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NADO SINCRONIZADO

Brasilienses de 12 a 16 anos faturam quatro títulos brasileiros de nado sincronizado

Elas encaram uma rotina bem diferente da adotada pelo colegas da mesma idade para sonhar com voos mais altos

Minervino Junior/CB/D.A Press

Quem passa desatento ao lado da piscina não imagina que as quatro meninas “brincando” de balé na água estão entre as melhores atletas do país em uma modalidade olímpica. O sobe e desce de pernas se alterna com mergulhos e risadas. Poderia ser apenas um grupo de amigas à procura de refresco para o calor de 30º C que fazia na tarde da última quarta-feira, mas ali estavam as maiores esperanças do nado sincronizado brasiliense. Com idades entre 12 e 16 anos, Yasmin Yamamoto Chaves, Ana Beatriz Azevedo, Luana Sayuri e Maria Fernanda Gomide são bicampeãs brasileiras da modalidade.

Para estarem no topo do nado sincronizado, há três anos as meninas têm vida de atleta profissional. Além de lidar com as provas na escola, fazem aulas de pilates, inglês, natação, corrida e balé. Folga, só aos domingos, quando aproveitam para desafogar o acúmulo dos deveres de casa. Sair da dieta, nem pensar. Rotina bem diferente da dos colegas de sala. “Eles têm tempo para dormir à tarde, comer besteira”, compara Yasmin, sem arrependimento. “Podem se dedicar mais à preguiça”, brinca.

Aos pais, resta a maratona diária de levar as filhas a cada compromisso. Ana Paula Gomide, mãe de Maria Fernanda, chega a gastar dez tanques de gasolina por mês. A recompensa vem com a disciplina e maturidade que as atletas adquirem. “O resultado vem desde as notas boas na escola até não deixar roupa espalhada no chão, ajudar a lavar a louça”, elogia Ana Paula.

Manter um adolescente envolve despesas consideráveis, mas, para as famílias das atletas, os gastos ficam bem maiores. Os pais calculam que, só com os custos ligados ao esporte, desembolsam R$ 3 mil por mês. Mesmo com os resultados expressivos, o quarteto não tem patrocínio. “Até agora, o máximo de ajuda que consegui foi um desconto no balé”, conta Erika Yoshida, mãe de Luana.

Passar pelo funil

Para conquistar o título da categoria infantil, Yasmin derrotou 42 concorrentes. Maria Fernanda e Luana, na categoria juvenil, ganharam o ouro de duplas, à frente de outras 20 adversárias. A mais velha, Ana Beatriz, da classe júnior, precisou vencer apenas quatro concorrentes. Retrato do nado sincronizado que agoniza no Brasil. Por falta de incentivo, quanto mais experientes as atletas, maior o número de desistências.

As brasilienses também entram nessa conta. Com maturidade, elas admitem que a carreira no esporte não deve se estender caso a modalidade continue sem maiores atrativos. Sem retorno financeiro, não há amor que aguente. Até a elite do nado sincronizado não tem o que comemorar. A seleção feminina recebe salário de R$ 800, mais benefícios do Bolsa Atleta. Complementam a renda com apresentações musicais ou propagandas para televisão, quando ganham R$ 400 pelo cachê.

Como alternativa, Maria Fernanda procura por bolsas de estudo no exterior, para juntar a necessidade do diploma de Direito à paixão pelas piscinas. Ana Beatriz é mais sonhadora e quer se graduar em educação física para dar aulas da modalidade. “Acredito que posso formar uma nova geração de atletas, potencial nós temos”, considera.

Por hora, Brasília ainda tem a melhor safra de jovens do nado sincronizado à disposição. Resta saber até quando a falta de patrocínio vai desperdiçar essa geração de talentos.