Futebol Nacional

MERCADO DA BOLA

Representante de Ronaldinho, Roberto Assis vira o vilão número 1 do futebol brasileiro

Ao dificultar a contratação do craque, Assis tem transformado em pesadelo o sonho dos clubes de contratar o ex-melhor do mundo

Rodrigo Clemente/EM/D.A Press - 26/11/13
Ronaldinho Gaúcho tinha oito anos quando perdeu o pai. A referência dele passou a ser o irmão. A carreira de Roberto Assis inspirou o futuro do guri. Apontado como uma das maiores promessas do futebol brasileiro, Assis não decolou como se esperava. O sucessor, sim. Eleito duas vezes o melhor jogador do mundo, R10 delegou todas as decisões da carreira ao homem da família. Desde então, Assis tornou-se herói de quem de fato virou craque. Assis peitou o Grêmio para levar o menino ao Paris Saint-Germain. Emplacou no Milan um jogador desprezado por Pep Guardiola no Barcelona. No retorno do ídolo ao Brasil, conseguiu tomar de outros antipáticos agentes o status de inimigo número 1 do país.

O episódio mais recente das conturbadas e arrastadas negociações conduzidas por Assis frustrou o centenário do Palmeiras. O clube paulista jura ter atendido a todos os caprichos do representante de Ronaldinho Gaúcho em 10 dias de negociação. A oferta salarial partiu de R$ 200 mil, teto da atual gestão alviverde, e chegou a R$ 650 mil após trocas de telefone, mensagens e conversas via whatsapp. Muito barulho por um contrato de quatro meses. Aparentemente, tudo estava certo. R10 viajaria do Rio para se apresentar no coquetel de aniversário do Palmeiras, em São Paulo. A diretoria pagou R$ 600 na Federação Mineira para liberar a documentação. Na hora de assinar o contrato, um suposto mal entendido entre Assis e Paulo Nobre quanto ao bônus que seria pago ao jogador abortou o negócio. Pela terceira vez, R10 e seu estafe diziam não ao Palmeiras.

As lembranças das outras negociações de Assis foram imediatas. Em 2011, deu sinal verde para Palmeiras e Grêmio. O tricolor gaúcho mandou para o gramado do Olímpico caixas de som para a festa de apresentação. Ronaldinho Gaúcho apareceu no Flamengo. Quando manteve a discrição, acertou em cheio ao levar o irmão para o Atlético-MG após a conturbada saída do rubro-negro.

Assis não é persona non grata apenas no Grêmio, no Palmeiras e no Flamengo, com quem Ronaldinho Gaúcho trava uma batalha judicial após o divórcio. A Associação Brasileira de Agentes de Futebol acusa o concorrente de não ser um agente credenciado pela Fifa. “Até seis, sete meses atrás, a Fifa permitia que um parente ou pessoa próxima representasse um jogador. É o caso do Assis. Ele não é agente. Há uma ligação afetiva com o irmão dele. Não vejo nada muito profissional nisso”, diz em entrevista ao Correio o presidente da Abaf, Jorge Moraes.

Um influente agente carioca que pediu anonimato chega a dizer que Assis faz leilão nas negociações. “O irmão dele sempre tratou as transferências do Ronaldinho dessa forma, de abrir muitas janelas e tratar como um leilão. No fim da história, como o Assis não consegue dividir o Ronaldinho em três ou quatro, ele fica mal com os demais clubes com os quais não fechou o acordo”, critica.

A reportagem deixou ddois recados na caixa de mensagem do telefone celular de Assis, mas ele não retornou. Em entrevista ao SporTV, o representante de R10 deu uma versão sobre o negócio frustrado. “É muito fácil sempre colocar a culpa no representante do atleta. O problema é que eles mesmos deixam vazar informações e depois têm que dar explicação a uma torcida inteira que cobra resultados. Negócios no futebol: uns dão certo e outros não. E não adianta buscar motivos agora”, disse.

O Palmeiras contra-atacou. “Não entendi. O que aconteceu foi que o Assis estressou. Essa foi a única satisfação que nos deram. Não tem condições. Aceitamos todas as solicitações. Alinhamos tudo. Estava fechado. O Assis mandou um recado por meio do procurador quando a documentação estava com eles. Disseram que estressaram, eram reivindicações de um grande jogador. Acertamos absolutamente tudo”, lamenta o vice de futebol Maurício Galliote.

Relações de amor e ódio com Assis:

Grêmio
Depois de perdoar Ronaldinho Gaúcho por ter saído em uma polêmica transação com o PSG, o tricolor abre negociação com o craque e chega a um acordo com Assis para repatriá-lo da Europa. O presidente Paulo Odone chega a colocar caixas de som no gramado do Olímpico para apresentá-lo, mas o Flamengo vence o leilão.

Flamengo
Em 2011, o rubro-negro vence o leilão contra Grêmio e Palmeiras e apresenta R10 em uma festa apoteótica na Gávea. O casamento celebrado na gestão da presidente Patrícia Amorim vira divórcio em uma batalha judicial que se arrasta desde 2012. O craque cobra R$ 40 milhões de salários atrasados.

Atlético-MG
A negociação mais discreta de Assis foi um sucesso. “No caso do Ronaldinho, demos sorte. Ele fez uma Libertadores e um Brasileirão impecáveis quando fomos vice (2012). Virou o maior ídolo da história do Atlético, começou e terminou bem. Nunca tivemos problema com o Assis”, diz o diretor de futebol do Galo, Eduardo Maluf.

Palmeiras
É quem mais sofreu na relação com Assis. Em 2011, o presidente Luiz Gonzaga Belluzo jura ter ouvido sim do representante de R10 e se deu mal. O reforço dos sonhos foi para o Flamengo. No ano passado, acertou salários, mas renovou com o Atlético-MG. Na quarta, deu o bolo no aniversário de 100 anos.

Santos
À caça de um clube após saída do Galo, o estafe de R10 planta que há uma negociação com o Santos. O presidente Odílio Rodrigue nega publicamente. “Não pretendemos contratar mais ninguém. O Comitê de Gestão e a comissão técnica entendem que nosso plantel está fechado “, afirmou o cartola.