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No Cruzeiro, Enderson Moreira tem conhecimento acadêmico como aliado para fazer sucesso; leia opiniões sobre o treinador

Professor dos tempos de UFMG e ex-analista de desempenho do América destacam capacidade didática do novo comandante da Raposa

postado em 26/03/2020 06:00 / atualizado em 26/03/2020 18:11

(Foto: Divulgação)
No futebol, é comum ver os atletas se referindo ao técnico de sua equipe como “professor”. No caso de Enderson Moreira, do Cruzeiro, há literalidade no tratamento, já que ele é graduado em educação física pela Universidade Federal de Minas Gerais, em 1996, e deu aulas tanto no tradicional Colégio Magnum quanto em uma escolinha no bairro Letícia, na Região de Venda Nova, em Belo Horizonte. Um dos trunfos que o comandante de 48 anos tem para alcançar o sucesso na Toca da Raposa II é justamente a compreensão da área acadêmica. Profissionais que conhecem bem sua filosofia de trabalho acreditam que a Raposa acertou em cheio na escolha do substituto de Adilson Batista.

“Eu acho que o Cruzeiro tomou uma decisão certíssima. O Enderson tem um perfil de Série B, provou isso em alguns clubes que trabalhou, mas também conhece muito a Série A. Conhece como ninguém, também Minas e o Cruzeiro. Tem uma visão dos dois níveis. Sabe o que é preciso para estar na Série B”, afirmou Jurandy Guimarães Gama Filho, professor da UFMG, em entrevista ao Superesportes.

De acordo com o docente da Federal, o treinador cruzeirense era bastante estudioso e trocava a personalidade comedida na classe pela liderança quando entrava em campo. “Enderson foi um aluno de destaque. Na escola, passam alunos que a gente sabe que serão grandes profissionais. Já tinha, ali, um perfil de comando, de liderar a turma. O Enderson não é de falar muito, como aluno ele não era um cara de falar, mas entra em campo, dirigindo, já vira um líder. Como aluno, era um cara mais comedido, estudioso. O perfil é o que manda. Comprometimento é a palavra”.

Embora não tenha jogado futebol profissionalmente, Moreira foi atleta de categoria de base, com passagens por Venda Nova Futebol Clube e Sete de Setembro - espécie de ‘time B’ do América. “O Enderson começou como jogador, foi atleta dessa equipe, e depois iniciou a carreira como treinador lá mesmo com a gente, dirigindo a equipe sub-20 que tínhamos. Passou pelo sub-17 e depois foi para sub-20”, contou Gama Filho, que destacou principalmente o “perfil aguerrido” do ex-aluno.

“Ele sempre teve esse perfil guerreiro, dentro de campo já era um cara que brigava, comandava, muito aguerrido. Esse perfil vem com ele até hoje. É um cara de muito estudo. Até pela nossa origem na faculdade. Fundamentalmente, ele é muito determinado, cobrava muito dele mesmo, cobrava muito dos atletas. É a característica dele. Trabalha muito, cobra muito”.

Em quase três décadas no mundo da bola, Enderson acumulou experiência na base, exercendo funções de preparador físico, auxiliar e treinador. Em 2007, aos 35 anos, conduziu o Cruzeiro ao título da Copa São Paulo de Futebol Júnior e, a partir dali, ganhou visibilidade no futebol. Seu trabalho de resultados mais expressivos foi pelo Goiás, entre setembro de 2011 e dezembro de 2013. O time conquistou a Série B de 2012 e os estaduais de 2012 e 2013, além de alcançar um honroso sexto lugar no Brasileiro de 2013.

Enderson também se firmou no América, de julho de 2016 a junho de 2018. Em 2017, sagrou-se campeão da Série B pela segunda vez, desbancando o favorito Internacional. Integrante daquela comissão técnica, o analista de desempenho Rui Pedro Sousa, atualmente no Farense de Portugal, destacou primeiramente o lado humano do novo técnico do Cruzeiro em conversa com a reportagem do Superesportes.

"Não há como dar opinião de uma pessoa que está no futebol sem separar aquilo que é o homem dentro das quatro linhas e a pessoa cá fora. De fato, há muita coisa a dizer do Enderson enquanto pessoa, porque ele vem de raízes muito humildes e, ao longo da vida, tornou-se uma pessoa sempre acolhedora, amiga do amigo. Foi isso que encontrei durante quase dois anos de trabalho com ele”, analisou o português, um dos responsáveis pela modernização do Centro de Análise de Desempenho e Mercado do América.

“O sucesso que ele tem enquanto homem do futebol tem a ver com aquilo que é a pessoa no dia a dia. Além disso, é mineiro, acho que isso é importante referir. Eu próprio, quando estive no Brasil durante quatro anos, notei a diferença do que é o cidadão mineiro do restante do Brasil. É um povo acolhedor, e eu tenho essa imagem do Enderson. É uma pessoa de conversa fácil, que tem personalidade forte, sem dúvida, mas com uma base de humildade e convicções”, complementou.

Conhecimento acadêmico


Para Rui Sousa, o conhecimento acadêmico de Enderson Moreira tende a ajudá-lo a potencializar o elenco do Cruzeiro, que, com muitos jogadores jovens, não engrenou sob o comando de Adilson Batista. Antes da paralisação das competições esportivas no Brasil devido à pandemia do coronavírus, o time celeste se encontrava na quinta posição do estadual, com 14 pontos, e vivia situação delicada na terceira fase da Copa do Brasil, ao perder para o CRB por 2 a 0, no Mineirão, pela partida de ida.

"Dentro das quatro linhas, há de se destacar, fundamentalmente, que o Enderson é uma pessoa que vem da faculdade, do estudo, e eu não tenho dúvidas de que ele é um estudioso do jogo, pois vi isso no dia a dia. É uma pessoa que consegue adquirir muito bem algumas ideias que pairam no futebol atual e trazer isso para o contexto enquanto treinador. Acho que isso é fundamental”.

Na opinião de Rui, a didática de Enderson facilita na transmissão de ideias e orientações aos jogadores. “Não é apenas pelo conhecimento que tu tens, isso não faz um professor ser muito bom, e sim o fato de conseguir transmitir o bom conhecimento aos seus alunos, no caso, os atletas. Nessa parte é que eu acho que o Enderson tem como fundamental. Consegue fazer a equipe crescer individualmente e coletivamente. Temos vários casos, como o Goiás, quando conquistou o título da Série B, e o próprio América. Ao longo do percurso houve elementos que se projetaram, se desenvolveram e cresceram com o Enderson enquanto treinador”.

O ex-analista do América se diz convicto no sucesso de Enderson no Cruzeiro, desde que a diretoria lhe dê tempo e condições de desenvolver um projeto em longo prazo, tal como ocorreu em Goiás e América.  “É uma pessoa que acredita no processo de treino, se equilibra e constrói, acabando por produzir no jogo aquilo que faz durante a semana, tanto no ponto de vista técnico/tático quanto no tático/estratégico. Nesses pontos, o treino para ele é fundamental. As equipes que derem tempo ao Enderson vão ter sucesso em médio a longo prazo”.

Enderson Moreira estava invicto à frente do Ceará em 2020 - seis vitórias e quatro empates -, quando aceitou a oferta do Cruzeiro. Ele levou para a Toca o auxiliar técnico Luís Fernando Flores - ex-camisa 10 e ídolo celeste na década de 1990 -, o preparador físico Edy Carlos e o treinador de goleiros Ailton Serafim. Nas primeiras conversas com o diretor de futebol Ricardo Drubscky e o interlocutor do núcleo gestor Carlos Ferreira Rocha, o comandante informou que o grupo precisaria de pelo menos cinco contratações para a Série B, até então prevista para começar em maio. Se a Raposa obtiver o acesso à primeira divisão, o treinador terá o contrato renovado para dezembro de 2021.

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