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Com o Tigres, México quer implodir fama de vice e deixar lição na América do Sul

Clube enfrenta o River Plate na final do torneio, a partir desta quarta-feira

postado em 29/07/2015 10:53

Marcos Paulo Lima /Correio Braziliense

AFP PHOTO/RONALDO SCHEMIDT
A América do Sul viu a Europa conquistar as últimas três Copas (2014, 2010 e 2006), os últimos dois Mundiais de Clubes da Fifa (2014 e 2013) e pode ter de engolir, a partir desta quarta (29/7), o título inédito de um país convidado na final da Libertadores. Dono da quarta melhor média de público entre os principais campeonatos nacionais do planeta — atrás apenas de Alemanha, Inglaterra e Espanha (ver quadro) —, o México aposta no atrevido Tigres para exorcizar a fama de vice e colocar a emergente Liga MX definitivamente na vitrine. Cruz Azul (2001) e Chivas Guadalajara (2010) perderam o título para Boca Juniors e Internacional, respectivamente.

Carrasco colorado na semifinal, o Tigres é o símbolo do sucesso de uma revolução em curso para modernizar o futebol mexicano. A liga nacional do país asteca tem média de 25.556 pagantes — contra 16.068 do Campeonato Brasileiro. No México, cada clube é uma franquia controlada por uma empresa. Técnico demitido no meio da competição não pode ser contratado. Comandante do Tigres, o brasileiro Ricardo Ferretti, 61 anos, ocupa o cargo desde 20 de maio de 2010. É o mais estável da primeira divisão. Em tese, isso o ajudou a construir um time a médio e longo prazos.

Na Liga MX, dirigente irresponsável é afastado do cargo e há intervenção no clube. Em 2013, Amado Yanes Osuna, presidente do Querétaro, foi acusado de fraudar o banco Banamex. A Liga MX colocou o clube à venda. O Grupo Imagem, proprietário da rede de tevê Cadena Três, abriu o cofre e comprou. Contratou Ronaldinho Gaúcho, e o Querétaro acaba de ser vice-campeão do Torneio Clausura. Perdeu o título para o Santos Laguna.

Campeão da Libertadores em 1986 e 1996, o River Plate tem o apelido de Milionarios, mas na decisão que começa hoje no Estádio Universátio, em Monterrey, o clube cheio da grana é o Tigres. Segundo o site alemão transfermarkt, o elenco é avaliado em US$ 50,1 milhões — US$ 2 milhões a mais do que o rival argentino.

Bancado pela Cemex — uma multinacional de materiais de construção com 44 mil empregados em 50 países, fabricação de 94 milhões de toneladas de cimento e faturamento de US$ 15,1 bilhões —, o clube investiu pesado para chegar à final da Libertadores. Aplicou US$ 18 milhões nas contratações de Jürgen Damm, considerado pela Fifa o segundo jogador mais rápido do mundo, adquiriu o driblador Javier Aquino e fechou com o nigeriano Uche.

Salário em euro
O lance mais ousado foi a contratação do vice-artilheiro do último Campeonato Francês. A proposta a André-Pierre Gignac, xodó de Marcelo Bielsa no Olmpique de Marselha, foi de 12 milhões de euros por três anos de contrato. O centroavante de 29 anos não só topou como fez a diferença na partida de volta diante do Inter.

O companheiro de ataque de Gignac também não saiu barato. O Tigres tirou Rafael Sobis do Fluminense, e o jogador não se arrepende de ter deixado o Brasil. Depois de eliminar o Inter, Sobis comentou a incrível festa da torcida em entrevista ao FOX Sports. “Aqui é sempre assim. Todo jogo tem estádio cheio.”

A média de público é de 42 mil. Como a venda de cerveja no estádio é liberada, o Tigres fatura em média US$ 200 mil por jogo com bebidas. A torcida tem um bom poder aquisitivo e ajuda a pagar algumas regalias. O salário médio no Tigres é de US$ 150 mil. Se conquistar a Libertadores, o elenco dividirá um bicho animador de US$ 40 milhões. Há outros mimos. O time viaja em voo fretado em deslocamentos acima de 100km de distância. Para se ter uma ideia, o River Plate “contou as moedas” para alugar uma aeronave de Buenos Aires até Monterrey, palco do primeiro jogo da final.