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VIDA ESPORTIVA

Norte-americano representa o DF no Campeonato Brasileiro Máster de Remo

Robert Schneider tem no currículo uma olimpíada como ciclista

postado em 01/11/2014 16:35 / atualizado em 01/11/2014 16:55

Maíra Nunes - Especial para o Correio

Ed Alves/CB/D.A Press

A pele queimada de sol, os óculos escuros espelhados e uma bandana laranja para proteger a cabeça fazem Robert Schneider, de 70 anos, se destacar entre dezenas de remadores que invadem o Lago Paranoá entre 6h e 7h. O norte-americano, que iniciou no esporte há três anos em Brasília, será o mais velho representante do Clube do Remo no Campeonato Brasileiro Máster da modalidade, de 15 a 16 de novembro. Apesar de ser novato na prática, Bob, como é chamado, conta com vasta experiência em competições, mas como ciclista. Ele, inclusive, participou de uma Olimpíada com a seleção dos Estados Unidos há mais de 40 anos.

As lembranças de um dos momentos mais especiais na vida de um atleta, no caso de Bob, foram manchadas por um sentimento amargo, que ficou para a história do evento. Não pela queda que sofreu, provocada por um adversário que caiu bem na frente dele logo no início da prova de ciclismo, mas por ter vivenciado o ataque terrorista que abalou os Jogos Olímpicos de Munique, em 1972.

“Estávamos instalados em dormitórios concentrados em um espaço como se fosse um estádio de futebol. Helicópteros chegavam ao estádio e saíam a noite inteira. Nós (atletas) não sabíamos bem o que estava havendo, só surgiam notícias de que se tratava de ataques terroristas”, conta. Durante as Olimpíadas, houve massacre de 11 atletas israelenses. Eles foram rendidos e mortos na vila olímpica.

A organização acabou prorrogando por três dias as competições, enquanto avaliava se encerrava ou não o evento. “Eles optaram por continuar os Jogos, mas já não havia clima”, lamenta.

À época, havia um ano e meio que Bob tinha entrado na seleção dos Estados Unidos de ciclismo. O país estava envolvido com a Guerra do Vietnã, e Bob conta que a aparência dele dificultou o ingresso na equipe. “Eu tinha uma barba grande e não raspava as pernas como os demais ciclistas, ou seja, era todo errado para os padrões do time”, descreve. “Eu tinha um jeito caipira e com aspectos que eram avessos politicamente ao que estava vigente nos EUA.”

O golpe de sorte acabou sendo o fato de a equipe tê-lo conhecido já nas provas seletivas que a confederação organizou com cerca de 60 atletas. “Havia uma certa panelinha com um grupo de ciclistas, mas eu realmente fui muito bem nas provas de seleção e não tiveram como me tirar. Fui para as Olimpíadas de barba e tudo”, diverte-se.

Os treinos e o esporte viraram prioridade na vida de Bob até a chegada dos Jogos de Munique. Depois, uma tese de doutorado o esperava para ser finalizada. Os estudos e, em seguida, a carreira como economista o consumiram. “Adoro esporte e competição, mas passei a participar de eventos menores e não voltei mais para a seleção”, diz.

Por causa do trabalho, Bob mudou-se para Brasília em 1994. Em um passeio de bicicleta no Parque da Cidade, o americano se encantou por uma brasileira que andava de patins. A tal moça se tornaria esposa dele, mãe dos dois filhos e a quase garantia de seguir no Brasil mesmo após a aposentadoria. “Eu adoro Brasília. O clima daqui é dos melhores do mundo para esportista”, elogia.

Apenas aos 67 anos, Bob realizou uma promessa que fez ainda nos tempos em que era universitário. “Quando eu passava pelo lago no trajeto que fazia de bicicleta da minha casa para a faculdade, via as pessoas remando e pensava: ‘Que lindo, vou fazer isso quando estiver aposentado’”. E foi só começar a praticar no Clube Naval para ele perceber que a modalidade não era bem como idealizava há algumas décadas. “Eu sempre faço tudo com muita força, sou muito competitivo e não tinha técnica nenhuma, então, caía do barco toda hora. Fiquei campeão de virar barco. Só agora é que estou conseguindo sentir a beleza e a sensualidade da remada que eu via nas outras pessoas praticando.”