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Cruzeiro: saiba como possível rebaixamento impactará em receitas de TV no Brasileiro

Time celeste corre risco de ter prejuízo de, no mínimo, R$ 43 milhões

postado em 15/10/2019 06:00 / atualizado em 15/10/2019 19:08

<i>(Foto: Bruno Haddad/Cruzeiro)</i>
Com 73,1% de chances de ser rebaixado à Série B, segundo cálculos de probabilidade do Departamento de Matemática da UFMG, o Cruzeiro terá de alcançar pelo menos sete vitórias nas últimas 13 rodadas para assegurar a permanência na primeira divisão e evitar um comprometimento ainda maior de suas finanças. Na 18ª posição, com 22 pontos, o time celeste enfrentará o São Paulo, quinto colocado, com 43. A partida pela 26ª rodada do Campeonato Brasileiro começará às 21h desta quarta-feira, no Mineirão.

O desempenho esportivo ruim em 2019 impacta nas contas do clube, que completou, na semana passada (7), dois meses de salários atrasados (agosto e setembro). Gestor do departamento de futebol azul desde a demissão de Itair Machado, Zezé Perrella tenta adiantamento com a TV Globo para receber direitos de transmissão do Campeonato Mineiro de 2021, uma vez que os da edição de 2020, conforme o dirigente, já foram liquidados. Outra saída é buscar recursos junto a Pedro Lourenço, dono do Supermercados BH e patrocinador da Raposa.

Quitar dívidas emergenciais seria uma espécie de paliativo, pois até o fim de 2019 haverá remunerações de outubro, novembro e 13º, incluindo direitos de imagem. Em julho, relatório da comissão de sindicância instaurada por Perrella, na função de presidente do Conselho Deliberativo, apurou que em abril de 2019 o Cruzeiro gastou R$ 20,2 milhões em salários com jogadores, funcionários e prestadores de serviço. Passivos posteriores não foram informados, mas, em toda a temporada 2018, a despesa com pessoal fechou em R$ 226 milhões (média de R$ 18,8 milhões mensais).

O custo alto no departamento de futebol cruzeirense evidencia o quão será fundamental garantir a permanência na primeira divisão. As receitas de televisão, por exemplo, cairiam drasticamente em caso de queda à Série B. A cota fixa do campeonato é de R$ 6 milhões líquidos, mais R$ 2 milhões em logística. Conforme matéria publicada pelo jornalista Rodrigo Mattos, do portal UOL, sobre um eventual rebaixamento do Fluminense, o contrato prevê uma saída: o clube pode abrir mão dos R$ 6 milhões em troca de manter os direitos de pay-per-view. Nesse caso, o Cruzeiro teria direito a R$ 19,5 milhões (cerca de 3% do montante destinado aos clubes pela Globo).

Em 2019, o dinheiro proveniente de direitos de transmissão foi dividido em três partes: 40% de forma igualitária (R$ 22 milhões para cada clube), 30% por exibição de jogo na TV aberta e 30% por posição no campeonato. O problema é que times rebaixados não arrecadam um real sequer, já que, pelo contrato, a Globo só paga do campeão (R$ 33 milhões) ao 16º (R$ 11 milhões).

Se porventura escapar do rebaixamento e terminar o Brasileiro em 16º, o Cruzeiro fechará o ano com a cota fixa de R$ 22 milhões, a premiação de R$ 11 milhões pela posição na tabela, uma quantia referente à transmissão de partidas na TV aberta (atualmente em R$ 10 milhões, mas podendo aumentar na reta final do campeonato) e os R$ 19,5 milhões em pay-per-view. A soma seria de pelo menos R$ 62,5 milhões. Em caso de descenso, o clube provavelmente optaria pela manutenção da receita de pay-per-view na segunda divisão em 2020 e teria prejuízo de, no mínimo, R$ 43 milhões.

Vale lembrar que o Cruzeiro comprometeu cerca de R$ 70 milhões em receita de TV com o Polo Clubes Fundo de Investimento em Direitos Creditórios, empresa criada em 2012 pela Polo Capital com o objetivo de antecipar aos clubes brasileiros parte do que a Globo paga pela transmissão do campeonato nacional em TV aberta e fechada.

Em agosto, o Superesportes revelou que o Cruzeiro antecipou cotas de julho de 2019 a outubro de 2022. Para receber à vista, o clube precisou abrir mão de R$ 12 milhões (17% do total), tendo adiantado, na prática, R$ 58 milhões.

Durante as negociações, o presidente Wagner Pires de Sá foi avisado por pessoas próximas que a antecipação de cotas relativas a 2022 – depois de seu mandato – poderia ferir exigências impostas pelo Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidades Fiscal do Futebol Brasileiro, o Profut (lei de agosto de 2015).

Em seu Artigo 4º, parágrafo IV, a lei diz que é 'proibido antecipação ou comprometimento de receitas referentes a períodos posteriores ao término da gestão ou do mandato'. Salvo em duas ocasiões: a) o percentual de até 30% (trinta por cento) das receitas referentes ao 1º (primeiro) ano do mandato subsequente; b) em substituição a passivos onerosos, desde que implique redução do nível de endividamento.

Diante disso, dois meses depois de fechar o acordo e preocupado com possíveis consequências, Wagner assinou documento oficial, mantido em sigilo e também obtido pela reportagem, justificando que o contrato assinado não fere o Profut, uma vez que, segundo ele, o dinheiro seria utilizado em “substituição a passivos onerosos do Cruzeiro EC, implicando na redução do seu nível de endividamento”. Não há detalhes, no entanto, sobre onde o dinheiro foi utilizado.

Assim, desde julho de 2019, a Globo tem depositado na conta do fundo Polo Clubes, em vez de pagar ao Cruzeiro, parcelas mensais que variam de R$ 2 milhões a R$ 2,5 milhões até outubro de 2022.

Outras receitas

Em 2020, o Cruzeiro sentirá os impactos de não disputar a Copa Libertadores, torneio que lhe proporcionou, somente com premiação, R$ 13 milhões em 2018 e cerca de R$ 16 milhões em 2019. Uma possível queda para a Série B dificultaria na montagem de um time competitivo que pudesse brigar até mesmo para vencer a Copa do Brasil, que rendeu R$ 64,35 milhões ao Athletico-PR, campeão em 2019. A própria Raposa já teve oportunidade de lucrar alto na disputa eliminatória: R$ 61,9 milhões pela conquista de 2018.

Por isso, o discurso alinhado de comissão técnica e jogadores é de que o Cruzeiro, sim, vai se livrar da queda para a Série B. “Tenho certeza de que vamos continuar na Série A. Estamos num momento de dificuldade, assim como todo clube passa, as circunstâncias todos já sabem. Mas creio sim no Cruzeiro na Série A”, afirma Éderson, um dos poucos elogiados pelos torcedores por causa do bom desempenho individual desde que se tornou titular. “Acho que não adianta desesperar neste momento. Precisamos manter um pouco mais de calma. Se mantivermos a calma e darmos o nosso melhor, vamos reverter. Nosso grupo é qualificado, experiente”, concluiu o volante.

Em seu balanço financeiro de 2018, o Cruzeiro apresentou arrecadação recorde, de R$ 383 milhões, porém aumentou sua dívida geral, de R$ 386 milhões (2017) para R$ 520 milhões. O Conselho Deliberativo chegou a aprovar a captação de um empréstimo de R$ 300 milhões junto a um fundo internacional que pagaria os débitos em curto prazo, mas as investigações de casos de corrupção da diretoria inviabilizaram a operação.

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