Mais Esportes

SURFE

Medina pode realizar sonho de infância e ser o primeiro brasileiro campeão da modalidade

Aos 20 anos, o paulista está muito perto de superar Kelly Slater no Circuito Mundial

postado em 20/09/2014 16:34 / atualizado em 20/09/2014 16:49

Lorrane Melo /Correio Braziliense

Gabriel Medina ganhou a primeira prancha de surfe aos 7 anos. Aos 9, disse para a mãe, Simone, que um dia seria campeão mundial. Ela levou as palavras do garoto a sério. Talvez por isso, comente hoje, com tanta tranquilidade e confiança, sobre a possibilidade de o filho, atualmente com 20 anos, se tornar o primeiro brasileiro a faturar o principal título da modalidade. A três etapas do fim da temporada, o paulista lidera o Circuito Mundial, com 6.500 pontos à frente do segundo colocado, o ídolo dele, Kelly Slater, considerado o melhor surfista de todos os tempos.
AFP PHOTO / GREGORY BOISSY

Enquanto Medina desafia as ondas, a mãe dele cuida da loja de surfwear que a família tem na principal rua de Maresias, litoral norte de São Paulo. Evangélica, ela mobiliza corrente de orações para que o rapaz realize o grande sonho.

O padrasto, Charles, é quem acompanha a ascensão meteórica. Foi ele, hoje o “braço esquerdo e o direito” do surfista, o primeiro a avisar que o garoto era “diferente” — e não só pela hiperatividade diagnosticada: eles chamam Gabriel de exímio goofy footer. O termo, em terra firme, nada mais é do que o canhoto que tem a perna esquerda como ponto de apoio e pisa na prancha com o pé direito na frente, sem deixar de surfar com as costas para a parede da onda (backside) e voar. Ou seja, uma raridade que demora para ser lapidada.

Em tudo, porém, Gabriel sempre foi precoce. Aos 11 anos, já estava competindo. Aos 15, se tornou o mais jovem surfista brasileiro a ingressar no Circuito Mundial. Entre os 36 melhores do planeta, ganhou, de cara, duas etapas da primeira divisão (em Hossengor, na França, e em São Francisco, nos Estados Unidos). Além disso, faturou quatro provas na divisão de acesso. Assim, entrou na briga pelo título já em 2011. Agora, é o brasileiro que por mais tempo mantém a ponta do ranking mundial.

O título sonhado ainda criança nunca esteve tão perto. Desde a criação, em 1976, o Circuito Mundial só foi vencido duas vezes por atletas de fora do eixo Estados Unidos-Austrália. Gabriel luta, portanto, para ser o primeiro nos últimos 25 anos.

Superado na etapa de Teahupoo pelo jovem, Kelly Slater, dono de 11 títulos mundiais, disse que “ele (Gabriel Medina) é o cara mais perigoso do mundo do surfe”. A declaração deixou Gabriel “amarradão”. “Ouvir isso do melhor de todos os tempos é demais. Não me acho perigoso assim”, conta, modesto.

Cada vez mais popular e com um reality show para chamar de seu — o Mundo Medina está na segunda temporada e é transmitido toda segunda-feira, às 21h, pelo Canal Off —, Gabriel é o top 2 das mídias sociais. Conta com 475 mil seguidores no Instagram e 400 mil no Facebook, ficando atrás apenas de Slater (e sua popularidade com modelos e atrizes de Hollywood).
AFP PHOTO / NICOLAS MOLLO

Gabriel não namora porque “dá muito trabalho”, segundo a mãe, nem gosta de ostentar, mesmo já tendo alcançado o primeiro US$ 1 milhão em premiações na carreira. Só com as etapas vencidas neste ano, embolsou US$ 352 mil em bônus (cerca de R$ 830 mil). Apesar dos impostos que abocanham a metade do valor, a família Medina vive tranquilamente do surfe de Gabriel — e da loja.

A casa onde moram todos, em um condomínio em frente à praia de Maresias, a 36 metros do mar, ao contrário da antiga (comprada com as economias dos pais), foi construída com o dinheiro do filho famoso. A obra acabou sendo projetada para atender as necessidades do jovem, que já pensa em ter uma pousada ou um hotel na cidade. “Muitas vezes, não consigo fazer as coisas de que gosto. Sinto falta de ficar com a minha família e com os meus amigos”, admite Gabriel, que no novo espaço conta com 300m² de jardim, churrasqueira, piscina, cinco suítes, academia e piso de borracha para os treinos funcionais.