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ESPORTE PARALÍMPICO

Jovem ganha dois ouros na 1ª vez em que pulou numa piscina olímpica

Antes do Parapan de Jovens, Gabriel treinava numa raia de 16 metros, no interior paulista

postado em 25/03/2017 16:25 / atualizado em 25/03/2017 16:31

CPB/Divulgação

Até ganhar dois ouros nos Jogos Parapan-Americanos de Jovens de São Paulo, Gabriel Nascimento, 14 anos, nunca havia entrado em uma piscina olímpica, de 50 metros. Há cerca de um ano e meio, também nunca tinha nadado. Rapidamente, o garoto que perdeu a visão aos 10 anos devido à meningite aprendeu não somente a nadar, como passou a competir. Os treinos, porém, eram em uma piscina de 16 metros. Diante da possibilidade de disputar uma competição internacional, o morador de Jaú, interior paulista, conseguiu uma piscina de 25 metros para se preparar. Foi o máximo que encontrou na cidade onde mora.
 
“No primeiro dia que eu nadei na piscina do Parapan, achei ela muito grande e fiquei muito cansado. Mas pensei que tinha de encarar esse desafio. E consegui pegar resistência para atravessar a de 50 metros”, conta. A primeira vez que Gabriel entrou em uma piscina oficial de competições olímpicas e paralímpicas foi há menos de uma semana das provas, quando já estava em São Paulo e pôde treinar no Centro de Treinamento Paralímpico antes do evento. Deu certo. Durante o Parapan, ganhou ouro nos 100m e 50m livre na classe S11, de atletas com deficiência visual.
 
CPB/Divulgação
Gabriel é um daqueles talentos que parecem só esperar uma oportunidade para mostrar o potencial que têm. O responsável pela descoberta foi o treinador Rinaldo Luchesi, que o convidou para conhecer a modalidade na Associação e Movimento de Assistência ao Indivíduo Deficiente (Amai). Para convencer Gabriel, que mora com a irmã, o professor disse que não seria necessário pagar mensalidade. “Ele dizia que eu dava para virar atleta”, lembra Gabriel. Até o início de 2017, as aulas eram duas vezes na semana.
 
A frequência mudou com as chances de Gabriel ser convocado para o Parapan de Jovens. Em janeiro, o treinador arrumou uma piscina de 25 metros, mas pediu para que o pupilo passasse a treinar todos os dias, duas horas por dia. “Na hora, pensei que não daria para mim. Mas meu professor insistiu para eu abrir mão de alguns cursos para focar na natação, porque eu teria chances de competir no Parapan”, conta Gabriel. A convocação se confirmou. “Todo mundo ficou feliz. Choraram e tudo com a notícia, foi muito legal. E eu passei a treinar para caramba, pela grande responsabilidade que é representar o meu país”, completa.
 
Após as conquistas na primeira competição que disputou em piscina de 50 metros, Gabriel sabe que não terá vida fácil. “Estou enrolado. Agora que meu professor vai querer que eu treine mais ainda”, brinca. O sorriso não saia do rosto do menino que se diz muito agitado, característica que ele julga ajudá-lo a “aprender fácil as coisas”. “Me adaptei rápido quando perdi a visão. Descobri a natação e, agora, vou continuar, pois quero representar novamente o Brasil.”

A repórter viaja a convite do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB)