de olimpíadas. Estava sozinho. Sentia-se em casa. Deu uma volta completa pela pista e só então tomou o transporte para o local da prova.

“Quando entrei no estádio, com aquele público todo, e vi meus adversários, me veio um jato de emoção no corpo. Eu havia conseguido controlar a energia para o momento certo”, analisa, 30 anos depois, o ex-atleta. “Senti meu corpo muito bem. Estava superconfiante.” O dia era mesmo especial para Joaquim Cruz, que fez parecer fácil cruzar a linha de chegada com ampla vantagem sobre os rivais e, de quebra, bater o recorde olímpico.