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Inglaterra e Rússia são exemplos de que a importação de técnicos nem sempre é bom negócio

Em meio ao debate sobre a necessidade de a CBF contratar um técnico estrangeiro capaz de ressuscitar a Seleção Brasileira, paises mostram o outro lado da moeda

postado em 31/07/2015 11:05

Marcos Paulo Lima /Correio Braziliense

Adenor Leonardo Bachi, o Tite, não fica no muro nem faz discurso corporativista. No que depender da opinição dele, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) pode entregar a prancheta da Seleção a um técnico estrangeiro, mas com uma condição: “Tem de ser técnico bom”, desafiou nesta semana. Inglaterra e Rússia fizeram a experiência. Se arrependimento matasse, nunca mais voltariam a contratar um comandante importado. Os dois casos dão combustível para a turma do contra, liderada, entre outros, por Carlos Alberto Parreira, atear fogo à ideia.

Em jejum de títulos desde a Copa de 1966, a Inglaterra imaginou que a solução seria entregar a prancheta a um treinador não britânico. No início deste século, a FA decidiu contratar o badalado sueco Sven-Göran Eriksson. À frente de uma das melhores gerações dos últimos tempos, foi eliminado pelo Brasil nas quartas de final do Mundial de 2002 e de 2006, tombou na mesma fase na Euro-2004 e deixou o cargo com 59,7% de aproveitamento. Vítima de uma pegadinha do tabloide sensacionalista The News of the World, falou mal de Beckham, Owen e Ferdinand, pediu desculpas, mas não teve clima para continuar no emprego.

O inglês Steve McClaren herdou o cargo e não conseguiu sequer classificar a Inglaterra para a Euro-2008. A solução foi novamente contratar um estrangeiro. O italiano Fabio Capello levou o país à Copa de 2010. No entanto, deu o azar de cruzar com a Alemanha nas oitavas. Capello pediu demissão e saiu com o melhor aproveitamento da história entre todos os técnicos da história da seleção inglesa (66,7%). O clima pesou depois das críticas à FA por ter passado por cima dele ao decidir cassar a braçadeira do capitão John Terry. O zagueiro era acusado de insultos raciais contra Anton Ferdinand — irmão de Rio Ferdinand — em um jogo da Premier League. O atrito com a FA provocou o fim do contrato.

“Tanto Sven-Göran Eriksson quanto Fabio Capello tiveram de lidar com o discurso conservador de que é antipatriótico a seleção não ter um técnico inglês. Eriksson teve sucesso para administrar isso, mas faltou habilidade a Capello para gerenciar esse tipo de problema. Isso ficou provado recentemente, na passagem dele pela Rússia”, analisa ao Correio o colunista da revista World Soccer, Keir Radnedge.

Favorável à contratação de técnicos estrangeiros para seleções, o jornalista critica a entressafra inglesa. “Não temos nenhum treinador de alto nível. Nenhum inglês conquistou o título nacional desde que a Premier League foi fundada, na temporada de 1992/1993. Por isso, à exceção do Manchester United, que foi comandado por muito tempo pelo escocês Alex Ferguson, todos os outros times de ponta preferem estrangeiros”, diz Keir.

Tá russo
A anfitriã da Copa de 2018 também venceu o preconceito que o futebol brasileiro se recusa a enfrentar. Os últimos três técnicos da Rússia eram importados, dois deles da badalada escola holandesa. Guus Hiddink brilhou. Levou o país às semifinais da Euro-2008 ao desbancar a Holanda nas quartas, mas fracassou nas Eliminatórias para a Copa de 2010. Dick Advocaat classificou a Rússia para a Euro-2012. Porém, não foi além da fase de grupos.

A Federação Russa apostou, então, em um contrato milionário com Fabio Capello para um projeto de seis anos até a Copa de 2018. O italiano classificou a Rússia para o Mundial de 2014, foi eliminado na primeira fase e fazia péssima campanha na seletiva para a Euro-2016. Atrasos salariais e o mau desempenho encerraram o vínculo.

“Não tenho restrições a treinadores estrangeiros. Até 2006, só tivemos técnicos russos. Aí, diziam: Gazzaev convocou os irmão Berezutskiy porque ele treina o CSKA. Nós precisamos de estrangeiros porque eles não têm conexão com nenhum clube, não conhecem empresários russos”, diz ao Correio o jornalista russo Grigory Telingater, do Eurosport. “Muitos dizem que os estrangeiros só querem dinheiro, que eles usam tradutores e há perdas na comunicação, mas penso diferente. Tudo depende da pessoa, e não do passaporte”, opina Grigory.


Não chega a ser novidade...
Cinco das oito seleções campeãs do mundo tiveram ao menos uma vez um técnico estrangeiro

Brasil
O argentino Filpo Núñez comandou a Seleção em uma partida na qual o Palmeiras vestiu a amarelinha, em 1965, na inauguração do Mineirão. O Brasil goleou o Uruguai por 3 x 0.

Uruguai
O argentino Daniel Passarella comandou a seleção celeste em parte das Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa do Mundo de 2002, mas deixou o cargo no meio do caminho.

Inglaterra
Entregou a prancheta duas vezes a treinadores estrangeiros. A primeira tentativa foi com o sueco Sven-Göran Eriksson. Depois, contratou o italiano Fabio Capello. Nenhum deles deu título ao país.

Espanha
Teve dois técnicos nascidos nas Filipinas — Eduardo Teus López e Paulino Alcántara — e um uruguaio, José Santamaría. O húngaro naturalizado espanhol Ladislao Kubala também dirigiu La Roja.

França
Em 1966, a França tinha dois treinadores. Um deles, o espanhol José Ribas, estrangeiro. De 1973 a 1975, a seleção esteve entregue ao romeno Stefan Kovács.