Mais Esportes

FUTEBOL AMERICANO

Família de Cairo Santos se adapta à fama do kicker na NFL

Paulista radicado em Brasília, atleta deixou a capital com 15 anos para ser o primeiro brasileiro na Liga

postado em 19/10/2014 18:51 / atualizado em 25/12/2017 20:52

Daniel Ferreira/CB/D.A Press

Quando Cairo Santos decidiu fazer um intercâmbio nos Estados Unidos, o garoto de então 15 anos via a vida sofrer a primeira turbulência, sem imaginar que o destino tomaria outra rota. Há pouco mais de um mês, o “filme” da vida do paulista radicado em Brasília ganhou repercussão internacional: contratado pelo Kansas City Chiefs, Cairo, hoje com 22 anos, entrou para a história do esporte nacional como o primeiro brasileiro a disputar a NFL — Liga de Futebol Americano. Na sexta partida como profissional, diante do San Diego Changers, hoje, a ficha de Cairo parece ainda não ter caído. Na cabeça dele, os pedidos de autógrafos, flashes e gritos chamando por seu nome na saída do estádio ainda se confundem com cenas da ficção.

De Brasília, a família acompanha todos os passos desde que Cairinho, como é chamado pela irmã Talita Fernandes e pela mãe Magali Turatti, experimentou trocar a bola redonda pela oval ainda durante o período escolar norte-americano. Mesmo assim, elas só puderam mensurar o peso do feito de Cairo quando experimentaram a sensação de vê-lo de dentro do estádio. “Para mim, todo esse assédio é surreal. Gente, é meu irmãozinho”, confessa Talita, um ano mais velha.

Aos poucos, elas vão conhecendo a dimensão que o futebol americano tem nos EUA. Após a notícia da contratação, elas conseguiram escapar das obrigações de trabalho para visitar Cairo, e deram sorte — assistiram às duas vitórias do Chiefs na temporada. Na saída de uma das partidas, enquanto descansavam sentadas na calçada, um torcedor perguntou se elas tinham algum parentesco com o kicker do time, já que usavam a camisa com o número 5 de Cairo. “Respondemos naturalmente que sim e, para nossa surpresa, o fã quis tirar uma foto conosco“, lembra a irmã, entre risos e olhares ainda deslumbrados.

Do Brasil, os amigos de infância podem sentir a explosão de popularidade de Cairo por meio da página do jogador no Facebook, que bombou de mensagens e saudações desde a publicação da conquista. “Ele busca sempre manter contato com os amigos, que são todos muito orgulhosos e sempre postam alguma notícia o parabenizando”, diz a irmã. Nesse aspecto, nem a distância, nem o jeito avoado de Cairo foram capazes de esfriar as amizades deixadas em Brasília. “Às vezes, o Cairo demora meses para responder a uma mensagem, mas todo mundo entende, porque sabe que ele é meio desligado”, entrega Talita.

Saudades do tempero

Daniel Ferreira/CB/D.A Press
Os anos fora do Brasil moldaram Cairo a um estilo bem americano. “O jeito de se vestir, de falar dele, hoje, é bem típico de lá”, comenta a irmã. Já a saudade da comida brasileira parece que não há tempo que a faça apagar da memória do jogador. “A nossa comemoração do contrato com o Chiefs, quando nos encontramos em Kansas, foi um almoço com uma comidinha feita por mim, simples e bem brasileira, do jeito que ele gosta”, conta a mãe, orgulhosa do mimo.

Nos períodos de férias pela capital, Cairo sempre carrega um saco com seis bolas de futebol americano na bagagem. Até conhecer o Tubarões do Cerrado, time que pratica a modalidade em Brasília, Cairo improvisava alguns treinos no Parque da Cidade. Duas palmeiras, próximas uma da outra, ganhavam forma de gol. O desafio era acertar os chutes de longa distância entre elas. Em casa, o improviso era com dois postes mais altos ao lado da piscina.

A bola era o melhor brinquedo de Cairo desde pequeno. “Quando morávamos em apartamento, ele não parava quieto com bolas de futebol. Mudamos para uma casa e os muros nunca foram altos o suficiente para impedir que ele a isolasse para o vizinho”, lembra a mãe Magali, da época que o Cairinho já tinha força de adulto, capaz de impressionar o pai, em tamanho de criança.